Mal os computadores da Justiça Eleitoral totalizaram o derradeiro voto da eleição de segundo turno, os principais partidos do país começaram a operar com outro horizonte político. De posse do novo mapa do poder traçado pelas urnas, o objetivo agora é encontrar nomes que facilitem o caminho à Presidência da República em 2022.
Ao menos um candidato está claramente definido: Jair Bolsonaro. O controle da máquina do governo e o antagonismo aos partidos de esquerda, sobretudo ao PT, fazem do presidente protagonista natural da disputa. E Bolsonaro mantém base popular numerosa, com grande capacidade de mobilização nas ruas e forte engajamento nas redes sociais.
Mesmo faltando dois anos até a eleição, a recente queda de popularidade, somada ao fraco desempenho de aliados nas urnas, serviram de alerta aos articuladores políticos do Planalto. A tarefa mais urgente é encontrar um partido que forneça estrutura nos Estados, tempo de TV e fundo eleitoral, atributos fundamentais para quem precisa defender um governo repleto de polêmicas.
A favor de Bolsonaro, pesa a ausência de candidatos em legendas que tem se mantido fiéis ao governo, como PP e PSD. Mas são legendas pragmáticas ao extremo e que tendem a abandonar os aliados diante do risco de perda do poder.
– Quando Bolsonaro venceu a eleição com toda aquela força, parecia o fim do presidencialismo de coalizão. Seria o Jânio Quadros que deu certo. Aos poucos, viu que não conseguia governar sem base e foi atraindo o centrão. PP e PSD se saíram muito bem na eleição municipal, mas até agora nada garante que estarão com Bolsonaro na eleição – avalia o cientista político Eduardo Viveiros, pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC-SP.
Mantendo prudente distância do bolsonarismo e de olho no eleitor de centro, siglas como DEM e PSDB buscam se apresentar como opção segura para quem rejeita os extremos do espectro ideológico representados por Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O DEM, até então resignado à condição de coadjuvante de luxo nas eleições presidenciais, desta vez deseja ter candidato e flerta com o apresentador de TV Luciano Huck.
A direção do partido já formalizou convite para filiação e está disposta a mexer no programa para contemplar causas sociais preconizadas por Huck. A conversa avançou, mas só deve ter desfecho em meados de 2021. Caso não prospere, o DEM tem quadros promissores: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta.
— São bons nomes, mas para vice. Difícil imaginar algum deles liderando chapa de centro-direita ou centro-esquerda. O mais provável é uma aliança com o (governador de SP, João) Doria – diz Viveiros.
Opções
À frente do maior Estado do país, Doria rompeu com Bolsonaro após a eleição e desde então trabalha pensando em 2022. Não é unanimidade no PSDB por causa da forma personalista com que faz política e pelo desprezo a quadros históricos do partido.
Doria tampouco tem adversários internos competitivos. O maior deles, o governador Eduardo Leite, tem evitado se apresentar como alternativa. Se a vacina contra covid produzida pelo Instituto Butantã em parceria coma China se mostrar eficaz, dificilmente Doria será retirado do páreo.
Na esquerda, há uma profusão de nomes e pouca articulação. Eternos candidatos, Ciro Gomes (PDT) e Lula (PT) ressaltam a importância de ampla coalizão progressista para enfrentar Bolsonaro. Nos bastidores, porém, nenhum abre mão de liderar o movimento. Fernando Haddad, derrotado nas eleições de 2018 com 47 milhões de votos, não aproveitou a vitrine para se tornar protagonista do debate político nacional.
Correndo por fora, o senador Jaques Wagner (PT-BA) e o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), tentam quebrar essa hegemonia, defendendo renovação e autocrítica, atitudes rejeitadas pelas cúpulas partidárias. E Guilherme Boulos (PSOL) ainda esbarra nas limitações de uma sigla cuja penetração eleitoral está restrita aos grandes centros urbanos.
– Tem uma esquerda mais jovem, vigorosa e vitalizada, representada por Boulos, Manuela (D’Ávila) e pessoal de Recife (João Campos e Marília Arraes). Não está claro que aglutinação terão, nem se vão conseguir marchar independente do PT – diz o professor José Álvaro Moisés, coordenador do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP.
Os cotados
Jair Bolsonaro
Candidato à reeleição, precisa de um partido com estrutura, tempo de TV e fundo eleitoral para poder defender sua gestão
Luciano Huck
Em flerte com o DEM, tenta se apresentar como político moderno, que defende o mercado e tem preocupação social
Luiz Henrique Mandetta
Perdeu a visibilidade conquistada no início da pandemia, mas ainda sonha se cacifar à Presidência com a bandeira da saúde
Rodrigo Maia
Atuando como contraponto a movimentos de Bolsonaro, conquistou projeção e confiança do mercado, mas precisa ganhar espaço eleitoral
ACM Neto
Consagrado depois de eleger o sucessor na prefeitura de Salvador, termina o ano como estrela em ascensão dentro do DEM
João Doria
Sem unanimidade dentro do PSDB, o governador de São Paulo tenta se apresentar como o único candidato de centro capaz de bater Bolsonaro
Eduardo Leite
Preferido da velha guarda tucana, surge como aposta do partido ante uma eventual derrapada de João Doria
Sergio Moro
Herdeiro do voto lavajatista, se afastou da ideia de uma candidatura ao aceitar um emprego de consultor empresarial nos EUA
Ciro Gomes
Mantém aliança exitosa com o PSB, mas não consegue romper o nicho para liderar uma coalizão, seja de centro-esquerda ou centro-direita
Lula
Inelegível, precisa anular condenações criminais para conseguir concorrer. Enfrenta rejeição na sociedade e questionamentos no PT
Jaques Wagner
Defende renovação e autocrítica no PT, mas enfrenta a hegemonia de Lula e esbarra na lealdade da militância ao ex-presidente
Flávio Dino
Tem gestão exitosa no Maranhão, elogiada pela esquerda e pela direita, mas é praticamente desconhecido no resto do país
Guilherme Boulos
Representante de nova geração na esquerda, precisa desmanchar a imagem de radical e tornar o PSOL um partido mais estruturado