A venda de veículos novos no Rio Grande do Sul voltou a apresentar avanço no Estado em junho, mês que contou com incentivo do governo federal para o setor. Foram emplacados 9.364 automóveis e comerciais leves no Estado no sexto mês do ano. O montante representa alta de 4,09% ante maio e de 29,89% na comparação com o mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, o salto é de 20,48%, com 47.852 emplacamentos. Os dados são da Fenabrave/Sincodiv-RS, entidade que representa concessionárias e distribuidoras no Estado.
O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS, Paulo Siqueira, afirma que o programa do governo federal teve papel importante no avanço observado em junho. O benefício para alguns modelos de veículos de entrada aumentou a circulação de compradores nas concessionárias, segundo o dirigente:
— Provocou um grande afluxo de consumidores. E a maioria deles foi realmente para comprar o automóvel. As concessionárias tiveram grande dificuldade em atender essas pessoas, com casos onde foi necessário gerar senhas, listas de espera por causa do grande número de interessados no desconto.
Os R$ 500 milhões destinados aos automóveis dentro do incentivo federal esgotaram-se rapidamente e o governo ampliou esse valor na semana passada. No entanto, abriu a oferta para pessoas jurídicas nessa segunda etapa. Com isso, interessados em adquirir veículos com desconto ainda encontram modelos dentro do programa no Estado, mas em menor número e com menos variedade, segundo Siqueira.
Em relação aos avanços robustos na comparação anual e de acumulado do ano, o presidente da entidade afirma que eles ocorrem sobre uma base fraca do primeiro semestre do ano passado, marcado por período de maior dificuldade nas vendas.
O professor Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos na área automotiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que, além do incentivo do governo federal, ações das concessionárias e mudança de comportamento de compradores na véspera do anúncio do governo também respingaram na melhora observada no mês passado:
O pacote teve toda a sua energia nesses primeiros 30 dias voltada para pessoas físicas. Entendemos que isso foi uma forma democrática de distribuir essa renúncia fiscal, porque atendeu o consumidor que tinha mais dificuldade
PAULO SIQUEIRA
Presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS
— Primeiro, algumas pessoas deixaram de comprar veículos na segunda metade de maio. Segundo ponto, teve bônus por parte de montadoras e concessionárias. E em terceiro lugar teve o programa do governo.
A alta mensal em junho foi menor do que a observada em maio contra abril. O presidente do Sincodiv afirma que desregulação das vendas após períodos de baixa mais intensa, base de comparação mais forte e antecipação de bônus por parte das concessionárias ajudam a explicar esse movimento.
Próximos meses
No âmbito nacional, a venda de automóveis e comerciais leves ficou em 179.691 em junho — alta de 8,02% ante maio. No acumulado do ano, a alta é de 9,76%. No recorte de junho contra junho o salto é de 8,61% (veja mais no gráfico).
O coordenador de cursos na área automotiva da FGV afirma que o benefício do governo ao setor é pontual e limitado. Por mais que tenha auxiliado o setor em junho, não tem força para garantir uma melhora estrutural de médio e longo prazo.
Não vejo melhoras contínuas no setor. Junho teve uma melhora em razão desses fatores. Na medida que isso deixa de existir, acho que vai se ter um hiato em nível de demanda como um todo
ANTÔNIO JORGE MARTINS
Coordenador de cursos na área automotiva da FGV
— Não tem o cunho de resolver de uma forma geral os problemas do setor. É muito mais na linha de atendimento a um problema pontual que existe no segmento, por parte de algumas montadoras que estão com estoque muito significativo, que penaliza o desempenho.
O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS afirma que a perda de poder aquisitivo do consumidor, juro alto e inflação que atinge as montadoras são problemas que ainda travam o setor. A reversão desses processos nos próximos meses é fundamental para uma melhora nas vendas, segundo o dirigente.
Incentivo do governo
- O programa previa desconto de R$ 2 mil até R$ 8 mil no preço final de carros de até R$ 120 mil.
- A primeira fase da ação disponibilizou R$ 500 milhões para automóveis, mas os recursos esgotaram-se rapidamente.
- Na semana passada, o governo ampliou os valores com aporte de mais R$ 300 milhões. No entanto, metade desse valor será reduzido via impostos, segundo apuração do jornal Valor Econômico. Portanto, o montante subiu de R$ 500 milhões para R$ 650 milhões na prática.
- Até a última segunda-feira (3), R$ 560 milhões (86,15%) já haviam sido utilizados, segundo dados de painel do governo federal.