No comando da cidade de Bonfinópolis, em Goiás, Kelton Pinheiro faz parte da lista de 10 prefeitos que denunciaram um esquema de propina envolvendo pastores que estariam atuando no Ministério da Educação (MEC). Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (25), Pinheiro relata que um dos religiosos, Arilton Moura, pediu R$ 15 mil para a liberação de recursos que seriam destinados à construção de uma escola.
O encontro, segundo o prefeito, ocorreu em março do ano passado em um restaurante de Brasília. Pinheiro conta que, antes, havia participado de uma reunião no MEC para falar sobre programas do governo na área da educação.
— Não posso falar a favor nem contra o ministro (da Educação, Milton Ribeiro). Meu contato com ele foi em uma reunião bastante técnica, onde ele explanou sobre os programas que o governo federal disponibiliza aos municípios. Na reunião, ele destacava, inclusive, a forma que o governo combate a corrupção — disse o prefeito.
Pinheiro conta que não foi abordada pelo ministro a necessidade de "atravessadores" para obtenção dos recursos. Contudo, Moura e o também pastor Gilmar dos Santos estavam na mesa de autoridades junto aos técnicos do MEC.
Ainda de acordo com Pinheiro, no encontro realizado no restaurante, após a reunião com o ministro, Arilton Moura foi insistente e disse que daria uma "desconto" ao prefeito. Na entrevista, o representante de Bonfinópolis descreveu como teria sido o diálogo:
— No restaurante, ele chegou e falou: "Vou ser direto com você. Tenho um recurso de R$ 7 milhões para construir a escola que você deseja no seu município, mas quero R$ 15 mil na minha mão, hoje. Dos outros aqui eu cobro R$ 30 mil, até R$ 40 mil, dependendo do município. Mas para você vou fazer esse valor". Eu disse que não tinha como pagar aquele valor. Não tinha (o valor) em mãos. E o município não tinha legalidade para fazer o pagamento por esse tipo de serviço.
O prefeito disse que recusou a oferta e que, desde então, não foi atendido em nenhum dos pleitos cadastrados para conseguir recursos do MEC. Pinheiro ressalta ainda que não teve outra conversa do tipo com alguém ligado à pasta.
— Estamos falando de uma pasta muito importante do país. Me deixou muito decepcionado naquele momento. Fiquei entristecido com minha ida a Brasília — disse.
Ouça a entrevista com o prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro, na íntegra:
Investigação aberta
Na quinta-feira (24), a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizou a abertura de um inquérito para investigar as suspeitas de que o ministro da Educação estaria favorecendo as solicitações dos pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro. Além disso, a magistrada solicitou um pedido de investigação contra o chefe do Executivo.
A investigação será conduzida pela Polícia Federal, e a ministra já autorizou que os prefeitos sejam ouvidos como testemunhas do caso. O ministro da Educação e os dois pastores também serão intimados.