As pessoas não entenderam – um dia vão entender, tomara que não demore. O espaço público ainda NÃO é, na cabeça delas, um lugar que pertence a todos, inclusive a elas mesmas. É um lugar que não pertence a ninguém. Veja o caso da orla.
A melhor coisa que aconteceu em Porto Alegre nos últimos tempos completa um ano no próximo sábado: aquele quilômetro entre o Gasômetro e a Rótula das Cuias, inaugurado em 29 de junho de 2018, foi um solavanco de autoestima em uma cidade que não encontrava motivos para se orgulhar. Mas enfim encontrou um.
Só que ao longo de 12 meses, em todos os finais de semana com tempo bom, montanhas de lixo se espalharam pelo gramado, pelas arquibancadas, pela areia e pelas calçadas. A Uber, que adota a área, diz recolher três toneladas semanais de porcaria – o grosso, claro, aos sábados e domingos.
Como é possível maltratarmos o local que nos orgulha? Em GaúchaZH, na reportagem de Tiago Boff, que mostrou nesta segunda-feira (24) o lixaredo na orla, leitores disseram que faltam lixeiras. Acho uma graça: se o cidadão consegue trazer o lixo, supõe-se que também consiga levar. Mas não. Já que o espaço "não é de ninguém", o problema não é dele – embora seja ele quem desfrute da área.
Experimente botar a mesma pessoa em um shopping: ainda que faltem lixeiras, ela terá vergonha de jogar papel no chão, porque aquele é um ambiente privado, sabe-se que pertence a "alguém". A coisa vai mudar quando essa consciência – de que a orla é minha, o dinheiro da prefeitura é meu, menos lixo é melhor para mim – produzir na cidade o mesmo orgulho que a nova orla já conseguiu.