Um crustáceo foi o termo mais lembrado na audiência pública realizada na noite de quinta-feira (8), na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, para debater a situação do Cais Mauá. O debate terminou prejudicado pela chuva forte próxima ao horário de início (19h), fazendo com que as galerias do plenário Otávio Rocha se mantivessem com cerca de 35 interessados em debater o futuro da conturbada área portuária do Centro Histórico.
Em 30 de maio, o governo do Estado anunciou a rescisão unilateral do contrato com a concessionária responsável pela obra. Foi apresentada uma lista de motivos que levaram a obra a pouco evoluir ao longo de nove anos desde a assinatura do contrato.
O vereador Marcelo Sgarbossa (PT) foi um dos que pediram a palavra para lembrar o crustáceo em questão, famoso por se movimentar para os lados em vez de andar para frente, mas dessa vez apontando para o Palácio Piratini.
— Eu fiquei acompanhando se alguém chamaria o governador Eduardo Leite de caranguejo. Porque foi do que nós fomos chamados quando ajuizamos uma ação civil pública lá em 2015 por motivos muito semelhantes aos que levaram o governador a rescindir o contrato — declarou o petista, que cobrou, agora, um projeto simples de uso imediato para a cidade e sugeriu uma indenização pelo tempo que a cidade deixou de usufruir do espaço.
O discurso encontrou eco em diferentes entidades, que uma a uma reclamaram de terem sido estigmatizadas por políticos e imprensa por não concordarem com o projeto inicial.
— Bastava uma pesquisa sobre os membros desse consórcio para mostrar que não eram pessoas confiáveis. Deu no que deu. Operação Polícia Federal aqui e no Rio de Janeiro. Mas quando contestamos, nós éramos os caranguejos, os que não queriam o desenvolvimento da cidade — reclamou José Fonseca, do coletivo A Cidade que Queremos.
Sobre o futuro próximo, a audiência levantou dúvidas a respeito do Cais Embarcadero, projeto que pretende explorar uma área próxima à orla do Guaíba revitalizada. Inicialmente firmado por empresários locais em parceria com o consórcio responsável pela obra do Cais, o projeto ganhou a simpatia do Piratini para explorar o espaço por até quatro anos sem a necessidade de licitação.
— Com a mão direita, o governador rompeu o contrato. Mas com a esquerda, deu autorização para empresas explorarem uma área sem licitação. Eu não quero ser contra ou a favor, mas eu quero entender — questionou o deputado estadual Sebastião Melo (MDB), representante da Assembleia na discussão.
Ao final da audiência, o presidente da sessão, vereador André Carus (MDB), deu três encaminhamentos à pauta: uma visita de comitiva da Câmara de Vereadores a área do Cais, uma audiência com a Secretaria de Governança e Gestão Estratégica, responsável pelo replanejamento do futuro do Cais no governo Eduardo Leite, e um questionamento junto à EPTC sobre um dos pontos polêmicos do Cais Embarcadero: a presença de 1,6 mil vagas de estacionamento no local sem um estudo de impacto ambiental no Centro de Porto Alegre.