Em meio a discussões que se arrastam há cerca de três décadas, o 4º Distrito finalmente dá mostras de revitalização. Antiga zona industrial de Porto Alegre, a região tem fartura de imóveis desocupados, que começam a abrigar empreendimentos com modelos de negócio inovadores, economia criativa e lazer.
Apesar da localização atrativa, perto do Centro Histórico e dos acessos à cidade, não há grandes investimentos empresariais ou públicos na região nos últimos anos. São as pequenas iniciativas que têm impulsionado o ressurgimento da região de 594 hectares, que se estende pelos bairros Floresta, Navegantes, São Geraldo, Humaitá e Farrapos.
De acordo com o professor Ricardo Strauch Aveline, coordenador da extensão do Centro Educacional Metodista do IPA, parceiro da prefeitura, o 4º Distrito ainda não é utilizado da melhor forma. Mas isso é uma questão de tempo.
— Iniciativas próprias da população, de pequenos empreendedores, integram um processo que acontece, ali, em uma dimensão maior do que em outros pontos da cidade. Já existe um networking pronto, esperando oportunidades, como a vinda de empresas de tecnologia — diz.
Os novos empreendimentos se caracterizam por um ideal coletivo. Galpões de velhas fábricas são facilmente adaptados em ambientes capazes de reunir empresas diversas sob o mesmo teto, que compartilham o espaço e equipamentos. Além disso, a promoção de eventos por meio de parcerias entre empreendedores passou a atrair pessoas para atividades de lazer, o que anima o polo cervejeiro que se criou na região e consolida um novo ponto para a vida noturna em Porto Alegre. Com tudo isso, se intensifica a produção cultural.
Analista e pesquisador em Ciência Política da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Tarson Núñez destaca que a renovação do 4º Distrito deve ocorrer a partir das pequenas empresas. Para Núñez, o foco do poder público está equivocado:
— Falta visão de gestão de cidade. Sempre se pensa na atração de grandes grupos em vez de ações coletivas com os pequenos empreendedores, que formam o tecido social local. É necessário ter mecanismos de estímulo para evitar a especulação imobiliária, facilitando o aluguel dos imóveis ociosos — sugere.
Para Aveline, nesse estágio inicial, investimentos imobiliários ainda são bem-vindos. No entanto, o valor do metro quadrado no 4º Distrito tende a subir muito, já que os olhos da cidade estão voltados para lá. Ele alerta que aluguéis "irreais" podem emperrar o desenvolvimento local:
— Inúmeros imóveis nas mãos de poucas pessoas é um fator prejudicial. Infelizmente, nossa cultura não é muito empreendedora. Se os valores forem estratosféricos, obviamente os investidores não irão para lá. Precisamos transformar essa visão em nome de uma cultura mais empreendedora.
Desafio é integrar áreas desiguais
Os cinco bairros do 4º Distrito retratam os fortes contrastes socioeconômicos do Brasil. Há lugares onde basta atravessar a rua para passar de uma região bem estruturada a uma zona degradada. Segundo o professor Roberto Passos Nehme, que coordena o programa Intervenções Urbanas, do IPA, a região pode ser dividida em outros três distritos:
— Primeiro, a região próxima ao Centro, uma espécie de "baixo Moinhos", que tem mais possibilidades de desenvolvimento porque está perto de áreas ricas da cidade. Depois, nas proximidades da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, de origem fabril, que hoje tem cortiços e zonas em desuso. Finalmente, o eixo Humaitá-Navegantes, que é uma região mais nova, surgida nas décadas de 1970, 1980, que está acontecendo agora. É um território que ressurgiu com a Arena, mas não foi muito bem orquestrado. As contrapartidas de infraestrutura ainda não foram feitas. Ainda assim, está movimentando a região.
Segundo o professor Ricardo Strauch Aveline, a parceria do IPA com a prefeitura trabalha com inovação, economia criativa e economia solidária com as comunidades mais pobres.
— É um mecanismo que integraria essa "Belíndia" que é o Brasil: de um lado parece a Bélgica, de outro, a Índia.
Conheça os novos empreendedores do 4º Distrito
Negócio reúne 24 empresas que produzem em espaço coletivo
Bar conta com 26 torneiras de cerveja de fabricação própria
Com cena musical crescente, região ganhou um grande estúdio
Instalado em um galpão, bar que busca evitar rótulos