Todos os meses, empreendimentos de Porto Alegre anunciam que não vão mais reabrir as portas, nem depois que "tudo isso acabar". GaúchaZH relacionou 13 negócios que encerraram as atividades desde a chegada da pandemia de coronavírus à Capital, lembrando o motivo e um pouco da história de cada um:
JULHO
- O último a dar a má notícia foi o Vaca Bar, inaugurado em setembro de 2017 no bairro Bom Fim. As proprietárias anunciaram a venda do ponto na semana passada nas redes sociais.
Em entrevista a GaúchaZH, elas relataram que têm também o Lola Bar de Tapas, criado há oito anos no mesmo bairro, e que não foi possível manter os dois durante a pandemia. "Bar campeiro" de ar sofisticado, o estabelecimento servia iguarias populares na mesa do gaúcho, como carreteiro e pudim de leite, além de drinques autorais com cachaça de butiá e até figo em conserva. - Já o Restaurante Romana Becker estava previsto para encerrar as atividades nesta sexta-feira (31). A decisão foi divulgada na semana passada. O empreendimento familiar do bairro Higienópolis, na zona norte de Porto Alegre, não resistiu à pandemia de coronavírus — com a telentrega, tinha de 30% a 40% do faturamento habitual, segundo o sócio Guenther Luiz Becker, 63 anos.
- Neste mês, a colunista Giane Guerra também noticiou que, após 37 anos, a loja de departamentos Empo encerrou as atividades. A empresa estava sob o comando da terceira geração da família. Chegou a ter filiais pelo Rio Grande do Sul, mas mantinha apenas a unidade da Avenida Assis Brasil. A empresa informou que o prédio foi vendido pelo fundador em dezembro e seria entregue no final de outubro, mas, por conta da pandemia, a entrega foi antecipada para o final de julho.
- A dona do Carmen's Club, na Rua Olavo Bilac, botou o imóvel à venda, 22 anos depois da inauguração. Como a empresária Soraia Rosso Saloum, a folclórica Tia Carmen, explicou ao colunista Paulo Germano, tudo parou nos últimos meses, menos as ações trabalhistas. Soraia diz que deve R$ 150 mil a antigos funcionários. Sem fonte de receita, restou a ela se desfazer do prédio que, além da boate, abrigava um motel.
JUNHO
- Especializada em artigos de couro e sapataria, como graxa, escovas, palmilhas e calçadeiras, a Casa Augusto fechou as portas no centro de Porto Alegre após 138 anos. A covid-19 teve pouca relação com a decisão da família: os irmãos Mônica, Patrícia e Álvaro Augusto não deram seguimento ao estabelecimento administrado por Augusto Eurico Hecktheuer (neto do fundador), que está com 91 anos.
Em junho, GaúchaZH contou essa história: o fundador, August, chegou ao Estado pelo porto de Rio Grande aos 16 anos. Não demorou para contatar o irmão e confirmar que o Brasil era mesmo a terra do futuro, apesar dos sapatos lamentáveis do pessoal. Um especializado em curtume e outro mestre sapateiro, os irmãos Hecktheuer se estabeleceram na Rua Vigário José Inácio. - O Bar de Cervejas Especiais Infiel, que permaneceu por seis anos na galeria Nova Olaria, da Cidade Baixa, foi outra baixa da pandemia. A telentrega não foi suficiente para manter o negócio. "Cada cliente que comprou algo durante a quarentena fez uma diferença enorme, mas somados todos esforços e vendas não superamos as contas que se acumulam mensalmente, mesmo que reduzidas ao máximo. Mais do que lágrimas, temos um agradecimento especial para todos vocês, mas a obrigação de aceitar essa derrota", escreveu Marcus na página do bar no Facebook.
- Localizado na Rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento, desde 1995, o Café do Porto também não deve mais reabrir. No anúncio feito pelo Facebook, a proprietária, Cacaia Bestetti ligou o café à história da Padre Chagas: "Desde o início apreciado pelos amigos e moradores do bairro, o Café do Porto ficou pequeno para atender aos nossos clientes, que vinham de todas as partes da cidade, de outros Estados e países. As mesas na calçada deram início a um processo que terminou por alterar a legislação vigente à época, transformando a cara da cidade".
Em conversa com a colunista Giane Guerra, Cacaia contou que a pandemia foi o motivo final, mas os aluguéis da região também estavam muito altos nos últimos anos. - Quando os apreciadores da boemia voltarem à Cidade Baixa, não vão mais encontrar o London Pub na Rua José do Patrocínio. O proprietário, Toni Missel, precisou desocupar o ponto porque o dono vendeu o imóvel, mas o objetivo é reabrir o negócio depois que a pandemia acabar. Ele ainda não sabe, porém, quando nem onde. Alguns frequentadores têm sugerido outros bairros, como o Bom Fim, mas a decisão não foi tomada, ainda.
A gente só vai voltar quando as coisas estiverem resolvidas, com vacina. Vamos dar esse tempo para estudar bem as possibilidades — afirma Toni, acrescentando que a casa segue presente nos aplicativos de entrega de comida. - Entre as 13 lojas encerradas pela Livraria Saraiva em todo o Brasil no mês de junho, está a filial no Moinhos Shopping, em Porto Alegre. Em maio, a rede já havia informado que a "geração de receitas deixou de acontecer" após o fechamento de unidades por conta da pandemia. A rede de livrarias se encontra em recuperação judicial.
MAIO
- O Dado Pub do bairro Moinhos de Vento também fechou, depois de 20 anos. Foram vários os motivos, culminando com a crise causada pela pandemia do coronavírus, conforme o empresário Eduardo Bier Corrêa para a colunista Giane Guerra.
— Inicialmente, com o fechamento por dois meses, perdemos 100% da receita. Ao reabrirem, o pub e os demais restaurantes estão deparando com receitas muito baixas, ficando em 20% do normal. Gera grandes prejuízos operacionais, talvez ainda maiores do que no período em que estiverem fechados — explicou. - O fechamento Charlie Pub, na Rua General Lima e Silva, também foi anunciado em maio. Os proprietários do Charlie Brownie relataram nas redes sociais que os problemas enfrentados começaram antes mesmo da pandemia, "com a falta de diálogo entre moradores, empreendedores e poder público", e que, mesmo com a possibilidade de delivery, foram obrigados a descontinuar a unidade da Cidade Baixa em razão das perdas.
No mesmo post, eles relataram que o negócio na Cidade Baixa foi o seu “maior delírio” ao unir sobremesas, cafés e doces a drinques e eventos culturais. A empresa segue operando em dois endereços, na Avenida Mariland e na Rua Fabrício Pillar, ambas no bairro Mont'Serrat.
ABRIL
- No ano em que completaria 22 anos, o Galeto Santa Maria acabou encerrando as atividades. Em anúncio feito em abril na sua página do Facebook, o empreendimento localizado no DC Shopping, na Zona Norte, explicou que a crise acarretada pela pandemia foi o motivo da decisão, e acrescentou: "Priorizamos honrar nossos compromissos com equipe, fornecedores e todas as pessoas envolvidas com a gente e cuidar da saúde da nossa família neste momento".
No texto, carregado de emoção, a empresa também destacou que foi a primeira a servir galeto ao primo canto na grelha de carvão na cidade e que perdeu as contas de quantas famílias viu se formarem e quantos aniversários, casamentos e jantares românticos aconteceram ali.
MARÇO
- O Cósmica Bar, na Rua Lopo Gonçalves, foi um dos primeiros a anunciar fechamento. Já estava enfrentando dificuldades antes da covid-19 chegar à cidade, e o que a pandemia fez foi antecipar a decisão de fechar o bar, como explicou a proprietária Natália Lescano:
— Foi principalmente em razão da crise e porque, como eu toco o lugar sozinha, começou a ficar bem complicado. Claro que a gente sempre espera que algo bom aconteça, mas, no final do ano passado, quando veio a história do coronavírus na China, já senti algo ruim.
No bar, a temática de astrologia era explorada na composição de cada um dos 12 drinques, cujos ingredientes brincam com características dos signos, nos nomes das comidas, na decoração e na música.