O Cais Mauá chegará ao final desta década mais bonito, renovado e acessível à população. No entanto, estará menos verde. Ao menos é o que demonstra o capítulo do Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) sobre a vegetação do local. Para viabilizar o projeto, será preciso cortar 330 árvores - outras 19 serão preservadas ou transplantadas.
O número é quase três vezes superior à quantidade de vegetais extraídos para a duplicação da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, em 2013, para a Copa do Mundo. Na época, ativistas ocuparam alguns exemplares, inclusive construindo uma casa sobre os galhos de uma das árvores. Chamado Ocupa Árvores, o grupo permaneceu no local por 43 dias para evitar os 115 cortes programados. Acabou sendo retirado pela Brigada Militar, em uma ação realizada de surpresa na madrugada de 29 de maio daquele ano.
Como compensação para os cortes no Cais Mauá, está previsto o plantio de 769 mudas. Mas não é certo que elas serão plantadas nas mesmas áreas onde ocorrerão os cortes. Conforme os dados do EIA-Rima, entre 70% e quase 100% das árvores são exóticas, percentual que varia conforme os quatro setores que serão influenciados pelas obras do Cais Mauá - Gasômetro, Praça Brigadeiro Sampaio, Armazéns e Docas.
Outro fator que reduziria ainda mais o verde na região é uma mudança no projeto. O teto verde previsto para o shopping que será construído próximo à Usina do Gasômetro deixaria de existir. Conforme o presidente da NSG Capital (investidora do empreendimento), Luiz Eduardo Franco de Abreu, a instalação do teto verde resultaria em um aumento da altura do prédio. Por isso, a ideia estaria sendo reavaliada.
Um contraponto à redução das árvores é o investimento da empresa Cais Mauá do Brasil S.A. em praças da Capital. Serão entregues 10 praças (entre elas, uma revitalizada), totalizando 11 mil metros quadrados de área verde.
O presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Alfredo Ferreira, disse que a entidade tem participado de negociações com o Cais Mauá. Entre os resultados das conversações foi obtida a redução da altura do shopping de quatro para dois andares, segundo Ferreira.
- A gente conseguiu que o dano fosse menor. Sobre as árvores, a pessoa que estava vendo isso saiu da Agapan, por isso não estamos muito por dentro. Talvez ainda haja alguns protestos a fazer - completou.
Zero Hora encaminhou por e-mail perguntas à empresa Cais Mauá do Brasil S.A., mas, até o final da tarde desta terça-feira, não havia recebido resposta.
Documento avalia os efeitos dos ventos
Um capítulo do EIA-Rima detalha os efeitos - bons e ruins - dos ventos sobre o Cais Mauá. O texto faz até imaginar a cena mais prazerosa: "Em dias de céu claro e ventos calmos, o aquecimento do centro de Porto Alegre pode gerar uma brisa lacustre que pode beneficiar os usuários da área do Cais Mauá". O estudo foi feito pela ABG Engenharia e Meio Ambiente.
O lado ruim das ventanias se refere à torres que serão construídas no empreendimento, à beira do Guaíba e perto da rodoviária. "A construção dos prédios altos, prevista no projeto do Cais Mauá, pode provocar alterações na intensidade e direção dos ventos no entorno imediato da edificação. Os ventos fortes, ao atingirem os prédios isolados com as dimensões previstas no projeto, podem gerar nas imediações correntes de ar intensas e turbulentas com potencial de causar desconforto às pessoas, risco de queda e suspensão de poeira e outros materiais leves", aponta o texto.
Outro alerta feito no estudo diz respeito à época mais fria na Capital, o outono e o inverno. No período, "os ventos fortes que sopram dos quadrantes sul a sudoeste podem provocar rajadas fortes, atingindo com mais intensidade a porção sul do Cais Mauá, a área mais desprotegida. Elas são mais comuns do meio da tarde ao início da noite, período em que se espera maior circulação de pessoas tanto no Cais Mauá quanto no seu entorno".
Setor do Gasômetro terá 227 árvores retiradas
Foto: Mateus Bruxel
Gasômetro
227 vegetais suprimidos
Três vegetais realocados/preservados
Exóticos: 80%
Compensação: 515 mudas
Praça Brigadeiro Sampaio
15 vegetais suprimidos
Um vegetal transplantado
Armazéns
Oito vegetais suprimidos
Um vegetal mantido ou transplantado
Exóticos: 70%
Compensação: 16 mudas
Docas
57 vegetais suprimidos
14 vegetais realocados
Exóticos: 72%
Compensação: 145 mudas
Passagem da Ramiro Barcelos
23 vegetais suprimidos
Exóticos: perto de 100%
Compensação: 44 mudas
Total de supressões: 330 árvores
Total de transplantes ou preservações: 19
Total de mudas a compensar: 769