O trecho revitalizado da orla do Guaíba recebeu mais de 200 mil visitantes desde a inauguração, há 43 dias, segundo estimativa da prefeitura de Porto Alegre. São multidões que se deslocam até a Avenida Edvaldo Pereira Paiva todo final de semana, carregando chimarrão, cadeira de praia ou somente a saudade do pôr do sol mais famoso do Estado.
Mas, com apenas 1,3 quilômetro entregue, o reencontro do porto-alegrense com o Guaíba não está completo. Há cinco projetos que ainda precisam sair do papel entre as imediações da rodoviária e a área do antigo Estaleiro Só, perto do BarraShoppingSul — e a Capital teria então um total de sete quilômetros às margens do Guaíba repaginados.
Em uma previsão otimista, as imagens de projeção computadorizadas apresentadas no infográfico (que são ilustrativas e podem sofrer alterações) podem se concretizar até 2024. O projeto que deve levar mais tempo é a revitalização do Cais Mauá: são seis anos. Embora não haja toda a verba e nem as licitações feitas, o secretário municipal de Parcerias Estratégicas, Bruno Vanuzzi, acredita que os trechos da orla entre a Rótula das Cuias e o Parque Gigante devem sair nesse período também.
Obras à beira do Guaíba não têm um histórico de celeridade. A ideia de dar cara nova ao Cais tem três décadas de tentativas frustradas. A licença definitiva para o começo das obras foi liberada em dezembro, mas não se vê grandes avanços. Especialmente após uma operação da Polícia Federal, em abril, que apurou fraude no fundo que gerou recursos para a revitalização — não mais integrante da gestão do consórcio. A empresa reconheceu que isso provocou recuo de investidores.
O empreendimento na área do Estaleiro Só, que ficou praticamente abandonada mais de duas décadas, enfrentou entraves por mais de 10 anos. Foi, inclusive, objeto de consulta popular em 2009. As obras devem ser iniciadas neste ano.
E não foi o trecho já revitalizado da orla que se safou da demora: a prefeitura já havia apresentado o projeto à população em 2012, com expectativa de concluir as obras em 2013.
Professora de Urbanismo na PUCRS, que fez seu doutorado sobre a orla, Cibele Figueira destaca que as margens do Guaíba estavam abandonadas e desqualificadas, o que trazia estresse para usuários, pois não havia espaços definidos, e tornava o ambiente mais perigoso.
— De alguma maneira, ocupar espaços e dominar eles é uma maneira de tornar ele seguro — destaca.
Ela elogia o trabalho feito na Orla Moacyr Scliar, mas demonstra duas preocupações com os próximos projetos: acredita que precisaria haver um desenho único de orla, portanto os empreendimentos devem se preocupar em fazer uma complementação à estética de um projeto maior, e preocupa-se com os impactos no trânsito. Com o trecho recém inaugurado, já é possível ver muito congestionamento e dificuldade de acesso.
— Isso já está interferindo na entrada de Porto Alegre. Imagina um shopping na área do cais — pondera.
Essa também é uma das preocupações de Rafael Passos, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Estado (IAB-RS).
— São feitos grandes projetos de grande impacto sem um plano que olhe como um todo. Fica carente essa etapa de planejamento, para prever a integração entre si e com a cidade.
Por meio de assessoria de imprensa, a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana afirmou que "todos os projetos passam, em sua concepção, por estudos de viabilidade urbanística, e entre os pontos analisados, está o estudo de impacto da mobilidade".