O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Sem medidas de auxílio emergencial, o nível de pobreza teria quase dobrado durante a pandemia de coronavírus na região metropolitana de Porto Alegre. A projeção aparece na segunda edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles. O estudo é realizado pela PUCRS em parceria com o Observatório das Metrópoles e o Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL).
Ao final de 2019, a Grande Porto Alegre tinha quase 406,8 mil pessoas em situação de pobreza, o equivalente a 9,5% da população local. Sem medidas de auxílio aos mais vulneráveis, especialmente o benefício concedido pelo governo federal, o número teria saltado para quase 792 mil, correspondendo a 18,8%. Graças às políticas de proteção social, a taxa de pobreza ficou em 10,8% na região, atingindo 454,2 mil habitantes em agosto.
As estimativas levam em conta informações de duas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): a Pnad Contínua de 2019 e a Pnad Covid-19 de agosto de 2020.
Com base em critérios do Banco Mundial e na variação da inflação, o boletim considera que uma pessoa vive na pobreza quando tem renda domiciliar per capita inferior a cerca de R$ 450 por mês.
– A pobreza aumentou pouco durante a pandemia. Isso significa que auxílios emergenciais funcionaram muito bem – afirma André Salata, professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS e um dos coordenadores do boletim.
Além do benefício concedido pelo governo federal, o estudo também contempla eventuais transferências de renda organizadas por Estados e municípios. Se as medidas não fossem adotadas, a taxa de pobreza teria crescido de modo bastante acentuado em todas as regiões metropolitanas do país, indica a pesquisa.
No cenário para o início de 2021, há um sinal de preocupação. É que, diante das dificuldades fiscais, o governo federal deve encerrar o auxílio emergencial na virada do ano. Eventual ampliação do benefício chegou a ser ventilada, mas, até o momento, não há definição sobre o assunto. Com o provável fim da medida, o temor é de que mais pessoas sejam empurradas para a pobreza.
– É muito preocupante ver que o benefício acaba em dezembro e que não existe um caminho definido para os mais pobres. Sem o auxílio, essa parcela da população teria perdido muito rendimento. O governo aposta na rápida recuperação da renda, mas não há sinais de que a retomada vá ocorrer de forma tão veloz. Os mais pobres vão precisar de algum auxílio – pontua Salata.