Parlamentares, ex-aliados de Jair Bolsonaro e filhos do presidente reagiram à prisão do ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) Fabrício Queiroz. Entre as manifestações, surgiram pedidos para que Queiroz aceite virar delator, questionamentos sobre a participação do presidente na "estadia" dele na casa do advogado da família Bolsonaro Frederick Wassef e até mesmo pedido de cassação do mandato de Flávio.
Já os líderes do chamado centrão tentaram blindar o presidente e seu filho para minimizar os impacto políticos. Ao longo desta quinta-feira, deputados do grupo, composto por PP, Republicanos e PSD, entre outras legendas, disseram que a operação não mudará a relação das siglas com o governo e pregaram cautela.
A reação desses parlamentares, que passaram a se aproximar do Planalto nos últimos meses, é essencial para o governo garantir a Flávio, por exemplo, que a cassação do mandato não vá adiante e ao presidente o freio a um eventual pedido de impeachment.
Um dirigente de partido que compõe o centrão admite que a prisão do ex-assessor de Flavio na casa de uma pessoa que era considerada próxima a Bolsonaro, como é o caso do Wassef, deixa a investigação mais perto do presidente. Deputados também avaliam que a operação ocorreu para que Queiroz seja forçado a delatar.
Queiroz foi preso na manhã desta quinta-feira (18) em um imóvel de propriedade de Wassef, advogado da família Bolsonaro, em Atibaia, no interior de São Paulo. A operação, conduzida pelos Ministérios Públicos do Rio e de São Paulo, foi batizada como Operação Anjo, uma referência ao apelido do advogado entre os membros do clã Bolsonaro.
Oposição pede cassação
Apesar de o centrão tentar blindar o presidente, PT, PSOL e Rede Sustentabilidade querem que Flávio seja afastado do cargo de secretário da Mesa do Senado enquanto durar no colegiado dois processos por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética do Senado. Ambas pedem a cassação do mandato do senador.
A primeira representação, de fevereiro, diz respeito à suspeita da prática chamada de "rachadinha". A segunda , de maio, foi quando o primogênito de Bolsonaro se tornou peça central em outra apuração da Polícia Federal, que investiga o relato do empresário Paulo Marinho sobre suposto vazamento de uma operação da PF. O Ministério Público Federal também instaurou um procedimento para analisar o caso.
O Conselho de Ética do Senado é presidido pelo senador Jayme Campos (DEM-MT), que ainda não se manifestou sobre os pedidos. Ambos foram aditados, por terem temas semelhantes e se tratarem do mesmo parlamentar. Campos alega que aguarda uma posição sobre a admissibilidade pela Advocacia-Geral do Senado, o que ainda não ocorreu. Desde fevereiro, quando a primeira denúncia contra Flávio foi feita ao colegiado, a advocacia da Casa está em silêncio.
O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), minimiza os riscos de cassação do mandato de Flávio e afirma que o Congresso não deve se pronunciar sobre um tema que não tem relação com a Casa.
— O processo do Queiroz é do Rio, da Assembleia do Rio. Lá tem começo, meio e fim e não influencia a agenda do Senado — disse.
Entre os parlamentares mais incisivos ao comentar a prisão de Queiroz está o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Em uma série de publicações, o parlamentar questionou se a ideia de "esconder o Queiroz na casa do advogado do 01" foi de Bolsonaro e afirma que o ex-assessor tem relações com a milícia do Rio de Janeiro, tendo inclusive apresentado o ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como "Capitão Adriano" — morto na Bahia e apontado como chefe da milícia Escritório do Crime — a Flávio Bolsonaro. Freixo foi relator da CPI das Milícias quando era deputado estadual no Rio.
O senador Fabiano Contarato (Sustentabilidade-ES) foi outro que questionou o fato de Queiroz estar na casa do advogado da família. Contarato classificou como "lorota" as recorrentes declarações de Flávio afirmando não saber o paradeiro do ex-assessor. "Estava escondido na casa do advogado da família Bolsonaro há mais de um ano e o senador investigado diz que não sabia do seu paradeiro. Com certeza não dá para acreditar nessa lorota: o cinismo dessa gente não tem limites!", escreveu.
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Sustentabilidade-AP), foi mais radical em sua manifestação. O senador defendeu a cassação do mandato de Flávio e que o filho do presidente fosse levado até a Justiça.
Ex-aliados pedem delação premiada
Ex-aliados do presidente também aproveitaram o momento para criticar a relação da família com o ex-assessor, apontado pelo MP do Rio como o operador de um esquema de rachadinha no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando era deputado estadual. A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) publicou uma série de mensagens com a hashtag #DelataQueiroz em seu Twitter. Em uma delas, destacou que a fachada do imóvel onde houve a prisão tinha uma placa do escritório de advocacia de Wassef.
Utilizando a mesma hashtag, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) fez referência a uma declaração em que Queiroz pede que nada aconteça com sua filha, que também foi assessora da família Bolsonaro, e com sua mulher — alvo de um mandado de prisão.
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro não fez nenhuma crítica direta. No entanto, aproveitou para voltar ao tema de que a independência entre as instituições. Ao deixar o governo, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal, o que resultou no inquérito que vem sendo relatado pelo ministro Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal.
Envolvidos comentam
Alvo da mesma investigação em que Queiroz é alvo, Flávio Bolsonaro foi o primeiro representante da família a se manifestar publicamente após a prisão de seu ex-assessor. Flávio se disse tranquilo e afirmou que a operação era apenas "mais uma peça" movimentada para atacar Bolsonaro.
"Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!"
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), por sua vez, usou as redes sociais para esclarecer que o imóvel em que houve buscas na zona norte do Rio não pertence ao seu pai. No começo da manhã, um mandado de busca e apreensão foi cumprido em um endereço no bairro de Bento Ribeiro, próximo a um imóvel declarado como bem do presidente. A casa alvo do mandado, onde morava uma assessora de Flávio, contudo, não é o mesmo local.