O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, garantiu nesta sexta-feira (4), em passagem por Porto Alegre, que o governo não vai modificar a reforma trabalhista. A alteração na legislação, promovida durante o governo Michel Temer, em 2017, é criticada por setores da esquerda, inclusive o PT, partido do presidente Lula, que já defendeu a revogação das novas regras.
— Ninguém vai mexer em reforma trabalhista. O que precisamos é desonerar a folha. O grande desafio do mundo vai ser emprego, porque a tecnologia nos permite fazer mais com menos gente — disse Alckmin, a uma plateia formada por políticos e empresários na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
Segundo o vice-presidente, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a desoneração da folha será tratada pelo governo depois da conclusão da votação da reforma tributária.
O receio de uma revisão na reforma trabalhista foi exposto pelo presidente da Fiergs, Gilberto Petry, no discurso que abriu o evento.
— Numa época em que se reverencia o empreendedorismo, a inovação, e que se convive com estruturas de empresas flexíveis, como as startups, é fundamental que o Brasil não retroceda para evitar que sua economia seja excluída dos rankings internacionais por falta de competitividade — afirmou Petry.
A declaração de Alckmin contraria o discurso do ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Petista, Marinho tem dito que o governo quer rever pontos da reforma ainda neste ano.
Integrante da comitiva de Alckmin, o ministro gaúcho Paulo Pimenta, outro correligionário de Lula, não quis falar sobre a declaração. Em entrevista após a palestra, Pimenta disse que "seria uma indelicadeza" comentar uma declaração do vice-presidente que ele não acompanhou.
Lembrado de que estava na mesa do evento, ao lado do púlpito no qual Alckmin palestrou, Pimenta tergiversou:
— Eu acabei não ouvindo.
Alckmin começou a palestra às 16h, duas horas depois do horário previsto. Pela manhã, ele também esteve em Passo Fundo, no Norte do Estado.
Na sua explanação, Alckmin também mencionou o lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), previsto para o dia 11 de agosto. Segundo ele, o programa terá um recorde de investimentos públicos, mas a maior parte das obras será feita por concessões e parcerias público-privadas (PPPs).
— Vai somar investimento público e privado para avançar mais nas obras. E isso é muito bom porque gera muito emprego — ressaltou.
Dentre as obras federais cotadas para receber dinheiro do novo PAC, estão as duplicações das BRs 116 e 290 e a extensão da BR-448, a Rodovia do Parque, entre Esteio e Portão.
Além de líderes empresariais, participaram do evento o governador Eduardo Leite, o presidente da Assembleia, Vilmar Zanchin, e o presidente da Famurs, Luciano Orsi.
Linha branca
Após a palestra, Alckmin concedeu rápida entrevista à imprensa, na qual afirmou que seu ministério ainda está avaliando as bases do programa de incentivo à compra de eletrodomésticos da linha branca, cujo pedido partiu diretamente do presidente Lula.
De acordo com Alckmin, os estudos para a formulação do programa ainda estão em andamento. Ele adiantou, entretanto, que o desenho será mais complexo do que o incentivo à aquisição de veículos.
— No caso dos veículos, são poucas montadoras e é mais fácil de controlar o crédito tributário do que na linha branca, que tem um número de empresas muito maior —justificou.
Questionado se permanece no cargo de ministro, visto que a cedência da pasta já foi uma das possibilidades cotadas para atrair partidos do centrão para a base governista, Alckmin se esquivou:
— Cargo de ministro é cargo de confiança do presidente da República. A disposição é sempre colaborar, ajudar o Brasil e ajudar o presidente Lula a fazer um bom governo.
Armistício
Representantes do setor produtivo que estiveram na palestra de Alckmin, na Fiergs, demonstraram receptividade às medidas listadas pelo vice-presidente para o crescimento do país. Ele chegou a ser aplaudido ao citar as novas regras de licenciamento para operações de comércio exterior, que agilizaram a emissão de licenças.
O clima é distinto do observado durante a campanha eleitoral e no período entre a eleição e a posse, no qual diversas entidades empresariais expunham preocupações sobre os rumos da economia sob a tutela de Lula. Na época, mesmo empresários simpáticos à chapa Lula-Alckmin evitavam expor sua posição publicamente, por receio de represálias.
Em comum, os líderes de entidades de diferentes setores que compareceram ao evento admitem que a percepção sobre o governo melhorou desde a posse de Lula e avaliam que o momento é e estreitar o diálogo na busca de soluções para as demandas de cada setor.
— No início do governo existia uma apreensão muito grande, até um certo ranço. E isso aí a gente viu que está acabando — disse o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado, Claudio Bier.
Bier saiu da conferência celebrando a promessa de Alckmin e do ministro Paulo Pimenta de que, na Expointer, serão anunciadas novidades em relação ao programa Mais Alimentos, que concede linhas de crédito subsidiado para a compra de máquinas e implementos.
— Para o nosso setor, isso é uma notícia maravilhosa — celebrou.
Ex-deputado federal que fez oposição ao PT, o presidente da Associação dos Cerealistas do Brasil (Acebra), Jerônimo Goergen, disse que a visita de Alckmin é uma demonstração de disposição ao diálogo. Goergen saudou a "compreensão" do governo para a importância da responsabilidade fiscal e disse que o momento é de construção:
— Se o governo continuar entendendo que não há um Brasil sem um agro forte, o agro tem de demostrado que quer dialogar. Na eleição, cada um segue seu caminho. Mas no período dos quatro anos, a cooperação é o que fará o Brasil crescer.
Diretor do Sindicato das Indústrias do Vestuário do Rio Grande do Sul (Sivergs), Rogerio Bertou Pereira levou a Alckmin e a Paulo Pimenta algumas demandas do setor, como a revogação da isenção para compras internacionais de até US$ 50.
Na avaliação dele, após uma expectativa pessimista no início da gestão, o cenário atual é de estabilidade.
— No momento, é estável. No início, estava bastante pessimista. O governo não veio com um projeto pronto, até o momento as medidas que vem tomando também não são tão significativas, mas há expectativa para o ano que vem. Neste ano, o que precisava ser feito, foi feito — afirmou Pereira.