Fazer um happy hour está deixando de ser só uma despretensiosa saída com os amigos em Porto Alegre. Em franca multiplicação nos últimos anos — somente em 2017, surgiram pelo menos cinco novas opções — os bares temáticos caíram em definitivo nas graças da boemia da Capital, tornando-se o motivo de alguns encontros e assunto entre grupos de amigos.
Somente na Região Central, a reportagem contou mais de 20 estabelecimentos voltados e explorar produtos, conceitos, personagens ou nichos específicos em seus ambientes e cardápios. Em geral, dispõem de tudo que um bar comum tem: bebida, comida e, por vezes, atrações musicais. A diferença é que foram pensados para proporcionar aos clientes uma experiência a mais, seja ela intelectual ou gastronômica.
— Sob o ponto de vista da estratégia de negócio, é preciso buscar diferenciação, ser criativo, e os bares temáticos possibilitam isso. Mas também tem uma questão de comportamento do consumidor. Se discute bastante hoje que as novas gerações são menos materialistas e mais experiencialistas. E os temáticos podem ser uma experiência legal — avalia Lélis Espartel, professor da Escola de Negócios da PUCRS.
A aposta de estabelecimentos em um único tema tem dado certo para os empreendedores. Basta circular pela cidade aos fins de semana para constatar o sucesso desse tipo de bar — boa parte deles comemora mesas cheias desde que foram inaugurados. Na visão de Espartel, o que os faz levarem vantagem sobre os bares generalistas, para além da curiosidade com o novo, é que, como se especializam em determinados assuntos, alimentos e bebidas, eles tendem a oferecer produtos mais qualificados.
Fãs de Quentin Tarantino, por exemplo, podem tomar um chope diante de pôsteres e cenas de filmes do diretor em um bar da Cidade Baixa. A metros dele, shows de drag queens transportam os clientes para o universo do reality show RuPaul's Drag Race. No Bom Fim, é possível tomar sangria provando tapas no melhor estilo espanhol em plena Castro Alves, ou, cruzando a rua, degustar drinks sob a luz baixa de uma coquetelaria inspirada nos tempos da Lei Seca americana. Em uma via do Centro, dois bares dedicados ao futebol reúnem centenas assistindo jogos ou degustando chope na calçada — um deles serve comidas em formato esférico, cujos sabores foram batizados com nomes de ícones do futebol.
Abundantes e cada vez mais populares, os temáticos têm potencial para se desenvolver a longo prazo. Mas para que a proposta não envelheça, alertam especialistas, é importante oferecer um serviço qualificado e sempre buscar novas abordagens para o assunto.
— Nesses bares, o que se tenta criar é um ambiente com que as pessoas se identifiquem. Mas isso também vai excluir gente. Para que eles durem, é importante ouvir muito o público. Daqui a pouco, descobrem que não é nada daquilo que o dono estava pensando — diz o especialista em marcas e professor da Unisinos Guilherme Caon.
Se parece ter virado obrigação para os novos empreendedores encontrarem uma abordagem criativa, seria o fim dos pés-sujos? Não é o que acredita Caon:
— Tem muita gente que não tem esse ânimo de pensar em um tema e fazer um cardápio específico, até porque isso necessita de um certo investimento. Vão continuar aparecendo botecos, coisas mais simples. Abrir uma portinha, vender cerveja barata, também não deixa de ser uma proposta de marca.
Abaixo, confira cinco opções
Estabelecimento no Bom Fim também é circo, tenda exotérica e casa de chá
Proprietárias sonhavam em abrir negócio que pudesse levar os clientes a um mundo à parte
Temática é explorada em quase tudo: na composição dos drinks, nos nomes das comidas e até no som
Foi contando com as boas lembranças da clientela que foi criado estabelecimento no Bom Fim
No cardápio, tem de costelinha a joelho, de torresmo a barriga e até caipirinha com bacon