O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que não descarta a possibilidade de se candidatar a um novo mandato para comandar a Casa. Maia deu a declaração na sexta-feira (4), durante entrevista ao jornal O Globo. Até então, o deputado negava ser candidato a disputar mais dois anos à frente da Casa.
— Eu não acho correto me manifestar sobre esse assunto enquanto o julgamento estiver ocorrendo. A única coisa que eu tenho certeza é que a Câmara precisa ter um presidente com alguma independência dentro da instituição, priorizando as agendas de reforma do país. O próximo presidente terá que ter o perfil de ser liberal na economia — disse.
No mesmo dia, em plenário virtual, o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento sobre a legalidade da reeleição no comando da Câmara e do Senado. A projeção é que o julgamento dure cerca de uma semana.
Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski votaram para permitir uma eventual reeleição de Maia e Davi Alcolumbre.
Nunes Marques é favorável a possibilidade de um segundo mandato, mas contra uma segunda reeleição. O que beneficia o presidente do Senado e inviabiliza a candidatura de Maia. Marco Aurélio Mello e Carmén Lúcia votaram contra as reeleições.
Durante a entrevista, Maia afirmou que "durante um processo como esse" é necessário se resguardar:
— Não digo uma coisa nem outra. Gosto de dar resposta para tudo. Mas no meio de um processo como esse, darei minha opinião sobre o assunto depois.
O presidente da Câmara também projetou o cenário para as eleições presidenciais de 2022. Maia reforçou seu otimismo em relação aos partidos do centro, afirmando que o "caminho continua aberto".
— O que é necessário é uma grande aliança de centro. Que haja maturidade. Acho que temos nesse campo uma grande convergência em grandes assuntos. O importante é que que consigamos discutir a questão econômica. Há nomes como João Doria, Luciano Huck, Paulo Câmara (governador de Pernambuco) — detalhou.
Perguntado sobre a participação do ex-ministro Sergio Moro na disputa, Maia se limitou a dizer que ele não é mais candidato e sim um "consultor da Odebrecht".
Sobre sua oposição ao presidente Jair Bolsonaro, Maia afirmou que enfrentou no ano passado e e até meados deste ano, um ambiente muito radicalizado e por isso, deve de reforçar a segurança da presidência da Câmara e de sua família. Segundo ele "não foram poucas as ameaças de morte" que sua família recebeu.
— Não foram poucas as mobilizações feitas pelos bolsonaristas, na porta do meu apartamento no Rio de Janeiro para me constranger. Em um dia, foram mais de um milhão de tuítes contra a minha pessoa. Eu tinha a convicção de que fazia a coisa certa: estava defendendo a independência da Câmara e fazendo contrapontos aos excessos do próprio presidente — detalhou.
Maia também comentou sobre as pautas que estão travadas. Segundo o presidente da Câmara, durante as eleições a oposição "obstruiu a pauta da Câmara, querendo votar a Medida Provisória do auxílio emergencial", já a base do governo "obstruiu a pauta porque antecipou o processo eleitoral na Câmara":
— Para desobstruir a pauta tinha que votar a Medida Provisória do auxílio emergencial, que, dentro do processo eleitoral, o resultado poderia ser ainda acima dos R$ 600. Minha decisão foi não colocar em risco o processo fiscal do Brasil. Esta semana vamos votar os projetos que resolvem a questão da dívida dos estados. No caso da reforma tributária, vamos nos mexer para ter ao menos no final do ano o primeiro turno aprovado. A única preocupação que tenho é que não vi preocupação do Senado com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) emergencial, que regulamenta os gastos do governo e garantiria o Bolsa Família. Promessa feita há um ano pelo governo.
Questionado sobre as chances de candidatar ao governo do Estado do Rio de Janeiro em 2022, Maia afirmou que, atualmente, a chance é zero.