Os recentes episódios de furto de cabos de energia, como os casos nos parques da Redenção e Marinha do Brasil nos últimos dias, alimentam uma cadeia de receptação e comércio ilegal do material, que acomete diferentes regiões do Rio Grande do Sul. As ações são alvo de investigação permanente por parte da Polícia Civil, com foco principalmente nos receptadores do material. Com o aumento do valor de venda do cobre e a dificuldade de rastrear os materiais furtados, o trabalho se torna complexo.
De acordo com a Polícia Civil, os furtos de cabos de energia que pertencem a concessionárias, seja de energia ou telefonia, são investigados pela delegacia de Repressão aos Crimes contra o Patrimônio e Serviços Delegados (DRCP). Já o furto de fios particulares fica com as delegacias distritais, localizadas na região onde o crime aconteceu.
O delegado Luciano Peringer, titular da DRCP, explica que há dois tipos principais de furtos de cabos. Um deles acontece quando o criminoso pega uma pequena quantidade do material, como em sinaleiras, no intuito de vender e obter dinheiro. Normalmente, esse valor é usado para manter o consumo de drogas. O outro tipo envolve o furto de quantidades maiores de cabos, em uma ação mais complexa.
— Nesse caso, o crime é cometido por pessoas que têm conhecimento técnico sobre a área, que conhecem o ramo. Muitas vezes, envolve funcionários ou ex-funcionários das empresas, que usam até equipamentos do próprio trabalho, como veículos e roupas apropriadas para cometer o ato. Normalmente envolve grupos e até quadrilhas para subtrair os fios. Em alguns casos levam quilômetros de cabos.
Conforme o delegado, o material costuma ser vendido para empresas do ramo de reciclagem e comércio de sucata. Depois, tem como destinos principais os estados de Minas Gerais e São Paulo. Por ser um metal condutor, o cobre se torna versátil: pode ser usado novamente pelas empresas de energia e telefonia e até mesmo para instalações elétricas em carros e computadores.
Valorização do cobre
Conforme Peringer, o valor de venda do material subiu nos últimos. Atualmente, o quilo pode valer de R$ 40 a R$ 50, mas não passava de R$ 17 há cerca de três anos, avalia o delegado.
O número de furtos teve aumento na pandemia, segundo ele. Os crimes acontecem principalmente em regiões mais afastadas, sem câmeras de segurança e com pouca movimentação de moradores. O Litoral Norte, após a temporada de verão, é um dos que mais sofre com o problema, de acordo com a polícia.
— É um prejuízo extremamente elevado para a sociedade. Tem locais que chegam a ficar sem energia por mais de 24 horas até que o serviço seja restabelecido. O grande problema é que esses crimes costumam ocorrer em locais ermos, sem imagens de câmeras, sem testemunhas. Isso facilita a ação desses grupos e dificulta a nossa investigação.
Investigação permanente
Para coibir a prática, a Polícia Civil mantém uma ação permanente no Estado, que teve início há cerca de cinco anos. A chamada operação Metal busca atingir principalmente o receptador, fiscalizando locais que possam fazer a compra do material.
— Uma das grandes dificuldades nesse sentido é que muitos cabos não tem uma identificação clara. Tanto fios de energia quanto de telefonia têm algumas características próprias, mas as vezes não é possível confirmar que aquele material foi furtado só ao analisá-lo. Então a gente acaba fazendo contato com as empresas para verificar se aquele material pertence a alguma delas, e aí é preciso que a empresa tenha esse controle — explica o delegado.
Peringer destaca ações da equipe em 2021, que resultaram desse tipo de investigação. Em uma delas, em julho do ano passado, seis pessoas foram presas e cerca de uma tonelada de fios de telefonia foi apreendida em Porto Alegre. Após denúncias, o grupo foi localizado em um depósito no bairro Mario Quintana, na Zona Norte, descascando e queimando a parte de plástico dos fios, para ficar com o material de cobre para revenda. Esse processo de queima também ocorre para dificultar a identificação posterior do material.