O que os parques Marinha do Brasil, Moinhos de Vento (Parcão) e Farroupilha (Redenção) possuem em comum com a Trensurb e com o Túnel de Conceição, em Porto Alegre? Além de alguns desses locais serem cartões-postais da cidade, há um elemento que une os lugares citados – todos sofreram recentemente furto de cabos de energia. Esse tipo de crime tem se mostrado uma praga na Capital, ao não poupar pontos de intensa circulação de pessoas nem ruas mais desertas.
Veja abaixo as principais propostas para enfrentar o problema.
Prefeitura aposta em lei mais dura
O prefeito Sebastião Melo demonstra inconformismo com o problema. O chefe do Executivo municipal não esconde o desconforto com a farra do furto de fios na capital gaúcha. Ele entende que um caminho para a solução do problema passa por uma lei mais dura para evitar o crime.
— Estamos vivendo tempos difíceis na cidade, do ponto de vista de furto de cabos, sejam de cobre ou alumínio, e depredação de postes. Estamos fazendo dentro da lei o que é possível. Colocamos mais guardas na rua, fizemos parcerias com as polícias civil e militar, e fechamos muitos ferros-velhos que acabam receptando esses produtos. Mas achamos que isso é insuficiente porque a lei é frouxa. A pessoa é pega furtando um produto desses e sai da delegacia rindo da cara da gente. O que vamos fazer é mandar uma lei para a Câmara Municipal dizendo que o material precisa ter procedência. Aí a fiscalização vai agir. Se não tiver procedência, o estabelecimento será fechado — garante Melo, que chamou os receptadores de fios furtados de “vigaristas” na semana passada.
Secretaria indica substituição de material e concretagem
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) lida diariamente, em parceria com a IPSul – consórcio vencedor da Parceria Público-Privada (PPP) de iluminação pública da cidade –, com o furto de fios na Capital. O secretário da pasta, Marcos Felipi Garcia, compartilha a atual situação e o que tem sido feito para combater o problema:
— No início deste ano, houve um aumento significativo da quantidade de materiais levados. De janeiro a abril, foram mais de 1,4 mil metros de cabos e 176 luminárias levadas na cidade — revela o secretário, reconhecendo que há dificuldade para combater o problema em três parques da cidade: Marinha do Brasil, Parcão e Redenção, todos alvos recentes dos marginais.
A pessoa é pega furtando um produto desses e sai da delegacia rindo da cara da gente
SEBASTIÃO MELO
Prefeito de Porto Alegre
Para conter a ação dos ladrões, segundo Garcia, o material de cobre (estimado em R$ 40 o quilo, atualmente) tem sido substituído por alumínio. E os parques estão sendo tratados de acordo com suas peculiaridades. Apenas na Redenção, o prejuízo foi de R$ 600 mil.
— Começamos a colocar a iluminação cênica na Redenção um pouco antes do aniversário de Porto Alegre. Infelizmente, levaram 56 refletores em dois ou três dias. Hoje, a iluminação cênica não existe. Prevemos a instalação de refletores concretados no chão, para que isso dificulte a ação dos bandidos — antecipa o secretário, ressaltando que as peças devem chegar em 40 dias.
Sobre o Marinha do Brasil, também existe um projeto antifurto em desenvolvimento:
— Estamos escavando a fiação um pouco mais a fundo, com cerca de um metro de profundidade, e concretando a passagem dos fios e as caixas de passagem. E prevemos concretar a base dos postes porque na última ação foram seis postes derrubados para levarem as luminárias — relata, dizendo que 2,6 mil metros de redes subterrâneas estão sendo desenvolvidas no parque, além de postes mais altos nas partes centrais do espaço público.
O que é jornalismo de soluções?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Por sua vez, o Parcão, situado no bairro Moinhos de Vento, já possui uma rede subterrânea, o que dificulta o roubo de cabos. Porém, as luminárias são alvo de ladrões por estarem localizadas em postes mais baixos. Novas luminárias já foram encomendadas para serem recolocadas nos pontos atacados.
As estratégias da prefeitura para coibir a ação de bandidos nos parques passam por dificultar a extração do material visado no ato do crime e ampliar a presença da Guarda Municipal, que, além disso, já realiza operações contra os receptadores dessas peças nos ferros-velhos da cidade.
IPSul reforça estruturas metálicas
A concessionária tem desenvolvido soluções para dificultar a ação dos criminosos. O diretor-executivo da IPSul, Raimundo Garcia Dantas, conta que uma proposta é reforçar as estruturas metálicas no piso:
— Buscamos dificultar as ações dos ladrões desenvolvendo sistemas antifurto que protejam as luminárias de solo — resume.
Segundo Dantas, o prejuízo mensal ocasionado por furtos de cabos, projetores e danos nos postes fica em torno de R$ 50 mil.
Guarda Municipal amplia atuação e sugere mais fiscalização
A Guarda Municipal informa que tem atuado para coibir a ação dos ladrões de fios e cabos. Na madrugada desta segunda-feira (2), dois homens foram detidos furtando fios de cobre de um aparelho de ar-condicionado em um edifício na Avenida Cristóvão Colombo, no bairro Floresta. O crime foi flagrado por agentes do Centro Integrado de Comando de Porto Alegre (Ceic). Os ladrões foram encaminhados para a área judiciária do Palácio da Polícia e indiciados por furto qualificado.
O secretário municipal de Segurança, coronel Mário Ikeda, lista o que pode ser feito para ajudar a solucionar a questão.
— A fiscalização nos pontos de receptação desses materiais, como os ferros-velhos e as sucatas, pode ser aumentada. As câmeras de videomonitoramento, como as existentes na orla do Guaíba, que é o lugar mais patrulhado da cidade, ajudam também — avalia Ikeda, salientando que a iluminação, a limpeza e a movimentação intensa de pessoas na Orla são outros fatores que inibem os bandidos.
Polícia Civil pretende mapear e intensificar ações
O delegado regional da Polícia Civil em Porto Alegre, Cleber Lima, cita a recente operação em conjunto com diversos órgãos que fiscalizou 27 pontos, como sucatas e ferros-velhos, e notificou 12 pessoas, que tiveram o alvará de funcionamento suspenso por problemas como falta de Plano de Prevenção Contra Incêndios (PPCI).
— Em um dos locais, foi apreendido material ilícito e um homem acabou preso por porte ilegal de arma. Isso não significa que ele ficou preso. Nesses casos, geralmente respondem ao inquérito em liberdade — relata o delegado, mencionando aspectos da legislação.
Para o delegado, uma solução seria modificar a lei. As pessoas detidas deveriam, em sua opinião, seguir privadas de liberdade. O policial também diz que a população precisa colaborar, por meio de denúncias, e que o combate aos receptadores será intensificado por parte da Polícia Civil, que pretende mapear e intensificar as ações.
CEEE substitui cobre por alumínio e quer identificar ladrões
Em Porto Alegre, conforme os registros da CEEE Grupo Equatorial, os furtos são pequenos, de cerca de 30 metros a 40 metros de fios de cobre por vez. Em 2022, até abril, já foram registrados 622 casos na cidade, que resultaram em 21 quilômetros de cabos furtados ou sete toneladas do produto, ocasionando um prejuízo de aproximadamente R$ 1,5 milhão e prejudicando 4,3 mil clientes.
Como soluções, a companhia trabalha em parceria com a Polícia Civil e a Brigada Militar para identificar os bandidos. Também pede para que as pessoas denunciem o que perceberem de movimentação anormal perto da rede de fiação. Ao mesmo tempo, a empresa vem substituindo os cabos de cobre pelos de alumínio, produto menos procurado no mercado.
Tanto na Capital quanto na área da concessão, os números mais do que dobraram na comparação do mesmo período entre 2019 e 2022. Confira os dados da companhia:
Em Porto Alegre (janeiro a março)
- 2019 - 257 ocorrências
- 2020 - 297 ocorrências
- 2021 - 448 ocorrências
- 2022 - 569 ocorrências
Na concessão (janeiro a março)
- 2019 - 663 ocorrências
- 2020 - 809 ocorrências
- 2021 - 1.065 ocorrências
- 2022 - 1.504 ocorrências
Projeto na Câmara Municipal prevê fios subterrâneos
Tramita na Câmara Municipal um projeto de lei sobre furtos de cabos. Segundo a proposta, as redes de infraestrutura de cabeamento para a transmissão de energia elétrica, telefonia, comunicação de dados via fibra óptica e televisão a cabo deverão ser apenas subterrâneas. Dessa forma, os fios aéreos deixariam de realizar essa função daqui a alguns anos. De autoria dos vereadores Fernanda Barth (PSC) e Cassiá Carpes (PP), o projeto ainda não foi votado no plenário e, ao que tudo indica, deverá sofrer algumas emendas.
— O projeto é simples: diz que as empresas e concessionárias terão de 15 a 20 anos para substituir toda a fiação aérea por cabeamento subterrâneo. Precisamos começar, é uma coisa para o futuro — diz Carpes, salientando que, se o projeto for aprovado na Câmara, a prefeitura precisará fiscalizar a mudança no futuro.