Uma das características do primeiro semestre da gestão de Nelson Marchezan na prefeitura é a perda frequente de integrantes dos primeiros escalões – até agora, a média é de uma baixa significativa por mês no governo. Pelo menos seis colaboradores de peso, com cargos de coordenação, direção ou comando de secretaria abandonaram o posto até agora. Há casos em que os nomeados não ficaram nem 30 dias no cargo antes de sair.
Entre as defecções estão a do ex-secretário de Relações Institucionais e Articulação Política, Kevin Krieger, a ex-coordenadora do gabinete de Marchezan e sua antiga assessora de confiança, Neiva Maria Dalchiavon, e o ex-procurador-geral do município, Bruno Miragem. O ex-diretor-presidente da Carris, Luis Fernando Ferreira, e o ex-diretor de Jornalismo da prefeitura, Alexandre Bach, permaneceram menos de um mês nos postos.
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Marchezan: "Se não for uma equipe de angustiados, estão no lugar errado"
Publicamente, todos alegam "razões pessoais" para seguir novos rumos. Cinco pessoas que tiveram ou têm acesso ao gabinete, que aceitaram conversar com ZH sob condição de anonimato, acreditam que outros fatores influenciam a debandada de auxiliares. Entre eles são citados o temperamento do prefeito, considerado "difícil", centralizador, e as condições exaustivas de trabalho. Marchezan costuma estender o horário dos servidores com cargo de confiança e fazer pedidos de serviço sem muita preocupação com o relógio.
– Muitas vezes, o trabalho vai até meia-noite ou mais – conta um ex-colaborador.
O prefeito chega ao Paço Municipal pouco depois das 8h e, por vezes, até faz refeições no local de trabalho para não perder tempo. A jornada se estende até por volta das 23h30min.
– O Marchezan é um bicho para trabalhar. Em relação a isso, não se pode criticá-lo – conta outra pessoa com conhecimento da rotina no gabinete.
Para alguns, porém, os constantes pedidos para que trabalhos sejam refeitos e a urgência de determinados prazos acabam causando contrariedade. O temperamento de Marchezan é outro ponto citado. As cobranças veementes e em público a subordinados são comuns – por vezes, em tom de voz elevado.
– O prefeito tem três assessoras diretas. Há cerca de um mês, uma delas saiu chorando do gabinete – confidencia uma pessoa que testemunhou a cena.
Marchezan nega ter tido qualquer dissabor com os principais colaboradores afastados. Ele diz que seu temperamento, na verdade, é movido pela "angústia":
– Quem está aqui para resolver (os problemas da cidade) tem de estar angustiado. Se não for uma equipe de angustiados, estão no lugar errado – diz Marchezan.
O perfil do prefeito também se revela nas redes sociais, nas quais alterna postagens pessoais (como quando publicou a foto de um prato de comida queixando-se da condição de solteiro) com manifestações políticas. Após ser forçado a retirar de pauta o projeto que desobrigava o reajuste anual dos servidores pela inflação, Marchezan publicou em 1º de junho um vídeo feito com o celular dizendo que "faltou coragem" a alguns vereadores. A iniciativa enfureceu até sua base. Após assistir às imagens, um apoiador do governo esbravejou:
– Não acredito que ele fez isso!
Para o líder do governo da Câmara, Clàudio Janta (SD), o relacionamento com a Casa vem melhorando.
– Hoje, a situação já é outra – garante.
CRONOLOGIA DAS BAIXAS
CARRIS
20/2/2017
Luis Fernando Ferreira, diretor-presidente
Menos de um mês depois de ter sido nomeado, o então diretor-presidente da Carris, Luis Fernando Ferreira, comunicou Marchezan que estava renunciando ao cargo. Segundo a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Ferreira teria alegado "outros projetos" para deixar o posto.
SECRETARIA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS E ARTICULAÇÃO POLÍTICA
4/5/2017
Kevin Krieger, secretário
Peça-chave na eleição de Marchezan, ao afiançar o apoio do PP à candidatura e coordenar sua campanha, além de ser um dos principais nomes do secretariado, Kevin Krieger deixou o governo alegando "motivos pessoais". Nos bastidores, as razões apontadas para sua saída são a falta de autonomia e a pouca disposição de Marchezan para negociar com a Câmara.
CHEFIA DE GABINETE
1º/6/2017
Neiva Maria Dalchiavon, coordenadora do gabinete
Fiel assessora de Marchezan há mais de uma década, acompanhou o atual prefeito na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados, além de ter participado da campanha para a prefeitura. Sua exoneração foi publicada no Diário Oficial do município com vigência desde 1º de junho. Segundo a assessoria de imprensa, Neiva pediu para sair alegando "razões pessoais".
PROCURADORIA-GERAL
16/6/2017
Bruno Miragem, procurador-geral
Advogado respeitado, Bruno Miragem deixou o cargo de procurador-geral do município negando desentendimento com o prefeito. Oficialmente, a informação é de que teria assumido com a missão de "organizar a casa" e então deixar o cargo para retomar a carreira de professor universitário.
DIREÇÃO DE JORNALISMO
16/6/2017
Alexandre Bach, diretor de jornalismo
Três semanas depois de assumir o cargo de diretor de jornalismo, Alexandre Bach deixou a prefeitura. Bach alegou dificuldade de conciliar o trabalho na prefeitura com a produção de livros – trabalho que priorizou desde a saída do Grupo RBS, onde atuou como editor-chefe do Diário Gaúcho.
DMLU
22/6/2017
Álvaro de Azevedo, diretor-geral
Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Serviços Urbanos, à qual o DMLU está vinculado, a saída de Álvaro de Azevedo teria sido uma "decisão de gestão" da prefeitura. O ex-diretor era um dos 14 servidores nomeados para o município, no começo do mandato, a partir do chamado banco de talentos do município. A demissão teria como objetivo mudar o perfil à frente do cargo.