A venda de veículos novos no Rio Grande do Sul apresentou o terceiro mês consecutivo de alta e o setor segue em expansão na comparação com o ano passado. Foram emplacados 9.947 automóveis e comerciais leves zero-quilômetro no Estado em julho, salto de 6,25% na comparação com o mês anterior. No acumulado do ano, são 57.797 emplacamentos – alta de 21,05% ante o mesmo período de 2022 (47.748). Os dados são da Fenabrave/Sincodiv-RS, entidade que representa concessionárias e distribuidoras no Estado. Incentivo do governo federal a montadoras e concessionárias, redução de preços em alguns modelos e comparação com uma base mais fraca entram no rol de fatores que explicam a alta no ano, segundo especialistas.
Julho apresentou o maior volume de vendas no Estado em 2023. O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS, Paulo Siqueira, afirma que o incentivo do governo federal lançado em junho ainda refletiu nos dados do setor em julho em razão do ciclo de vendas. Além dos bons resultados nos últimos dois meses diante do benefício, a comparação com uma base mais fraca do setor na primeira metade de 2022 também ajuda a explicar o crescimento no acumulado do ano, segundo o dirigente:
— É verdade que a medida provisória provocou um incremento de vendas importante. Quando a gente fala em percentual, é verdade também que a comparação de 2023 com 2022 ocorre com parâmetros bem menores nos primeiros meses do ano passado. Naquela época ainda estávamos convivendo com problemas de suprimentos e efeitos da guerra na Ucrânia.
O governo informou que os créditos disponíveis para o programa de incentivo à venda de carros acabaram no fim da primeira semana de julho. O benefício contava com descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil para modelos de até R$ 120 mil.
O professor Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos na área automotiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), também afirma que os dados de julho ainda contam com impulso do programa federal:
— Muitas vendas que foram realizadas em junho, frutos do incentivo, acabaram gerando o emplacamento somente em julho.
Martins destaca a antecipação de compra por parte de alguns consumidores como outro fator importante nos últimos meses. Parcela dos compradores que planejava efetivar a aquisição de veículo nos próximos meses, adiantou o processo para aproveitar preços reduzidos, influenciando nas altas de junho e julho, segundo o especialista.
O economista Raphael Galante, da Oikonomia Consultoria Automotiva, destaca a participação da venda de comerciais leves, que inclui caminhonetes e picapes, em julho. Esse segmento teve peso importante nos emplacamentos no mês no Rio Grande do Sul, segundo o especialista. A grande participação do agronegócio no Estado é um dos fatores que influenciam esse movimento, segundo o especialista.
Na média nacional, a venda de automóveis e comerciais leves fechou julho em 215.711 – alta de 20,05% ante junho. No acumulado do ano, a alta é de 12,71% (veja mais no gráfico). O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS afirma que a diferença na alta de julho no Estado em relação ao salto observado no país ocorre diante da participação das pessoas jurídicas, como é o caso de locadoras. O Rio Grande do Sul não tem grande participação nesse mercado e acaba apresentando resultados menores ante a média nacional, segundo o executivo.
Próximos meses
O coordenador de cursos na área automotiva da FGV não enxerga espaço para altas nas vendas nesse mesmo patamar nos próximos meses. Martins calça essa estimativa no fato de o setor não contar com os fatores que inflaram as vendas nos últimos meses:
— O fator extra deixou de acontecer. Daqui pra frente, não teremos nem incentivo e, possivelmente, nem antecipação de compras.
O diretor de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato, Milad Kalume Neto, afirma que os resultados dos últimos meses, na esteira do incentivo do governo federal, são positivos, mas difíceis de repetir:
— Importante seria se esse padrão se mantivesse até o final do ano, possibilidade ainda pouco provável que aconteça.
O presidente Fenabrave/Sincodiv-RS afirma que o segundo semestre historicamente costuma registar desempenho melhor ante a primeira metade do ano diante de alguns fatores sazonais, como pagamento do 13º salário e lançamento de novos modelos. Esse movimento somado a um ambiente melhor da economia, com crédito menos restrito, pode ajudar o setor nos próximos meses, segundo o dirigente.