Após nove meses no cargo, Solimar Amaro pediu demissão da presidência da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) nesta terça-feira (17). GaúchaZH apurou que ele vinha recebendo ameaças desde que passou a revisar todos os contratos e convênios dentro da fundação e cortar pagamentos considerados irregulares e que ele inclusive andava com segurança. No lugar dele, assume o comando da Fasc, provisoriamente, o vice-presidente, Joel Lovatto.
O ex-presidente conversou com a reportagem, porém não quis falar sobre as ameaças. Sobre sua saída, disse que sempre esteve focado em uma gestão de qualidade, que classificou de empreendedora, mas, segundo ele, a Fasc tem "dificuldades de alinhamento e fluxos internos e externos". Também citou entraves na fiscalização dos pagamentos feitos pela fundação.
— Eu te confesso que a gente teve muita dificuldade por conta de resistências internas e externas. Por exemplo: nós tínhamos empresas que tinham problemas seríssimos de prestação de contas. Eu acho isso um absurdo e nós cortamos esse formato de liberação de pagamentos se tu não tivesse a devida prestação de contas legitimada.
Para Amaro, há vícios internos históricos dentro da Fasc que impactam em questões graves, como o aumento de moradores de rua, por exemplo.
— É uma responsabilidade que nós temos, mas a gente vê o contrário, a cidade crescendo em número de moradores de rua. Isso é uma situação que muito me impacta e a gente se sente corresponsável, mas com uma dificuldade tremenda de fazer essa roda girar.
Ele afirma ainda que a falta de recursos é um dos impeditivos para melhorar o atual cenário da assistência social da cidade, mas que está longe de ser o único.
— Claro que existe falta de recursos. Mas por vezes o próprio sistema, aquela pessoa (técnicos) que deveria gerar transformação, que deveria ajudar para que essas pessoas (os auxiliados) pudessem ter uma emancipação e uma vida melhor, acaba mantendo essa pessoa nessa situação. Talvez ele ache que seja importante manter essa pessoa nessa situação.
Solimar Amaro também criticou a burocracia do setor público. Citou o caso dos pagamentos, que precisam passar por diversas etapas antes de ser liberados. Sobre a relação com Nelson Marchezan, disse que nuca teve problemas com o prefeito.
Com a saída de Solimar Amaro da presidência da Fasc, já são 13 as baixas do governo de Nelson Marchezan.
Relembre as baixas:
Câmara Municipal
28/08/2017 - Cláudio Janta, líder do governo
A saída de Cláudio Janta (SD) da liderança no Legislativo já havia sido ventilada devido à sua contrariedade em relação a projetos de Nelson Marchezan enviados à Câmara. Antes da saída, a discordância ficou ainda mais explícita: Janta ingressou na Justiça contra o município buscando manutenção da gratuidade, total ou parcial, da segunda passagem de ônibus. Fez isso antes da própria oposição. Ao ser informado de sua saída pela imprensa, o vereador se disse surpreso com a decisão do prefeito.
Desenvolvimento Econômico
16/08/2017 - Ricardo Gomes, secretário
Contrariado com o projeto que altera o cálculo do IPTU em Porto Alegre, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Ricardo Gomes, pediu exoneração do governo em 16 de agosto. Vereador eleito pelo PP, ele deve reassumir sua cadeira na Câmara Municipal, onde promete votar contra o projeto. Gomes foi o segundo progressista a deixar a prefeitura: o primeiro foi Kevin Krieger, da pasta de Relações Institucionais.
Procempa
09/08/2017 - Michel Costa, diretor
Em reunião no gabinete do prefeito, o diretor da Procempa, Michel Costa, pediu para sair. Um dos favoritos de Marchezan, Costa deixou o órgão em meio um conflito de interesses: a empresa que passou a testar GPS nos ônibus da Capital, um projeto liderado pelo titular da Procempa, tinha o próprio Michel Costa como sócio. A essa altura, ele também era presidente do Conselho de Administração da Carris. Em 9 de agosto, Costa pediu para deixar o governo.
DMLU
07/08/2017 - Adenir Matos dos Santos, diretor-geral
Diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Adenir Matos dos Santos, foi o segundo a deixar o cargo no governo Marchezan em menos de dois meses, no começo de agosto. Em nota, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, pasta da qual o DMLU faz parte, disse que o pedido de exoneração foi "por motivações pessoais". O consultor empresarial, que foi selecionado através do chamado Banco de Talentos da prefeitura, ocupou o cargo em junho, quando o ex-diretor Álvaro de Azevedo foi demitido.
Cultura
31/07/2017 - Eduardo Wolf, secretário-adjunto
Secretário-adjunto da Cultura, o filósofo Eduardo Wolf deixou a prefeitura após o encerramento da nona edição do Festival de Inverno. À época, disse que precisava se dedicar a projetos inadiáveis em São Paulo. Assessores do governo, no entanto, revelaram outros motivos para a saída: o adjunto estaria frustrado com o governo. Em janeiro, quando foi chamado para a pasta, ele ficou de implementar o modelo que repassaria para entidades privadas sem fins lucrativos a gestão de espaços culturais como o Gasômetro e a Cinemateca Capitólio. Mas Marchezan priorizou outras áreas, deixando de lado o planejamento desenvolvido por Wolf.
Carris
11/07/2017 - Jacqueline Simões, procuradora
Em julho, Companhia Carris Porto-Alegrense registrou mais uma baixa em sua diretoria. Jacqueline Simões pediu demissão do cargo de procuradora. Ela havia sido empossada pelo prefeito Nelson Marchezan em 31 de janeiro. O diretor-presidente da Carris, Luís Fernando Ferreira, foi a primeira baixa do alto escalão do governo: ele pediu demissão 20 dias após assumir o cargo. Em nota enviada à GaúchaZH, a prefeitura informou que "a servidora manifestou motivos pessoais para a decisão".
DMLU
22/6/2017 - Álvaro de Azevedo, diretor-geral
Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Serviços Urbanos, à qual o DMLU está vinculado, a saída de Álvaro de Azevedo teria sido uma "decisão de gestão" da prefeitura. O ex-diretor era um dos 14 servidores nomeados para o município, no começo do mandato, a partir do chamado banco de talentos. A demissão teria como objetivo mudar o perfil à frente do cargo.
Direção de jornalismo
16/6/2017 - Alexandre Bach, diretor de jornalismo
Três semanas depois de assumir o cargo de diretor de jornalismo, Alexandre Bach deixou a prefeitura. Bach alegou dificuldade de conciliar o trabalho na prefeitura com a produção de livros – trabalho que priorizou desde a saída do Grupo RBS, onde atuou como editor-chefe do Diário Gaúcho.
Procuradoria-Geral
16/6/2017 - Bruno Miragem, procurador-geral
Advogado respeitado, Bruno Miragem deixou o cargo de procurador-geral do município negando desentendimento com o prefeito. Oficialmente, a informação é de que teria assumido com a missão de "organizar a casa" e, então, deixar o cargo para retomar a carreira de professor universitário.
Chefia de gabinete
1º/6/2017 - Neiva Maria Dalchiavon, coordenadora do gabinete
Fiel assessora de Marchezan há mais de uma década, acompanhou o atual prefeito na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados, além de ter participado da campanha para a prefeitura. Sua exoneração foi publicada no Diário Oficial do município com vigência desde 1º de junho. Segundo a assessoria de imprensa, Neiva pediu para sair alegando "razões pessoais".
Secretaria Municipal deRelações Institucionais e Articulação Política
4/5/2017 - Kevin Krieger, secretário
Peça-chave na eleição de Marchezan, ao afiançar o apoio do PP à candidatura e coordenar sua campanha, além de ser um dos principais nomes do secretariado, Kevin Krieger deixou o governo alegando "motivos pessoais". Nos bastidores, as razões apontadas para sua saída são a falta de autonomia e a pouca disposição de Marchezan para negociar com a Câmara.
Carris
20/2/2017 - Luís Fernando Ferreira, diretor-presidente
Menos de um mês depois de ter sido nomeado, o então diretor-presidente da Carris, Luís Fernando Ferreira, comunicou Marchezan que estava renunciando ao cargo. Segundo a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Ferreira teria alegado "outros projetos" para deixar o posto.