As tampas de metal dos bueiros estão novamente na mira dos ladrões em Porto Alegre. Uma delas, situada na Avenida Ipiranga, nas proximidades de onde fica a base das equipes de distribuição da CEEE Equatorial, foi furtada três vezes em março. O dado espanta se for levado em consideração que o local tem movimentação intensa de veículos, com a possibilidade de causar acidentes. A informação é do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).
— Tivemos em março a mesma tampa roubada na Ipiranga três vezes. Causa problema no trânsito para a população e precisamos deslocar uma equipe para recolocar a tampa. Essas equipes poderiam estar fazendo outros serviços. Fora o prejuízo financeiro — explica o diretor-geral do Dmae, Alexandre Garcia, salientado que uma tampa redonda de ferro custa em torno de R$ 1,2 mil.
O prefeito Sebastião Melo fez um desabafo sobre o tema dos furtos de equipamentos que ocorrem na Capital, durante a apresentação das obras no Quadrilátero Central, na quinta-feira (28), no Paço Municipal.
— Estamos vivendo um momento dificílimo. Estão furtando fios, postes, tampões e até cimento da cidade. Tem furto encomendado, tem furto para consumir drogas e tem furto encomendado pelos receptadores que são outros vigaristas dessa cidade — afirmou o chefe do Executivo municipal, apelando para que os vereadores façam leis exigindo que o material comercializado tenha selo de procedência. — Isso é que nem cocaína e maconha. Só vende porque alguém consome. Só vende fio de cobre e alumínio porque alguém consome — completou o prefeito.
Não existe uma estimativa de quantas tampas de bueiro a Capital possui. Porém, elas estão distribuídas ao longo de 2 milhões de metros da rede de esgoto. Apenas em termos de bocas de lobo, são cerca de 40 mil. Nem mesmo o peso do material, que varia entre 21 quilos (peças retangulares) e 53 quilos (redondas), impede a ação dos criminosos nas vias públicas.
— O material é de ferro e tem atratividade de mercado. Além de ser pesado e difícil de carregar, precisa dar algum retorno para os ladrões. As tampas são roubadas para serem vendidas e derretidas — observa o diretor-geral do Dmae.
Estamos vivendo um momento dificílimo. Estão furtando fios, postes, tampões e até cimento da cidade. Tem furto encomendado, tem furto para consumir drogas e tem furto encomendado pelos receptadores que são outros vigaristas dessa cidade
SEBASTIÃO MELO
Prefeito de Porto Alegre
Quando o roubo acontece, a situação não se resume a simplesmente pegar outra peça e substituir a que foi levada pelos ladrões. Se apenas a tampa foi retirada, o procedimento de substituição é rápido. Se o anel que envolve a tampa for levado junto, será necessário quebrar o concreto no entorno, recolocar o anel e esperar a secagem do novo concreto, o que leva de dois a três dias, para só então a tampa ser recolocada. Se a estrutura de concreto for danificada, a troca pode se estender por até sete dias.
A prefeitura chegou a realizar estudos para a substituição dessas tampas por peças de polietileno (tipo de resina termoplástica parcialmente cristalina e flexível, obtida por meio da polimerização do etileno) de alta densidade. A ideia seria utilizar essas peças em vias de trânsito menos pesado. Porém, como não há normas técnicas no Brasil e sequer existe autorização legal para utilização desse material nas vias, a iniciativa foi abandonada. A maioria das tampas de metal furtadas pertence ao Dmae, enquanto outra parte é oriunda de empresas de telefonia, de gás e de outros órgãos da própria prefeitura. O problema também atinge os hidrômetros de água.
— Apenas em março, foram 170 hidrômetros furtados. Desses, 140 estavam localizados em pontos do Centro Histórico e do 4º Distrito — destaca Garcia, impressionado com a ousadia das ações cometidas pelos bandidos em lugares de muita circulação de veículos e pessoas.
Os riscos oferecidos por um bueiro descoberto são grandes. A queda de uma pessoa pode resultar em fraturas ou até em acidentes mais graves. De acordo com o Dmae, alguns possuem boca de 60 centímetros e até seis metros de profundidade. E ainda há o próprio esgoto que corre lá dentro.
O assunto em torno do furto de tampas de bueiros não é novo. Em abril do ano passado, uma ação da prefeitura recuperou 46 tampas de metal furtadas das ruas da cidade. Dessas, 11 eram da rede de esgoto cloacal do Dmae, 15 de empresas de telefonia e as demais da Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa) e de outros órgãos do município. O material foi encontrado em um dos acessos da Vila dos Papeleiros, na região central. Na ocasião, não foi possível localizar os autores dos furtos.
— Retornamos na semana passada ao local em que recuperamos as 46 tampas em 2021 e não encontramos nada — relata o secretário municipal de Segurança, Mário Ikeda, destacando que a pasta não possui dados específicos sobre esse tipo de delito.
De forma parecida, a Brigada Militar explicou, por meio da sua assessoria de imprensa, que não tem o registro pontual para furtos de tampas de bueiros na cidade.
O vereador José Freitas (REP) tem um projeto em andamento na Câmara Municipal, em conjunto com a vereadora Nádia Gerhard (PP), para tentar acabar com esse crime:
— O roubo das tampas de bueiros existe porque há quem compre. O projeto visa coibir o furto desse tipo de material e regulamentar o recebimento. Quem trabalha com isso precisa dizer de onde vem o material. Não queremos proibir a compra e a venda — diz o político, salientando que o poder público precisa fiscalizar de forma mais intensa as sucatas e os ferros-velhos.
Por sua vez, o Grupo CEEE Equatorial, que tem diversos prejuízos por roubo de fiação, informou que o furto de tampas não é expressivo em sua área de concessão, em função de a rede ser praticamente toda aérea.