O Centro Histórico de Porto Alegre vai resgatar uma parte do seu passado, na próxima quarta-feira (9), e dar um novo impulso à tentativa de reviver seus dias de glória. A reforma e reabertura do prédio da antiga loja Guaspari, agora sob o logotipo da rede Lebes, é vista por urbanistas e empresários como um sinal de vitalidade da área central e um estímulo para novos investimentos nas proximidades. A região recebeu melhorias e se valorizou acima da média municipal nos últimos anos, mas, se quiser aproveitar a oportunidade para luzir como nos velhos tempos, precisará superar obstáculos como o retorno dos camelôs, a sensação de insegurança e a demora para tirar outros projetos de revitalização do papel.
Quando for removida a cortina que cobre a fachada do velho Guaspari nas proximidades do Mercado Público, quem circular pela Avenida Borges de Medeiros terá um vislumbre de como era o local nos distantes anos 1930, quando o edifício foi construído em estilo modernista com toques de art déco – décadas depois, o antigo visual seria obscurecido por uma fachada metálica inteiriça e monótona. Dessa época até os anos 1960, o Centro foi o palco por onde a sociedade porto-alegrense desfilou, frequentou cafés e cinemas. Seguiram-se a decadência urbana a partir dos anos 1970 e, nas últimas três décadas, sucessivas tentativas de resgatar o coração da Capital.
Leia mais:
Atraso de projetos e insegurança dificultam retomada de melhorias no Centro
Sancionada lei que autoriza prefeitura a obter empréstimos para obras da Copa
Recentemente, iniciativas como a remoção dos camelôs – que agora voltaram a ocupar algumas calçadas –, a recuperação de mais de 40 prédios históricos como a Galeria Chaves e de uma dezena de praças como a da Alfândega redobraram o interesse pela região. Um levantamento feito pelo Sindicato da Habitação do Estado (Secovi-RS) revela que o preço das salas comerciais subiu em média 15% em toda a cidade nos últimos 44 meses, enquanto avançou 21% no Centro. Já os apartamentos de um quarto se valorizaram 16,5% na média geral e 20,6% na zona central.
– O investimento da Lebes é uma evidência dessa recuperação do Centro e pode gerar um impacto ainda mais positivo. Se sair o projeto de revitalização do Cais do Porto e melhorar a segurança, a perspectiva melhora – analisa o presidente do Secovi, Moacyr Schukster.
O investimento da rede de varejo se segue a uma retomada no número de moradores no Centro, que chegou a despencar de 49 mil em 1980 para 36,8 mil em 2000, mas saltou para 39,1 mil em 2010 – data do último Censo. Na avaliação de urbanistas, a vocação do bairro – e único caminho possível para seu resgate definitivo – é combinar moradia com comércio e espaços de lazer e cultura. Os atrativos culturais, que já somavam mais de 50 espaços como museus, teatros e bibliotecas, foram reforçados com a inauguração da Pinacoteca Rubem Berta, em 2013, e da Cinemateca Capitólio, em 2015.
Já o comércio formal foi encorpado pela diminuição no número de camelôs após a construção do PoPCenter, para onde foram deslocados em 2009. A Lojas Renner, por exemplo, se instalou no antigo prédio da Livraria do Globo, próximo da Esquina Democrática, onde também funciona um café. Mesmo com a retomada de muitas calçadas pelos ambulantes nos últimos dois anos, fenômeno estimulado pela migração de senegaleses, a liberação de áreas anteriormente tomadas de barracas como a Marechal Floriano favoreceu a chegada da Lebes.
– Este novo empreendimento resgata o projeto original de um prédio que marcou época em Porto Alegre e se projeta para o futuro como mais uma referência da arquitetura da cidade, trazendo mais segurança, conforto e tecnologia para toda a região – sustenta o presidente da Lebes, Otelmo Drebes.
Nova loja terá café, restaurante panorâmico e memorial
O resgate de um dos prédios mais tradicionais do centro de Porto Alegre incluirá a instalação de uma loja de departamentos, mas também de opções gastronômicas e culturais. Haverá um restaurante panorâmico – com janelões de vidro de cinco metros de altura – no quarto andar e café, sorveteria e confeitaria no sétimo e último piso, de onde será possível apreciar a vista para o Guaíba. Os detalhes do empreendimento serão apresentados a jornalistas na manhã de terça-feira, e o espaço será aberto ao público a partir das 9h de quarta.
Junto ao café foi criado também um memorial onde estarão expostos resumos históricos sobre o edifício Guaspari, seu arquiteto, o espanhol Fernando Corona, a construtora (Azevedo, Moura & Gertun) que ergueu esse e vários outros prédios históricos no Centro e a Lebes. Além disso, haverá cerca de 50 fotografias de detalhes arquitetônicos da área central.
O arquiteto responsável pela recuperação do prédio, Evandro Eifler Júnior, afirma que um dos maiores desafios foi restaurar a fachada respeitando seu aspecto original.
– Quando essa fachada foi tapada com uma espécie de cortina metálica, que foi uma moda entre os anos 1960 e 70, as janelas foram retiradas fechadas com alvenaria. Para recompor, tivemos de quebrar reboco e analisar as diferenças entre os tijolos para chegar à configuração original, que tem uma marcação horizontal forte – revela Eifler.
Foram investidos cerca de R$ 8 milhões no projeto. Depois de quarta-feira, quando será aberta ao público, a loja vai funcionar de segunda a sexta, das 9h às 19h, e nos sábados das 9h às 18h.