O cenário de um dos principais pontos turísticos de Porto Alegre tem iniciado as semanas marcado por grande concentração de lixo. Nas últimas segundas-feiras, a orla do Guaíba amanheceu com o chão repleto de garrafas de vidro, copos e sacos plásticos, cascas de frutas e outros resquícios do lazer de parte da população da Capital. Os resíduos sólidos dividem espaço com o trecho revitalizado, entregue em meados do ano passado. A cena destoa das imagens compartilhadas por usuários em redes sociais, que destacam as melhorias e o famoso pôr do sol de cartão postal.
Um dos termômetros que permite prever sujeira excessiva no local no primeiro dia útil da semana é a condição do tempo no dia anterior. A exemplo do último domingo (23) — quando o sol e um calor fora de época agraciaram a Capital no primeiro fim de semana de inverno do ano — dias de tempo bom são indício de grande circulação de pessoas pela orla. Com o aglomerado no local, as cenas de lixo ocupando boa parte do espaço público são recorrentes.
Desde agosto do ano passado, a manutenção do trecho revitalizado é de responsabilidade da Uber. A empresa e a prefeitura assinaram contrato de um ano que prevê a adoção do espaço público. A empresa de transporte por aplicativo gerencia a conservação e a zeladoria também das rótulas das Cuias e da Loureiro da Silva, além da Praça Júlio Mesquita e do canteiro central da Avenida Presidente João Goulart. A limpeza dos banheiros e a coleta de lixo estão presentes no acordo.
O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado (CAU-RS), Tiago Holzmann da Silva, afirma que esse fenômeno é, infelizmente, normal em grandes aglomerações. Como uma das medidas que podem ajudar a resolver o problema em curto prazo, o arquiteto indica mutirões de limpeza na madrugada. Ele destacou que esse tipo de força-tarefa é comum e demonstra bons resultados.
— As soluções imediatas são mais lixeiras e um mutirão de limpeza na madrugada da segunda-feira, como fazem após grandes eventos, nas praias e nos centros urbanos — explicou.
Silva afirmou que encontrar o ambiente limpo ajuda a evitar a produção de mais lixo no local. O profissional também destaca ações educativas como boas ferramentas para conscientizar a população e diminuir o acúmulo de lixo no local.
Na manhã desta segunda, o empresário Waldo Dias, 54 anos, carregava um saco preto, recolhendo o excesso de lixo no local. Morador do Centro há mais de uma década, ele culpa a falta de educação dos frequentadores do local.
— Eu posso cobrar ter mais lixeiras aqui na orla, e vou fazer isso. Mas não posso exigir do prefeito a limpeza se as pessoas não têm educação e jogam o lixo no chão — reclama.
Prefeitura e Uber defendem educação ambiental como solução
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams) defende que o melhor caminho para reverter o problema é o da educação ambiental. A pasta e a Uber destacaram, por meio de nota conjunta, que o plano operacional da empresa no espaço inclui a utilização de 56 lixeiras duplas — uma com capacidade de 40 litros e outra com 20 litros — "totalizando capacidade para 3.360 litros de resíduos".
"Com os eventos dos últimos finais de semana, foi montada uma operação especial com acréscimo de 10 contentores triplos, com capacidade de até 240 litros cada", diz trecho do comunicado.
A Smams e a Uber entendem que além dos serviços do setor público e privado, os frequentadores têm de colaborar para manter o espaço limpo. As entidades informaram que colocação de mais lixeiras e contentores é estudada, mas salientaram que é observado "uma grande quantidade de recipientes não utilizados em toda sua capacidade".
A secretaria se comprometeu a intensificar atividades presenciais de conscientização na região, nos fins de semana, conversando com os usuários. A colocação de mais lixeiras no local é estudada.
João Gianesi Netto, presidente da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), afirma que um estudo detalhado das áreas mais frequentadas nesse tipo de espaço público é fundamental para prever onde devem ser instalados locais de recebimento de lixo. A medida, segundo Netto, condiciona os usuários ao descarte adequado. O dirigente também destaca a educação ambiental como um fator importante por reverter cenários iguais a esse:
— A educação ambiental tem de ser repetitiva. E esse trabalho repetitivo tem de ser impactante.
Como exemplo de resultado positivo de campanhas mais incisivas, Netto cita o metrô de São Paulo. Segundo ele, o local passou a ser mais limpo e conservado após campanhas educativas mais fortes.
Ações para diminuir o lixo
A prefeitura de Porto Alegre e a Uber anunciaram, nesta segunda-feira, medidas que serão implementadas e manobras que estão em estudos para diminuir o acúmulo de lixo na região.
Medidas prometidas:
- A partir da próxima segunda-feira (1º), a limpeza da orla terá início a partir das 7h da manhã.
- A Smams irá intensificar atividades presenciais na orla, conversando com os frequentadores. Segundo a pasta, a medida visa "sensibilizar quanto à necessidade de se responsabilizar pelos seus resíduos, de forma a preservar o que é de todos".
- A Uber vai promover ações educativas entre os usuários do aplicativo que frequentam o local.
Medidas em análise:
- A necessidade de estender o horário de recolhimento dos resíduos aos domingos está em estudo. Atualmente, o processo é encerrado às 17h30min.
- A colocação de mais lixeiras e contentores também é avaliada.
Colaborou Tiago Boff