O primeiro Dia de Finados sem restrições ao público em áreas ao ar livre levou uma multidão aos cemitérios de Porto Alegre na manhã desta terça-feira (2). O calor e o sol forte desafiaram quem foi prestar homenagens a parentes e amigos sepultados nos locais que se concentram entre os bairros Azenha e Medianeira. Viaturas e agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) orientaram veículos e pedestres, especialmente na Avenida Professor Oscar Pereira.
Leni Cunha Dias, 81 anos, acompanhada da filha e da sobrinha, cumpriu um antigo ritual. Em um jazigo do Cemitério da Santa Casa, depositou flores e limpou a lápide com as fotografias de 19 familiares - segundo ela, o número de sepultados ali é ainda maior.
— Todos os dias, rezo por eles em casa também — contou Leni.
Leila, 58 anos, a filha, lembrou como teve início a concentração dos falecidos da Família Silva, como indica o letreiro, no local.
— Meu avô fez uma vaquinha, cada um deu um pouco, e comprou o jazigo — disse Leila, munida de água para encher os vasos, uma sacola para recolher galhos e folhas e álcool para higienizar as mãos. — São nossos antepassados que estão aqui — reforçou ela sobre a importância da tradição que se mantém.
Às 10h, o arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, deu início à celebração de uma missa campal. Sob uma tenda montada no estacionamento do cemitério, foram dispostas cadeiras para 150 pessoas — todas ocupadas. Dom Jaime falou sobre o medo da morte e os sentimentos suscitados pelos diferentes finais de vida: a partida súbita, a morte na velhice, o falecimento após uma doença longa e sofrida. O religioso destacou a pandemia e o negacionismo diante do coronavírus:
— Temos também uma situação nova, que já vitimou mais de 600 mil pessoas no Brasil. Certamente, algo que surpreendeu a todos. Alguns diziam “não sei do que se trata”, “a mim não atinge”, “é invenção”, “atinge só os outros”, “o vírus é mentira”. Ouvimos de tudo. E aqui dizemos: quanta dor, quanta saudade.
No Cemitério Ecumênico João XXIII, também com corredores cheios, foi montada uma Árvore das Memórias na entrada principal. Os visitantes podiam escrever mensagens a seus entes queridos e pendurá-las na árvore. “Meu amor Ricardo, nunca te esquecerei. Te amo eternamente”, “Hoje posso escrever sem dor, com saudades e só amor”, “Vô, eu te perdoei, ok? Eu sinto muito a tua falta. Os meus melhores verões foram contigo”, “Já faz sete meses que você não está entre nós. Só saudades. Te amamos”, diziam alguns dos bilhetes.