O presidente Jair Bolsonaro foi eleito em 2018 com discurso favorável à agenda de reformas e corte de gastos públicos. Mas, passados dois anos de mandato, o governo tem enfrentado dificuldades para levar adiante parte dos projetos prometidos. Tanto é que o presidente afirmou a apoiadores, nesta terça-feira (5), que o Brasil "está quebrado" e que ele não consegue "fazer nada".
Economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito reconhece que o país atravessa obstáculos na área fiscal, mas faz uma ponderação. Na visão do analista, a fala de Bolsonaro pode ser interpretada como um "argumento retórico para preparar politicamente cortes de gastos emergenciais e tentar reequilibrar as contas públicas".
"O problema central não é 'falta de dinheiro', mas antes a falta de um plano claro", diz, em nota, Perfeito. "No primeiro e no segundo anos de mandato, Bolsonaro pôde terceirizar o ônus político das suas decisões, seja para a conta de Paulo Guedes (seu posto Ipiranga), seja para Rodrigo Maia (presidente da Câmara). Agora, no seu terceiro ano de mandato, ele terá que assumir para si a responsabilidade dos atos do governo", acrescenta o economista.
Abaixo, veja pontos em que o governo Bolsonaro encontra obstáculos.
Agenda de reformas
Uma das promessas do presidente para conter gastos públicos, a agenda de reformas travou, especialmente em 2020. Até agora, o governo só conseguiu aprovar grandes mudanças no sistema de Previdência Social, que foram lideradas pelo Congresso.
Reformas como a tributária e a administrativa, que despertam simpatia do setor empresarial e do mercado financeiro, não avançaram. Rusgas com o Parlamento e a chegada da pandemia atrapalharam o andamento dos projetos.
Fim do socorro a vulneráveis
Em razão do coronavírus, o governo federal teve de costurar com o Congresso, em 2020, um auxílio emergencial para camadas como a dos trabalhadores informais. Ao longo do ano passado, o benefício serviu para mitigar os efeitos da crise e estimular o consumo de bens e serviços.
O efeito colateral foi o aumento da dívida pública. Até 22 de dezembro, o benefício custou R$ 289,1 bilhões. Diante da situação, o governo decidiu encerrar o programa na virada do ano. Como existem incertezas no mercado de trabalho, em meio a novo avanço da pandemia, o temor é de que a pobreza volte a subir no país.
Dívida pública nas alturas
A penúria fiscal é um dos principais entraves que atingem o governo. Com pouco fôlego nas finanças públicas, o Executivo é pressionado a encontrar opções para conter os gastos. A agenda de reformas e corte de despesas, entretanto, ainda é uma incógnita.
Para analistas, o andamento dessas pautas dependerá, em parte, do resultado das eleições na Câmara e no Senado. Marcada para 1º de fevereiro, a escolha dos novos presidentes das Casas pode indicar se o Congresso será mais favorável ou contrário a projetos do Planalto.
Tensões políticas
Ao longo dos dois anos de mandato, Bolsonaro protagonizou episódios de tensão na área política. Em 2020, por exemplo, o presidente entrou em atritos com ministros. Nomes como Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Sergio Moro (Justiça) deixaram o governo durante a pandemia.
Pressão por vacina
Nas últimas semanas, a pressão pelo início da vacinação contra a covid-19 também atingiu o Planalto. Países de diversas regiões já iniciaram a imunização, enquanto o Brasil ainda aguarda por novidades na área. Nesta terça-feira (5), o Itamaraty confirmou a importação de 2 milhões de doses da vacina de Oxford produzidas na Índia.