Em mundo de hábitos alimentares cada vez mais específicos, talvez o tipo gastronômico que mais se aproxime de algum consenso seja um clássico essencialmente afetivo: a comida de vó. Foi contando com as boas lembranças da clientela sobre as refeições em família que foi criado o Vaca, no Bom Fim.
— O objetivo é trazer uma memória de casa de vó. O nome Vaca porque a nossa cultura alimentar lida muito com a carne mas também com a questão do campo — conta Mahara Soldan, uma das sócias.
A ideia de um "bar campeiro", como o local se apresenta, ganhou um ar sofisticado, mas nem por isso menos aconchegante, na casa da Rua Bento Figueiredo, onde começou a funcionar no ano passado. Na decoração, além de elementos e estampas que lembram o campo, há fotos de família — das famílias das sócias — expostas para inspirar memórias.
O cardápio revisita clássicos da mesa de quase qualquer lar gaúcho: carreteiro, pudim de leite condensado e pastel estão entre as opções. Nos pratos com carne, foram valorizados os cortes menos "nobres", como o bife de miolo de acém, com foco no consumo consciente da proteína.
— Às vezes, o cliente vem achando que é um bar de carnes, e não é. Queremos desconstruir o sofisticado, trazer uma comida que abraça — diz Mahara.
O regionalismo se estende à carta de bebidas da casa, que conta basicamente com rótulos de cerveja, vinho e espumante gaúchos. Os drinks exploram ingredientes locais: cachaça de butiá, pimenta rosa, figo em conserva e bergamota aparecem nas bebidas autorais.
Proprietária de outros dois bares que exploram temas específicos — um voltado à cultura espanhola e outro inspirado na época da Lei Seca norte-americana —, Mahara acredita que escolher um foco permite explorar possibilidades de um modo mais criativo:
— A gente quer criar mais identidade, ter mais brincadeiras. Justificar o porquê daqueles produtos estarem ali — conta.