Menos de um ano depois da estreia na Capital, o South Summit voltou a transformar o Cais Mauá, em Porto Alegre, na casa da inovação. Entre quarta (29) e sexta-feira (31), milhares de pessoas atravessaram o pórtico para fazer contatos, ouvir referências mundiais em tecnologia e inovação, além de desfrutar de uma das paisagens mais bonitas da cidade.
Assim como em 2022, a segunda edição cumpriu o prometido em conteúdo, tanto em abrangência quanto em profundidade. Empreendedorismo social, tendências financeiras, inteligência artificial e recursos tecnológicos foram tema para 700 palestrantes de diversas nacionalidades em oito palcos.
Entes públicos e privados celebraram a concentração de empreendedores e especialistas, marcando mais um passo importante na caminhada de Porto Alegre rumo a um futuro de crescimento financeiro, com atração de investimentos e retenção de talentos qualificados.
As dificuldades meteorológicas e de estrutura no Cais Mauá foram, outra vez, os maiores desafios dos organizadores, para quem, contudo, a missão foi cumprida novamente.
— A variável meteorológica é impossível de controlar. Passamos os últimos meses pedindo para que não chovesse, e isso foi positivo, ainda que tenhamos vivido os extremos do clima na cidade. É um evento aberto, em uma localização que é nossa maior fortaleza e fraqueza ao mesmo tempo, pois temos uma série de limitações em relação ao patrimônio histórico do cais — comentou o CEO Thiago Ribeiro, projetando o desenvolvimento para 2024:
— Entregamos uma qualidade altíssima de palestrantes, o que gerou eventos lotados e que acabou deixando gente de fora, infelizmente. Vamos trabalhar com a mesma seriedade que tivemos para melhorar este evento em relação ao evento passado, debater as questões arquitetônicas e de engenharia, e buscar as próximas soluções.
Durante os três dias de evento, GZH circulou pelas áreas dos armazéns do cais e ouviu relatos de quem fez parte do evento, em diferentes frentes, e elenca a seguir os pontos destacados.
O que deu certo?
- Nível de palestrantes e ideias novas
Especialistas com décadas de experiência e empresas com atuação global se conectaram em encontros certeiros. Representantes de áreas executivas do governo puderam ouvir propostas inovadoras trazidas por startups com estruturas e soluções inovadoras, um dos principais objetivos para a organização do evento.
— Já fui em feiras de inovação no México, nos Estados Unidos e na Espanha. A variedade de temas, duração e formato das palestras aqui no South Summit me agradou demais — comentou a mexicana Marisol García, 44 anos, jornalista do portal emprendedor.com, que conheceu Porto Alegre e a Serra ao longo da semana.
- Conexões
Escorado na grade que separa o cais do Guaíba, Ramón Hoyo, 30 anos, explicava a Marisol como sua startup Alis poderia limpar a água do estuário. O engenheiro em biotecnologia desenvolveu um modelo de filtro de água em nível industrial que usa a fotossíntese realizada por algas para consumir agentes contaminadores da água e torná-la própria para uso em funções que não envolvem o consumo.
Ele e outros donos de startups de todo o mundo foram trazidos ao evento por uma comissão britânica. No cais, ele encontrou secretários de meio ambiente de Porto Alegre e do Estado para mostrar suas soluções desenvolvidas em Monterrey, cidade mexicana que enfrenta uma crise hídrica, como o Rio Grande do Sul.
— É o pôr do sol mais bonito do mundo, sim — exaltou Ramón, encantado com o fim de tarde no Guaíba.
- Paisagem deslumbrante
Se assistir às explanações dentro dos pavilhões muitas vezes custou uma longa espera sob o sol, a recompensa vinha quando uma brisa soprava do Guaíba. Se dependesse da criadora do South Summit Madrid, Maria Banjumea, a energia do cais iria com ela na bagagem de volta para a Espanha:
— Gostaria de levar estes sorrisos de gente que está dedicada a fazer tudo que fazemos aqui em busca de um planeta melhor a cada dia. E queria levar também um pouco do cais e do Guaíba comigo.
- Praça de alimentação e interações comerciais
Quem investiu em um espaço para comercializar ou oferecer gratuitamente produtos diz ter feito um bom negócio. De acordo com vendedores do Cachorro do Bigode, da Capital, e da vinícola Lídio Carraro, de Bento Gonçalves, as vendas foram boas. Na Panvel, estande que promoveu ações promocionais e ofereceu gratuitamente água, café, barrinhas de cereal e protetor solar de marca própria, o movimento também foi constante.
A vinícola Lidio Carraro, única que vendeu vinhos no evento, comemorou aumento de 20% nas vendas em relação a 2022. A alta temperatura impulsionou o consumo de espumantes — uma empresa, inclusive, contratou um "happy hour" que esgotou os estoques com 130 pessoas, dizem os vendedores.
No espaço onde empresas e universidades montaram estandes para demonstrar suas iniciativas, o movimento também foi constante. Pequenas filas se formavam para conhecer as atrações oferecidas.
— Não parece virtual. Estava em uma sala de reuniões com um tablet onde um avatar me representava em uma apresentação. Isso traz mais aproximação com quem estiver no outro lugar conectado pela chamada, e por ser novidade dá um ganho de produtividade em apresentações — exclamou Thaise Cardoso, 34, de Nova Santa Rita, depois da imersão em um ambiente digital responsivo, no formato do Metaverso, levado para o evento com a Meta4Chain.
Problemas de 2022 solucionados
- Controle de lotação de espaços
Nesta edição, o controle de espectadores nas arenas apresentou melhora. Durante os eventos mais disputados, trabalhadores responsáveis pelo atendimento ao público agiam com maior atenção em relação às pessoas que entravam e saíam dos espaços. Em diversos momentos, colaboradores do evento guiavam os visitantes para cadeiras disponíveis na plateia.
- Acesso ao cais
O controle de acesso ao complexo do evento pareceu mais fluido neste ano, com diversos trabalhadores responsáveis pela verificação da identidade dos visitantes em um ponto antes da entrada principal. No ano passado, em alguns dos dias, um dos principais pontos de checagem ficava logo na entrada dos galpões, o que criava pontos de afunilamento de fluxo.
O que ainda precisa melhorar
- Exposição aos eventos climáticos
As altas temperaturas nos três dias de evento desafiaram o sistema de ar condicionado nos locais menores e a circulação de ar nos pavilhões lotados. A organização orientou que os visitantes utilizassem protetor solar.
— Conheço o calor, sabia que teria que me proteger de algum jeito. Trouxe o guarda-chuva apenas no terceiro dia, mas valeu a pena pelas palestras — comentou Mari Luana Pozzobon, 25 anos, CEO e fundadora da Sou Parte, enquanto esperava na fila para um evento sobre Marketing e Inteligência Artificial segurando um guarda-chuva que a protegia do sol.
- Acessibilidade
A organização explorou o uso de piso de plástico em alguns pontos do complexo, como o acesso ao Growth Stage. No entanto, por ser montada em um formato de encaixe de peças, essa estrutura acabou sofrendo com o fluxo alto de pessoas. Pontos instáveis, com peças se movimentando e desníveis, acabaram impactando na locomoção.
Parte do trajeto entre o Cais Embarcadero e a entrada principal do evento conta com piso irregular. Em um trecho, existe um terreno com assoalho de madeira. No entanto, parte da estrutura também sofre com instabilidade diante do grande fluxo de pedestres.
- Filas
O problema de grandes filas voltou a aparecer, principalmente nos locais com limitação maior de público, como o Growth Stage. Como alguns ambientes receberam diversos painéis com cerca de 30 minutos de duração, o intervalo entre uma palestra e outra não era suficiente para esvaziar o espaço e receber novos espectadores. Os colaboradores atuaram com mais rigor na contenção da lotação, mas a dinâmica de apresentação dos eventos alimentou ainda mais as filas.
De acordo com a assessoria do Hospital Moinhos de Vento, as equipes médicas de prontidão no evento atenderam cerca de 90 pessoas com sintomas como mal estar, tontura e dor de cabeça por conta do calor ao longo dos três dias.
Na parte da alimentação, apesar de oferecer maior variedade de alimentos, o problema das filas também persiste. O fato de os consumidores dividirem espaço com pessoas que deslocam de um painel para outro gera engasgo no fluxo no complexo.
- Sistema de som
Novamente, como em 2022, o palco do pavilhão The Next Big Thing apresentava dificuldades sonoras para que o público entendesse o palestrante falando — nas ocasiões em que a reportagem tentou, e nos relatos de pessoas ouvidas pela reportagem, não era possível localizar a tradução em português disponível no app durante alguns eventos". Os próprios competidores do torneio de startups perderam segundos de suas apresentações cronometradas pedindo para que os juízes repetissem as perguntas que o avaliariam.