Depois de dois dias de trégua sem mercado cambial, o Banco Central (BC) preparou o retorno dos negócios na quinta-feira (26) com anúncio de leilão de US$ 3 bilhões. O comunicado ocorreu também após mais uma forte alta na segunda-feira (23), último dia útil antes do Natal.
Ao menos três fatores se combinaram para a nova desvalorização do real: um início de semana com pausa nos negócios - que sempre deixa o mercado mais cauteloso - sob a informação de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) deve espaçar a redução de juro no país, aumento na projeção de juro e inflação do Relatório Focus e as estimativas de desidratação do pacote fiscal do governo no Congresso.
Com essa nova dose, a intervenção do BC no câmbio somará cerca de US$ 30 bilhões neste final de ano marcado ainda pelo aumento do envio de dólares ao Exterior, tanto por empresas que remetem lucros às matrizes no Exterior quanto por pessoas que aproveitam as facilidades das contas internacionais para apostar na desvalorização do real.
Iniciada em 12 de dezembro, a oferta de dólares pelo BC somou US$ 27,8 bilhões até a última segunda-feira (23), dos quais US$ 16,76 bilhões em leilões à vista, ou seja, com recursos das reservas internacionais.
Dados do Broadcast, serviço especializado no mercado financeiro do jornal O Estado de S.Paulo, apontam saída de dólares de US$ 14,7 bilhões entre os dias 2 e 19 de dezembro. Foi a maior para o período na série histórica do BC iniciada em 2008. Antes, a saída mais volumosa nos primeiros 19 dias do mês havia sido registrada em dezembro de 2019, de US$ 12,7 bilhões.
A oferta do BC para garantir liquidez, ou seja, permitir que quem precise ou queira ter acesso a dólares consiga fazer a operação, terá um rival pesado. A suspensão do pagamento de cerca de R$ 4 bilhões em emendas parlamentares e abertura de investigação da Polícia Federal (PF) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino pode atrapalhar a votação do orçamento de 2025, o que pode aumentar a inquietação sobre as contas públicas.
A votação do orçamento do próximo ano só está prevista para depois do fim do recesso parlamentar, em fevereiro de 2025. Parlamentares ensaiam uma retaliação à decisão do STF sobre emendas adiando ainda mais essa pauta crucial para o governo.