Pequenos triciclos verdes começaram a dar seus pulos pelo bairro Moinhos de Vento na manhã deste sábado (11). Com o tamanho equivalente a 60% de um carro popular e sobre três rodas, os Grilos provocam olhares, registros de celulares e perguntas para as motoristas nas sinaleiras. No primeiro dia do novo sistema de transporte da Capital, GaúchaZH foi convidada para um passeio para testá-lo.
Como estavam prontos para começar as operações desde abril, os fundadores da Grilo buscaram uma forma de utilizar e exibir o serviço mesmo em meio à pandemia. Enquanto o coronavírus estiver circulando, o Grilo não funcionará como um transporte qualquer. Os triciclos elétricos estão à disposição gratuitamente no Moinhos de Vento e arredores para fazer doações à ONG Cozinheiros do Bem e favores a integrantes do grupo de risco da covid-19, como entregas. Para utilizá-lo, agora e quando for pago, é preciso baixar o aplicativo Grilo Mobilidade.
– Aproveitamos o momento para fazer uma ação solidária, e estamos conversando com mais ONGs. Quando estiver operando normalmente, a ideia é que empresas também possam fazer parcerias com a Grilo para a divulgação de produtos, especialmente ligados a sustentabilidade – declara Carlos Novaes, gerente-geral da empresa.
O veículo – que lembra os tuk tuks asiáticos, mas com cabines fechadas – foi pensado para o transporte de pequenas distâncias, trajeto apelidado pelos especialistas em mobilidade de "última milha". Por isso, tem capacidade para no máximo duas pessoas e trafega a cerca de 50 km/h. É totalmente elétrico, reforçando o apelo de se oferecer como opção sustentável de transporte. Do ponto de vista financeiro, uma das vantagens para a empresa é não pagar IPVA.
Mesmo pequeno, o Grilo tem uma porta para passageiros ampla e o piso fica bem próximo do solo, tornando ele uma boa opção para pessoas com pequenas problemas de locomoção, como idosos. O espaço traseiro é generoso para uma pessoa e viável, porém apertadinho, para duas. Também para melhor atender os idosos, os motoristas dos Grilos são treinados para ajudar no embarque e equipados com um generoso guarda-chuva.
No teste efetuado por GaúchaZH, da Cidade Baixa até a garagem da empresa, na Rua Voluntários da Pátria, o único empecilho foi que o veículo chacoalha um bocado – também por isso, é equipado com alças nas portas e sobre os vidros traseiros. Porém, como transita em baixa velocidade, o problema é menos incômodo.
Atualmente há cinco Grilos em operação e outros 13 na garagem prontos para circular assim que houver demanda. Os motoristas serão remunerados proporcionalmente às corridas – neste primeiro momento, subsidiados pela empresa, depois pelos passageiros com em um app de transporte qualquer. A diferença em relação aos demais aplicativos é que o custo da operação e do veículo fica com a empresa. Os motoristas precisam ter carteira AB para dirigir um Grilo, que tem o sistema de frenagem igual ao de uma moto.
Dos cerca de R$ 40 mil que custa cada veículo, quase metade corresponde à moderna bateria de lítio, semelhante a dos celulares. Os Grilos dormem conectados em um sistema de abastecimento lento, de quatro a oito horas, e acordam capazes de percorrer cerca de 150 quilômetros sem nova carga. Se for preciso mais bateria do que isso em um dia, eles devem passar pela garagem da Voluntários para conectar o carrinho no abastecimento rápido, um equipamento que em 20 minutos dá uma carga de 80%.
O pagamento sera feito pelo app, somente com cartão de crédito. O preço das corridas ainda não é divulgado pela empresa, mas Novaes promete ser competitivo para viagens curtas.
- Viemos para oferecer uma nova solução para o mesmo problema das patinetes, o deslocamento curto, mas sem cometer os mesmos erros do que elas: que era ser muito caro, passível de furto e nada inclusivo para a população idosa.
Porto Alegre é a primeira de sete capitais almejadas pela empresa. Foi escolhida como piloto tanto pelas facilidades –distâncias pequenas, demanda de atendimento à população idosa e boa receptividade à inovação – quanto pelos problemas, como a qualidade do asfalto e o trânsito desafiador e com inclinações.
O serviço começa a operar em 2,6 quilômetros de distância da esquina das ruas Padre Chagas e Dinarte Ribeiro. A ideia é ampliar o raio dos pulos conforme os Grilos caírem no gosto do porto-alegrense.