O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Em tempos de pandemia e crise econômica, o Rio Grande do Sul registrou leve aumento no nível de pobreza. Entre 2019 e agosto de 2020, o Estado teve acréscimo de 0,45% na proporção de pessoas com renda per capita abaixo de meio salário mínimo, o equivalente a R$ 522,50. Essa é uma das conclusões de pesquisa do centro de estudos FGV Social, a partir de dados do IBGE.
Em razão do avanço, o grupo com renda menor passou a representar 14,6% da população gaúcha. Corresponderia a cerca de 1,6 milhão de pessoas, com base em estimativas populacionais deste ano. Chama atenção que, segundo o levantamento, o Rio Grande do Sul foi a única unidade da federação com aumento na faixa de pobreza.
No mesmo período, o Brasil viu a proporção de pessoas com renda inferior a meio salário despencar 23,7%. Em 2019, eram 65,2 milhões, que representavam 31,04% da população. Em agosto, o número baixou para 50,2 milhões, o equivalente a 23,7% do total de brasileiros. Ou seja, 15 milhões deixaram o grupo, mesmo com a chegada da crise.
Diretor do FGV Social, o economista Marcelo Neri relata que o auxílio emergencial foi responsável pela redução "inédita" da pobreza no país. Como o Rio Grande do Sul não está entre as regiões que mais utilizaram o benefício, não teve queda acentuada na miséria. Na visão do pesquisador, o fato de o Estado ter relativa estabilidade no grupo dos mais vulneráveis é um "bom resultado" em tempo de grandes prejuízos na economia.
— O Rio Grande do Sul não tem número tão grande de beneficiários no Bolsa Família, nem do Cadastro Único, usado para a concessão do auxílio emergencial. Ao mesmo tempo, apresenta uma das populações mais idosas do Brasil, ao lado do Rio de Janeiro. Então, sente muito o isolamento social — pontua o economista.
Na definição de Neri, o auxílio tem sido uma "anestesia", reduzindo as "dores" da pandemia sobre a renda brasileira. Contudo, o fim da transferência federal pode jogar 15 milhões de habitantes de volta à pobreza no próximo ano, conforme projeção "conservadora" do pesquisador.
— Como não teve uma injeção tão forte, talvez o Rio Grande do Sul não sinta tanto a retirada do benefício a partir de 31 de dezembro — diz. — Além disso, o Estado está fazendo ajustes. Talvez hoje seja o mais reformista do Brasil. Tem de ser assim, há uma população idosa. Vejo o Rio Grande do Sul fazendo o dever de casa — completa.
Para atingir parcela que hoje depende do auxílio emergencial, o governo federal busca a criação do programa Renda Cidadã. A iniciativa substituiria o Bolsa Família. Mas, até o momento, há uma série de dúvidas sobre o desenho do projeto e a forma de financiamento. Com tantas incógnitas, a definição do programa deve ficar para depois das eleições municipais, marcadas para novembro.