Com significativa presença da classe política gaúcha, a prefeitura de Porto Alegre concedeu autorização para o início das obras no Cais Mauá em um evento na manhã desta terça-feira (5).
A cerimônia de entrega da licença de instalação do empreendimento, no pórtico central do cais, contou com a participação do governador José Ivo Sartori, do prefeito Nelson Marchezan, além de ex-gestores como Germano Rigotto, José Fortunati e de uma série de secretários municipais, estaduais, deputados e vereadores - em uma demonstração do peso político e social atribuído à obra prevista para começar até março de 2018.
— Esse é um marco histórico para todos os gaúchos — declarou o governador.
Às 11h45 min, quando a licença foi entregue após sete anos de tratativas e estudos envolvendo a revitalização do porto, Marchezan chamou diversos integrantes e ex-integrantes dos governos da Capital e do Estado para repassar o documento aos representantes da empresa Cais Mauá Brasil.
Com a licença em mãos, a empresa vai formalizar o cronograma de obras com o governo estadual, responsável pelo contrato, e buscar as empresas que tocarão o serviço.
— Daremos preferência às empresas gaúchas — garantiu a presidente da Cais Mauá Brasil, Julia Costa, durante o evento.
Marchezan destacou que a concessão da licença representa a abertura da Capital a investidores privados:
— Não temos como oferecer serviços públicos de qualidade aos mais pobres sem contar com investimentos privados — disse o prefeito, que aproveitou para criticar adversários do projeto:
— Alguns poucos e barulhentos não queriam entregar o cais à população.
Julia Costa buscou um tom mais amistoso:
— Os críticos nos ajudaram a aperfeiçoar o projeto.
A primeira fase de obras prevê o restauro de 11 armazéns e a construção de 10 praças, em dois anos, a um custo de R$ 80 milhões. As etapas seguintes preveem prédios comerciais e um centro comercial. O prazo total é de seis anos, e cerca de R$ 500 milhões deverão ser aplicados.
Evento reuniu políticos com histórico de desavenças
A reforma ainda não saiu do papel, mas a iniciativa já conseguiu um feito considerável: reuniu em um mesmo ambiente caciques políticos gaúchos de matizes variados e até histórico de desavenças. A presença maciça de gestores graduados, secretários municipais e estaduais, deputados e vereadores demonstrou a relevância estratégica atribuída à revitalização da área.
Marchezan fez questão de convidar antecessores no Paço Municipal e ex-governadores para o evento realizado na manhã de terça-feira no pórtico central do cais. O ex-prefeito José Fortunati foi saudado várias vezes por Marchezan. O clima amistoso entre ambos marcou uma mudança significativa em relação a menos de um ano atrás, quando ambos trocavam farpas em público. Logo depois de assumir o cargo, no final de janeiro, o atual prefeito convocou a imprensa para revelar um rombo previsto de mais de R$ 800 milhões nos cofres municipais herdado da gestão anterior. Irritado, Fortunati reagiu:
— Marchezan está inflando os números na tentativa de vender o caos e depois posar de salvador da pátria.
Na cerimônia desta terça, restaram apenas elogios para o antecessor e todos os outros políticos e gestores que auxiliaram de alguma forma na tramitação do projeto de revitalização. Yeda Crusius, que deu início à tramitação do atual projeto de renovação do porto e também travou embates políticos com o prefeito nos últimos anos, chegou a confirmar presença no evento, mas desistiu de última hora para não perder um voo para Brasília marcado para as 11h20min.
O Palácio Piratini esteve representado pelo atual ocupante, governador José Ivo Sartori, e pelo ex-governador Germano Rigotto. Pelo menos oito secretários municipais e quatro estaduais, fora secretários adjuntos, também compareceram. Nos discursos, todos ressaltaram a importância histórica da autorização para obras aguardadas há cerca de três décadas no local — desde quando surgiram as primeiras ideias de reaproveitar o espaço junto ao Guaíba. Enquanto Sartori defendeu a superação de disputas políticas para colocar em prática projetos como o do Cais, Marchezan elogiou os "vereadores corajosos" que apoiaram o projeto ao longo do tempo:
— A história não fala dos covardes.