Foi uma cerimônia marcada pelo tom de desabafo e críticas aos críticos. Em estrutura montada na orla do Guaíba, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, fez a entrega oficial do Parque Moacyr Scliar, o trecho de 1,3 quilômetro revitalizado ao longo dos últimos três anos.
Nos discursos de autoridades, o tom de alívio e comemoração pelo término foi somado a menções sobre "caranguejos" — referência a quem critica iniciativas como a revitalização da orla. Logo no início das falas, o presidente da Câmara Municipal, Valter Nagelstein (MDB), citou:
— Que bom que isso aqui (o Guaíba) não é um mar. Porque, se fosse, teria caranguejo.
Na solenidade, também estavam presentes o ex-prefeito José Fortunati e o vice em seu segundo mandato, Sebastião Melo, em cuja gestão a revitalização foi apresentada e iniciada. Fortunati lembrou da polêmica sobre a revitalização e sobre a contratação do urbanista Jaime Lerner, autor do projeto.
— Onde Jaime Lerner chega, o tapete é estendido pelo seu conhecimento técnico. Realizamos várias reuniões públicas, e o ponto que infelizmente ficou foi que, ao fazer a exposição pública do projeto, ele foi ofendido. Ofensas pessoais, com palavras de baixo calão. É importante lembrar das dificuldades que um projeto dessa envergadura enfrenta — disse o ex-prefeito.
Marchezan saudou os administradores anteriores e comemorou o final de uma iniciativa que "enfrentou todas as dificuldades, absolutamente previsíveis". E relacionou as críticas sobre a revitalização ao debate do pacote de mudanças na gestão do município que tramita na Câmara Municipal.
— Inovar, mudar, fazer reforma sempre dói. E sempre tem caranguejo nesse caminho. A escolha é: estaremos com os caranguejos ou estaremos com os inovadores, que fazem a mudança de nossa cidade? As mudanças na Câmara obviamente terão os contrários, que não representam o futuro da cidade. Quero agradecer à sociedade civil organizada, que está se posicionando a favor de Porto Alegre — afirmou, referindo-se ao apoio manifestado por entidades empresariais.
Atraso e custo maior
A reforma termina com 14 meses de atraso e custo de R$ 71,7 milhões — R$ 11,7 milhões mais cara do que o orçado. O trecho revitalizado é de 1,3 quilômetro, e vai da Usina do Gasômetro até a Rótula das Cuias. Tornou-se uma área de lazer completamente voltada para o Guaíba, com arquibancadas, deques e passarelas sobre a água. Sanitários, ciclovia, bicicletários e quadras esportivas também estarão à disposição de quem visitar o espaço a partir de hoje.
Da Rótula das Cuias em diante, não deve haver mudanças tão cedo. Com projeto, o trecho entre o Anfiteatro Pôr do Sol e o Parque Gigante tem apenas metade da verba assegurada para sua execução — o plano para a parte entre a Rótula das Cuias e o anfiteatro não existe sequer no papel. Segundo a prefeitura, o escritório de negócios das Nações Unidas iniciou um estudo de viabilidade econômica para os três módulos. A documentação deve ser concluída no primeiro semestre do ano que vem.
— A gente quer o apoio das entidades para avançar no resto da orla, com recursos da iniciativa privada. Porque não temos recursos em caixa para fazer isso — disse Marchezan.
ÁUDIO: ouça a entrevista do secretário municipal de Parcerias Estratégicas, Bruno Vanuzzi, ao Gaúcha Atualidade