Três décadas depois de Porto Alegre lançar os esforços para revitalizar seu cais, o projeto de recuperação da área dará um passo decisivo nesta terça-feira (5).
Em uma cerimônia programada para contar com centenas de participantes, a prefeitura vai conceder a aguardada licença de instalação para o empreendimento – autorização definitiva para as obras. A entrega do documento marca o estágio mais avançado do projeto de recuperar o Cais Mauá desde que a ideia começou a ser cogitada, no começo dos anos 1990.
Com a papelada em dia, a empresa Cais Mauá Brasil prevê começar em até três meses o restauro dos 11 armazéns e a construção de 10 praças – que aumentarão em 40% o número de áreas verdes no Centro –, e entregar a primeira fase do complexo em até dois anos a um custo total de R$ 80 milhões. Os empreendedores esperam, também, vencer desconfianças que cercavam a iniciativa como falta de capacidade financeira.
— Temos todos os recursos necessários para começar e completar a obra. Os investidores só aguardavam a liberação para disponibilizar os recursos — afirma o diretor de Operações da Cais Mauá Brasil, Sérgio Lima.
Vencida a barreira burocrática – só a análise da última licença demorou um ano –, a empresa terá pela frente novas etapas a cumprir. A primeira será informar oficialmente o governo do Estado, responsável pelo contrato, sobre o licenciamento e formalizar o cronograma de obras em três etapas. A primeira fase inclui apenas a reforma dos armazéns e a entrega das praças. A construção das torres comerciais e do centro de compras, que completa as iniciativas previstas ao longo de 3,2 quilômetros da orla, não começará neste momento.
— A licença só contempla a reforma dos armazéns. A partir de agora, vamos providenciar o licenciamento os dois setores restantes, do Gasômetro e das docas — esclarece Lima.
A estratégia da Cais Mauá é recuperar os pavilhões enquanto finaliza os projetos e encaminha as autorizações para a construção de três torres comerciais no espaço das docas, perto da Estação Rodoviária. O plano é entregar os armazéns e passar a erguer imediatamente os dois prédios de escritórios e um hotel.
Depois, restaria finalizar o projeto do centro comercial ao lado do Gasômetro, que começaria a ser construído em quatro anos, com entrega prevista de todo o complexo em 2024. O shopping deverá ter 14 metros de altura — cerca de metade da dimensão do prédio do Gasômetro, que tem 27 metros.
Oferta de locação deverá começar nas próximas semanas
Nas próximas semanas, a Cais Mauá Brasil vai iniciar a oferta dos espaços nos armazéns para locação de bares, lojas, restaurantes e pontos de comércio. Segundo o diretor de Operações da empresa, já há manifestações de interessados em abrir negócios no local.
— Recebemos muitas ligações de empresários interessados, mas faltava a licença definitiva. Agora, poderemos dar andamento à locação dos espaços — diz Lima, sem revelar os nomes dos interessados.
À medida que forem sendo definidos os locatários, será possível ter uma ideia mais clara de que tipo de negócio será montado em cada pavilhão. Até o momento, há definições mais genéricas envolvendo operações de alimentação, comércio, cultura e lazer.
O secretário municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade, Maurício Fernandes, afirma que a licença levou um ano tramitando por se tratar de um projeto complexo envolvendo patrimônio histórico.
— Há uma série de exigências que têm de ser cumpridas, compensações ambientais, normas para destinação dos resíduos — afirma Fernandes.
Se a burocracia foi superada, o projeto ainda enfrenta a objeção de quem rejeita grandes construções na orla. A Associação Amigos do Cais do Porto (Amacais), por exemplo, é contra a instalação do centro comercial no cais. Sérgio Lima acredita que o empreendimento agradará à maioria da população:
— Garanto que o Cais Mauá não será inferior aos melhores do mundo. Vamos fazer uma obra de excelência. Entendemos que é um espaço nobre, e os gaúchos vão se orgulhar dele.
O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, fez questão de convidar antecessores como José Fortunati e José Fogaça para a cerimônia a ser realizada a partir das 10h30min desta terça-feira no Pórtico Central do cais. O evento deverá receber cerca de 300 pessoas.
— É um momento muito importante porque dá início prático a uma perspectiva de futuro para revitalizar o Centro. Em segundo lugar, é um marco para quem quer investir na cidade e, em terceiro, é um sinal do caminho a seguir: buscar recursos privados para melhorar a qualidade de vida da população — sustenta Marchezan.