Sonho com o dia em que poderei tomar uma taça de espumante, um chope ou mesmo uma água mineral assistindo ao espetáculo do pôr do sol em frente a um dos armazéns do Cais Mauá, devidamente reformados. Talvez eu já esteja tão velhinha, que precise de bengala e peça apenas um chá de erva-cidreira, mas, se viver para ver esse espaço devolvido aos porto-alegrenses, concluirei que terão valido a pena as brigas que comprei com desconhecidos e conhecidos em defesa da revitalização pela iniciativa privada.
Passei da idade de acreditar em fantasias e nunca fui dada a vender ilusões, como a de que o cais pode ser revitalizado pelo poder público. Se não há dinheiro para o essencial – saúde, segurança e educação – e se Estado e prefeitura atrasam até o salário dos seus funcionários, não é dos impostos que sairá o dinheiro para uma obra desse porte.
Os que me criticam por aceitar a construção de um centro comercial, de um hotel e de um edifício de escritórios sustentam que é possível reformar os armazéns sem erguer prédios que os investidores consideram necessários para garantir a viabilidade econômica. Sugerem um concurso público entre arquitetos, para escolher o projeto perfeito. Esquecem que há um contrato assinado, que a área foi concedida dentro da lei e que várias tentativas de inviabilizar o negócio fracassaram na Justiça.
Os vencedores originais da licitação passaram o negócio adiante. Há dúvidas sobre os prazos para a execução das obras e incerteza em relação ao dia em que os velhos armazéns estarão transformados em um complexo de cultura e lazer e as pessoas poderão circular, sem pagar nada, pelas áreas públicas. A licença de instalação demorou para sair, mas será entregue pelo prefeito Nelson Marchezan na terça-feira, às 10h30min. Nesse dia, ou hoje mesmo, começará a guerra santa nas redes sociais contra o projeto. Aos empreendedores, faço apenas um pedido: resistam. Um dia, talvez, a vida pulse no Cais Mauá.