Criada como startup em 2019 e nas ruas de Porto Alegre desde 2020, em meio ao confinamento causado pela pandemia, a Grilo completa três anos realizando uma ação solidária e mirando saltos maiores para seus triciclos elétricos: ao comemorar aniversário de atuação na capital gaúcha, a empresa tenta começar a fazer barulho também em São Paulo.
Para marcar os três anos de operação, a Grilo realiza — até o próximo dia 20 de julho — ação em que leva gratuitamente donativos até a central da empresa, como foi feito no dia de estreia. Depois, materiais como itens de higiene pessoal e cobertores e roupas em bom estado de conservação serão encaminhados para a Campanha do Agasalho da prefeitura.
Atualmente a frota da empresa é composta por 16 veículos em Porto Alegre e 20 em São Paulo. Mas nem todos estão disponíveis para viagens a todo momento. Há ainda a possibilidade de empresas contratarem o serviço de maneira contínua, separando um dos triciclos para demandas específicas, por um horário combinado diretamente com a Grilo.
Os motoristas seguem um treinamento específico e têm Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do tipo A (condução de motocicletas). Os veículos não têm capacidade de ultrapassar a velocidade de 50 km/h.
— Tem várias limitações, mas o que mais gosto é a noção de ecologia, sentir que estou fazendo um bem maior para o meio ambiente. Nenhuma riqueza monetária é tão valiosa quanto o ar que temos. Quando usamos um veículo de energia limpa, estamos reduzindo a emissão de gases que fazem mal para a terra. Os governos deveriam incentivar mais este tipo de método de transporte — elogia o engenheiro de segurança no trabalho Carlos Wengrover, 66, morador do Moinhos de Vento e adepto ao transporte em veículos de plataformas de deslocamento desde a chegada da pioneira Uber, em 2015.
Tanto Wengrover quanto os condutores consultados por GZH afirmam que a viagem à bordo de um Grilo é uma experiência diferente para a maioria da população. A começar pelo pedido da viagem por meio do aplicativo, quando o som característico de um grilo — tecnicamente denominado de "estrídulo" — é emitido pelo aparelho no momento em que o condutor aceita o chamado.
Na capital gaúcha, os deslocamentos a bordo dos triciclos elétricos podem ser feitos pelos bairros Praia de Belas, Menino Deus, Centro Histórico, Cidade Baixa, Bom Fim, Floresta, Azenha e parte do Moinhos de Vento. Já na maior metrópole do país, a região escolhida para operar fica nos bairros Cerqueira César, Consolação, Jardins, Paraíso e Bela Vista.
Em ambos os casos, segundo a empresa, o critério de escolha é fornecer o melhor serviço possível para deslocamentos curtos.
— A mobilidade de curta distância, que é o nosso produto, tem grande potencial na região que vamos operar na capital paulista. Vamos focar em uma área por onde circulam 1 milhão de pessoas por dia, incluindo alguns dos principais tomadores de decisão da economia nacional. Tanto lá (São Paulo) quanto aqui (Porto Alegre), precisamos considerar a Grilo uma alternativa para transporte por ser sustentável, mais barata, com impacto social e segura — argumenta o CEO da empresa, Carlos Novaes.
Experiência pelas ruas de Porto Alegre
Nesta segunda (10), a reportagem de GZH fez duas viagens de Grilo. Na primeira, levando donativos para a campanha, até a garagem dos triciclos, e na segunda, voltando para a sede do Grupo RBS.
Os triciclos têm cinto de segurança, trava elétrica nas quatro portas, sistema interno de ventilação, luzes de segurança e de sinalização externa e espaço para duas pessoas independente da idade no banco traseiro — ou uma pessoa e um animal de estimação.
O barulho do motor de marcha única abafa as conversas que acontecem dentro do Grilo. Em termos de desempenho, não houve diferença no tempo de deslocamento em relação a carros convencionais. Já no preço, a viagem entre as avenidas Voluntários da Pátria e Érico Veríssimo custou R$ 13 com o Grilo, enquanto custaria R$ 17 com um aplicativo de automóvel movido a gasolina no mesmo horário.
Nas duas viagens realizadas, o trajeto foi marcado por desrespeito de outros condutores, que invadiram indevidamente o espaço do Grilo na via. Os motoristas dos triciclos cobertos disseram que a situação é corriqueira.
— Não respeitam mesmo. Fecham a gente, temos que estar atentos sempre — comenta Miguel Breitenbach, 47, condutor de Grilo há dois anos.
— Motociclistas nos enxergam, mas motorista de ônibus e taxista reclamam muito da gente — complementa Lenoel Gonçalves, 35, vigilante noturno que trabalha na Grilo há 10 meses.
A média comunicada por eles é de 12 a 19 viagens por dia. A jornada de 14 horas diárias que Miguel desempenha conta ainda com quatro retornos até a central para repor a energia da bateria, que tem autonomia para rodar cerca de 60 quilômetros por carga. Caso alguém fique empenhado na rua sem motor, outro Grilo vai buscá-lo.
Cada "pulo" — nome dado pela Grilo às viagens — custa a partir de R$ 4,89, pagos somente via cartão de crédito. O preço é nove centavos mais caro do que uma passagem de ônibus em Porto Alegre. Aproximadamente 60% do valor cobrado por cada viagem é repassado ao condutor — contratado em regime de Microempreendedor Individual (MEI).
Os Grilos não operam na madrugada. A partir das 6h, motoristas podem ir até a garagem onde ficam os triciclos elétricos, na Avenida Voluntários da Pátria, na Zona Norte, e começar a trabalhar. Todos precisam retornar para lá até as 23h. A empresa registra uma média que varia entre cem e 120 "pulos" por dia útil, com queda significativa deste número nos finais de semana e feriados.
— Tem condutores que chegam todos os dias no mesmo horário, pegam o mesmo Grilo que já conhecem, enquanto outros fazem turnos alternados e não têm preferência por um triciclo específico. Todos funcionam perfeitamente bem — diz Anderson Silveira, 43 anos, supervisor da central de carregamentos e garagem.
Segundo Anderson, há dois registros de acidentes envolvendo danos materiais ou físicos em Grilos nestes três anos de operação. Novaes afirma que foram cobertos 550 mil quilômetros em "pulos" — que caso tivessem sido feitos em carros movidos a gasolina teriam custado ao meio ambiente o dano de um hectare (um terreno quadrado com mil metros de extensão em cada lado) de árvores derrubadas.
Oportunidades
O banco de condutores contratados pela Grilo está em constante manutenção. Assim, interessados em fazer uma parceria podem se candidatar por meio do site da plataforma.