Usuários do transporte intermunicipal da Região Metropolitana criticaram o aumento da tarifa, que passou a valer nesta terça-feira (1º). GZH esteve em três terminais de Porto Alegre, e conversou com passageiros que disseram não achar a medida justa. O reajuste é de 6% para transporte comum e até 24,09% para as modalidades direto, semidireto, executivo e seletivo.
Uma das principais reclamações é de que os serviços do transporte não condizem com o valor ofertado. A técnica de enfermagem Ângela Cristina Corniel, 38 anos, que utiliza ônibus para se deslocar do bairro Olaria, em Canoas, para Porto Alegre, destaca que, mesmo com a passagem mais cara, a qualidade dos coletivos seguem abaixo do esperado.
— Os ônibus são péssimos. Eles estão quebrando e atrasando sempre. Se tu tá cobrando um valor, tu tem que prestar um serviço digno. E eles não fazem isso — afirma.
Além da qualidade dos veículos, a baixa oferta de ônibus é outro fator que incomoda a população. A também técnica de enfermagem Renata Panasolo, 51 anos, e a estudante Regina da Rosa, de 38 anos, aguardam juntas todos os dias pela linha São Tomé, que liga o terminal da Rua da Conceição, no Centro Histórico da Capital, com o interior de Viamão. São mais de duas horas aguardando pelo transporte por não haver outros veículos entre o meio-dia e 15h.
— Onde a gente mora o ônibus demora a vir. Ou a gente tem que pegar o municipal, ou ficamos esperando aqui na parada — reclama Regina, após duas horas e meia de espera.
— Isso é de se indignar, porque aumenta a passagem mas não aumento a oferta de ônibus — salienta Renata.
A reportagem questionou a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) sobre os itinerários da linha São Tomé. Segundo o coordenador operacional do órgão, Danilo Rossi Landó, a falta de oferta se justifica pela baixa demanda nos chamados períodos entre-picos.
— O transporte metropolitano costuma ser pendular, a maioria das pessoas utiliza no início da manhã e no final da tarde. Nos outros horários, menos gente acaba utilizando os ônibus — afirma. Ele diz que, no caso de Viamão, há uma parceria com a prefeitura para que ônibus municipais substituam algumas linhas, deixando os passageiros na RS-040, onde há um maior fluxo de coletivos em direção à Porto Alegre.
Por fim, os passageiros argumentam que, em razão da crise financeira gerada pela pandemia, os trabalhadores não estão recebendo aumento, e que, portanto, não seria justo elevar o preço da tarifa. Por esse mesmo motivo, a Metroplan diz ter mantido o antigo valor por dois anos.
A diarista Paula Adriana, 46 anos, diz que o valor mais alto tem incomodado sua patroa, responsável por assegurar o transporte da funcionária.
— Olha o salário e olha a passagem. A patroa já começou a reclamar do valor da passagem. Vão pagar como? — questiona.
O valor total da nova tarifa varia de acordo com o destino. A passagem mais comum, usada por cerca de 40% dos usuários, custa R$ 5,60. Com o reajuste de 6%, o valor sobe para R$ 5,95. Em um ônibus executivo da linha Sogil, de Gravataí, a tarifa subiu de R$ 13,15 para R$ 15,90.
O transporte coletivo intermunicipal atende 34 municípios da Região Metropolitana. Cerca de 220 mil passageiros são transportados diariamente pelo serviço.
O reajuste repassado ao transporte intermunicipal comum é apenas um quarto do aumento calculado para o setor em 2023. Em 2022, quando não houve reajuste, o percentual acumulado de aumento calculado pelo governo estadual já era de 20,74%. Para evitar o aumento, foi aplicado um subsídio de mais de R$ 80 milhões, sendo R$ 42 milhões em recursos estaduais e R$ 38 milhões do governo federal.
Para 2023, os cálculos elaborados pela Metroplan apontam uma defasagem de mais 2,77%. Por isso, conforme o governo, o reajuste total neste ano deveria ser de mais de 24%, valor que será repassado somente para as modalidades direto, semidireto, executivo e seletivo. O reajuste de 6% no transporte comum permanece ao menos até janeiro de 2024, quando o percentual será reavaliado.