A nova administração da empresa Cais Mauá do Brasil, responsável pelo projeto de renovação do cais em Porto Alegre, assumiu no ano passado prometendo lançar um "aperitivo" da revitalização da área ainda no começo de 2019. Um espaço de 40 mil metros quadrados localizado entre o Gasômetro e os armazéns deveria receber, até março, estacionamento, opções de alimentação e showroom de todo o empreendimento. Mas, faltando apenas dois meses para se encerrar o prazo, o local segue abandonado e sem qualquer sinal de movimentação.
GaúchaZH esteve na área no final da manhã desta segunda-feira (4) e não encontrou funcionário ou equipamento nas imediações da Usina do Gasômetro. Conforme a previsão inicial do diretor-presidente da Cais Mauá, Eduardo Luzardo da Silva, as obras para a atração temporária multiuso deveriam ter começado em novembro, com liberação de estacionamento em dezembro e entrega de todo o conjunto, incluindo áreas verdes e o showroom onde estão localizados seis pavilhões, no próximo mês.
Por trás dos muros e cercas que protegem o terreno, há apenas mato. A ideia era abrir o espaço para a população, enquanto a revitalização do cais propriamente dita não é retomada, e oferecer um vislumbre do que a renovação dos armazéns poderá trazer à cidade. Também seria uma estratégia para encorajar investidores a embarcar no projeto.
Na parte do cais, localizada logo mais ao norte, também não se observou nenhuma movimentação. Procurada por GaúchaZH, a administração da Cais Mauá do Brasil informou por meio da assessoria de comunicação que não se manifestaria sobre o andamento do cronograma ou o atraso na liberação da área de 40 mil metros quadrados. Empossado no começo de outubro, Luzardo afirmou em entrevista a GaúchaZH à época que a nova diretoria daria mais agilidade e "transparência" ao projeto.
– Entrega é a palavra. Transparência. Resultado. Chega de conversa. Chega de promessa – declarou Luzardo em 31 de outubro.
Nesta segunda, a informação repassada pela assessoria de imprensa é de que a empresa se manteria em silêncio por estar "focada em organizar as ações para 2019". Enquanto isso, a nova gestão do governo estadual segue formulando relatório sobre o andamento e todos os aspectos técnicos da revitalização do cais a pedido do governador Eduardo Leite.
A concessão do cais por 25 anos foi assinada no final do governo Yeda Crusius, mas, oito anos depois, as obras ainda não decolaram. Tudo parecia encaminhado após todas as licenças para a primeira fase do projeto serem fornecidas, o que permitiu a assinatura da ordem de início das obras em fevereiro do ano passado. A área chegou a ser limpa e cercada, mas uma operação da Polícia Federal envolvendo antigos gestores espantou investidores, motivou novas trocas de diretoria e interrompeu os trabalhos.
Governo estadual deverá cobrar explicações na próxima semana
Deve ser marcada para a próxima semana reunião entre o governador Eduardo Leite, secretários da sua gestão e diretores da empresa Cais Mauá do Brasil. Leite, que solicitou relatório completo sobre a situação do projeto e eventuais entraves, pretende cobrar da concessionária um prazo para o início das obras e um cronograma confiável após sucessivos atrasos e frustrações.
– A ideia é assistir a uma apresentação sobre o projeto, mas também cobrar que ele tenha início de fato. Por enquanto, não tem nada lá (na área do Cais) ainda. Se isso não ocorrer, poderemos começar a pensar em impor sanções previstas em contrato – afirma o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Dirceu Franciscon.
O secretário preferiu não detalhar que eventuais sanções poderiam ser impostas, e informou que essa alternativa deverá ser analisada pela área jurídica do governo. Em tese, o contrato prevê opções como multa ou até, em último caso, rescisão.
O governador também deverá definir que secretaria ficará responsável por fiscalizar o andamento do cronograma e fazer novas cobranças aos empreendedores em caso de atrasos.
– Por enquanto, não estamos pensando em sanções. O que queremos é que o projeto saia do papel de vez e beneficie toda a população, que não se resume aos moradores de Porto Alegre. Todos querem aproveitar o Guaíba – comenta Franciscon.
O histórico da demora
- Há três décadas surgiram os primeiros planos para revitalizar o Cais Mauá transformando-o em espaço de lazer, gastronomia e cultura.
- Após sucessivos projetos fracassados, em 2010 a então governadora Yeda Crusius assinou contrato para revitalização do cais por meio de concessão à iniciativa privada.
- Uma série de obstáculos legais e burocráticos atrasa a concessão de todas as licenças necessárias para o começo das obras.
- Em dezembro de 2017, a prefeitura concede as licenças de instalação que permitem o início das obras na primeira fase do projeto (recuperação dos armazéns).
- Em fevereiro de 2018, é assinada ordem de início da reforma. As obras começam por limpeza e cercamento do terreno.
- Em abril de 2018, operação da Polícia Federal envolve antigos gestores da Cais Mauá em suspeitas de irregularidades envolvendo fundos de investimento (que não incluem o fundo do cais). Mas isso espanta investidores e interrompe o cronograma.
- Há sucessivas mudanças nas empresas e nos gestores responsáveis por comandar a revitalização, mas as obras seguem suspensas. A atual diretoria da Cais Mauá promete lançar uma "prévia" da revitalização até março de 2019, mas o início das obras também atrasa.