Todas as noites, o analista de sistemas Fabrício Nogueira Santiago, 40 anos, aproveita o contraturno do trabalho para correr na orla do Guaíba. Para alcançar o seu destino, entretanto, é preciso atravessar o Parque Marinha do Brasil. Um desafio que ele encara com coragem e muita pressa.
— Sempre passo correndo, porque nunca sabemos quem pode estar se aproximando. Semana passada mesmo, quando uma destas luzes não estava acesa, eu dei uma acelerada — pontua.
Assim como Fabrício, dezenas de pedestres e ciclistas que precisam cruzar o parque à noite buscam os poucos trechos iluminados que possibilitam a travessia entre as avenidas Borges de Medeiros e Edvaldo Pereira Paiva.
Localizado no bairro Menino Deus, o Marinha do Brasil sofre com a falta de iluminação pública em boa parte dos seus 70 hectares de extensão. Quem vem da Avenida Praia de Belas em direção à orla tem duas opções: arriscar uma travessia no escuro ou contornar o parque pela calçada rente à Avenida Borges de Medeiros, onde a iluminação ainda está ativa.
No trecho próximo à Avenida Ipiranga, a iluminação alcança apenas parte dos brinquedos da pracinha. A calçada que dá acesso ao centro do parque é costeada por estruturas metálicas sem as lâmpadas. Em abril de 2021, a reportagem de GZH percorreu o parque e apurou que as “cabeças” das luminárias haviam sido alvo de furto.
O caminho de pedras que atravessa o parque desparece aos poucos, se perdendo em um breu que aparenta não ter fim. A penumbra faz com que as quadras esportivas se tornem invisíveis aos olhos dos desavisados.
Insegurança
Na noite de segunda-feira (21), o taxista Rodrigo Capela da Silva, 36 anos acompanhado da esposa, Jéssica Soares, 30 anos, e dos quatro filhos, Raissa, Mykaella, Miguell e Emanuelly, precisaram da ajuda da lanterna do celular para iluminar sua travessia. Habituados a jogar futebol na Orla, a família usualmente estaciona o carro no Marinha e o atravessa pelo trecho de esplanada rente ao Viaduto Dom Pedro I, onde a iluminação dos postes ainda resiste. Eles comentam que se sentem inseguros e questionam sobre a falta de policiamento.
— A única parte iluminada é a Orla, do outro lado ficou esquecido. Quando viemos jogar futebol andamos em grupo para inibir o risco de assaltos. Antes, no parque vinham as famílias, faziam caminhadas, traziam os animais para passear. Dificilmente vemos uma viatura passando — pontua Rodrigo.
O empresário Paulo Rogério Loureiro da Silva, 56 anos,diz que só tem as noites para caminhar na Orla e que, nos últimos tempos, a falta de iluminação e a falta de segurança se agravou.
— Em questão de iluminação, aqui está fraco. Fico onde tem mais postes funcionando porque para os lados não tem como ir — sublinha.
Em nota, a Secretaria Municipal de Segurança de Porto Alegre afirma que, embora a Guarda Municipal não fique parada ali, a corporação “faz rondas, então passa pelo local e faz as verificações necessárias”. A pasta acrescenta que no entorno do parque há câmeras e o monitoramento acontece também a distância.
Projeto de revitalização
Em julho do ano passado, a prefeitura de Porto Alegre iniciou o plano de modernização da iluminação pública, resultado da parceria público-privada com a concessionária IPSul. Em janeiro, foi concluída a primeira etapa da restauração da iluminação do Parque Marinha do Brasil.
Os serviços começaram em agosto do ano passado e, até janeiro, data do último levantamento da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), mais de mil metros de rede subterrânea haviam sido restabelecidos. Além disso, a concessionária recuperou 22 postes de quatro metros, 43 postes de seis metros, 25 postes de oito metros, 10 postes de 10 metros, dois postes de 12 metros, 77 luminárias de 37W e 113 luminárias de 30W.
A SMSUrb afirma que a recuperação da iluminação pública é uma das formas de garantir mais segurança a quem frequenta o parque no fim do dia. Além das luminárias e instalações novas, a área recebeu o piloto de um sistema de telegestão, que permitirá monitoramento 24 horas pelas equipes da IPSul. O sistema permite ligar e desligar uma luminária e sinaliza eventuais problemas no ponto, incluindo furto de cabos.
Segundo a secretaria, a segunda etapa está prevista para começar na segunda quinzena de abril com a restauração da parte sul do parque. Serão realizados serviços de escavação e lançamento de rede subterrânea, instalação e substituição de postes e luminárias.
Em caso de luzes apagadas, a prefeitura lembra que os contribuintes podem pedir o conserto pelo aplicativo 156+POA ou pelo telefone 156. No aplicativo, acesse “solicitações de serviços” “iluminação pública”. O app encaminhará ao portal da concessionária onde poderá ser feito o pedido.