Se uma cidade for boa para crianças de 95 centímetros, será boa para todos. Esse é o lema da Urban 95 Academy, iniciativa da fundação holandesa Bernard Van Leer que desenvolve e compartilha experiências que funcionam na primeira infância. E a cidade Canoas integra esse projeto, que tem como objetivo pensar as cidades sob a perspectiva de crianças pequenas e de seus cuidadores.
Em 2021, uma equipe da prefeitura participou das aulas online da iniciativa, durante seis semanas, junto com representantes de outras 29 cidades do mundo. Na conclusão do curso, Canoas apresentou um novo projeto com estratégia para criar uma cidade melhor para a primeira infância, com enfoque na mobilidade urbana. Foram diversas atividades e projetos realizados pelas Secretarias da Educação e de Trânsito visando o bem-estar e a qualidade de vida das crianças.
— Cada um das cidades mostrou os problemas, como resolver e como pode ser no futuro. Nós, de Canoas, mostramos como melhorar a mobilidade urbana em torno das escolas. E não é só sobre carros, a ideia é desde de pedestres e bicicletas até o transporte coletivo, como melhorar todos os modais próximos de escolas — explica a engenheira de tráfego da Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade (SMTM), Marcelle Ribeiro.
Com base no desempenho do trabalho e participação durante as aulas, a equipe de Canoas foi selecionada para uma semana de aulas presenciais, patrocinadas pelo projeto, na London School of Economics, em Londres, no Reino Unido, de 10 a 14 de julho. Além das representantes de Canoas, equipes de mais nove cidades do mundo irão participar das aulas. Do Brasil, outra cidade que foi escolhida é Boa Vista, de Roraima.
Conforme Tânia Batistela Torres, engenheira de tráfego da SMTM, que também fez o curso, para a elaboração do trabalho foi usada uma ferramenta conhecida entre os brasileiros, o questionário. Os cuidadores das crianças tiveram que responder o que é preciso encontrar no entorno da escola para que fossem elencadas, pela equipe, quais são prioridades no que diz respeito à melhorias dentro do eixo da mobilidade urbana. A pesquisa foi aplicada em regiões de maior vulnerabilidade social de Canoas.
— Aplicamos um questionário para identificar essas prioridades antes da melhoria e, depois, também se as ações repercutiram numa melhoria na percepção das pessoas que estão usando o entorno — explica Tânia.
Dentre as questões, os cuidados puderam responder o que faz um ambiente adequado em relação ao tráfego, seguro do ponto de vista de segurança pública, confortável com espaços para sentar, com sombra, com rampas de acesso, entre outros pontos.
— Em Canoas, o principal ponto citado foi em relação as calçadas para que os pedestres possam andar — diz Tânia.
Ano passado, ações de mobilidade urbana foram implementadas através da proposta em duas escolas de Educação Infantil, num formato de piloto do projeto. Na Rua 17 de abril, próximo à escola Cara Melada, no bairro Guajuviras, a faixa de segurança foi pintada com listras nas cores amarela, rosa, vermelha, azul e branca pela comunidade escolar, em parceria com as equipes da SMTM. A faixa chamou atenção dos motoristas que passavam pela região. A outra ação ocorreu na Rua Brincante — a Rua Ernesto Che Guevara, também no Guajuviras _ que foi adaptada com paisagismo, pinturas, desenhos e outros recursos para resgate do brincar ao ar livre. Atualmente, a rua não está no mesmo estado de conservação, devido ao mau tempo e cuidados.
— A Rua Brincante foi um piloto entregar uma rua para as comunidades e pessoas brincarem, teve plenarinhas para o debate do que queriam, bancos, cores, e desenvolvemos o projeto conforme a comunidade. E foi de muitas mãos e super bem aceito. Agora estamos começando a aplicar em outros lugares — afirma Marcelle.
Segundo as engenheiras, em Londres, serão debatidas técnicas de implementação, além de visitas em lugares que tenham intervenções feitas com especialistas da área.
— Essa parte do curso foca em como construir a mobilização com a comunidade, capitar recursos, implantar o projeto e medir qual o efeito de ter implantado — diz Tânia.
Políticas para a primeira infância
A iniciativa Urban95 pretende incorporar as lentes da primeira infância na gestão das cidades, a partir de ações que promovam interações positivas, contato com a natureza nos espaços urbanos, proximidade entre serviços e mudanças duradouras nos cenários que moldam os primeiros anos da vida de nossos cidadãos. Segundo a supervisora de projetos do gabinete do prefeito, Juliana Cristina Silva, a Urban tem como foco em crianças até três anos, por isso, 95 centímetros. No entanto, Canoas ampliou a ideia até os seis anos, para englobar toda a primeira infância, que é do zero aos seis anos.
— Canoas e mais 24 municípios do Brasil fazem parte da rede Urban. A fundação nos subsidia para implementar políticas para a primeira infância. E este projeto que vai para Londres é sobre sinalização viária, mobilidade urbana, que corresponde a apenas um dos eixos. Temos outras políticas públicas, projetos sobre comunicação não violenta, as plenarinhas nas escolas, em que conversamos com as crianças para entender como enxergam a cidade, porque elas não são futuros cidadãos, mas já são cidadãos e tem direitos. Projetos que visam incluir o olhar da crianças — explica a supervisora de projetos.
Juliana exemplifica uma das ações já implementadas nas escolas, que são os pátios naturalizados — pracinhas com objetos naturais, onde os pequenos tem contato com a terra, madeira, árvores, entre outros. A proposta da ação é de que, além das crianças terem esse momento para brincar com a natureza, elas pudessem ter a liberdade de não sofrerem a interferência por parte dos adultos nas suas novas descobertas
O Plano Municipal pela Primeira Infância (PMPI), com todos os dados dos município e que inclui ações para os próximos 10 anos, está em fase de finalização e será publicado em breve, conforme Juliana.