O ex ministro da Justiça e ex juiz federal à frente da Operação Lava Jato, Sergio Moro, teceu críticas nesta quinta-feira (11) ao governo de Jair Bolsonaro, do qual pediu demissão, por conta da sequência de nomeações políticas para o grupo conhecido como centrão. Ontem, o presidente oficializou o deputado Fábio Faria (PSD), genro de Silvio Santos, como novo ministro das Comunicações, em decisão publicada em edição extra do Diário Oficial da União.
Moro afirmou à Rádio Gaúcha que compreende que indicações políticas fazem parte da organização de um governo, mas afirmou que é preciso olhar "quem" está sendo nomeado e por qual razão ele foi colocado lá. Ele demonstrou desconforto com o crescimento de oferta de cargos a políticos envolvidos em suspeitas de corrupção e apontou este como um dos motivos para deixar o cargo de ministro.
Para Moro, as alianças com partidos políticos, entre eles o grupo "centrão", se intensificaram quando surgiram discussões sobre eventual impeachment de Bolsonaro na Câmara dos Deputados.
— Para governar é necessário ter alianças políticas dentro do parlamento. O que eu sempre pensei é que tem que pegar as melhores pessoas e fortalecer esse grupo e apoie as pautas positivas em torno de ideias e não necessariamente do poder. O presidente tinha esse discurso muito forte durante a campanha eleitoral, inclusive se recusou a compor uma coalizão eleitoral com o centrão. Agora, ele mudou isso. O problema não é fazer aliança política. A questão é com quem se faz, por que se faz. Antes mesmo da minha saída já tinha essa movimentação em vista da preocupação do presidente com eventual impeachment. (...) Isso surgiu quando começou a se falar mais na possibilidade de impeachment em decorrência da pandemia - afirmou.
Moro completou dizendo que sua imagem de símbolo anti-corrupção era usada pelo governo Bolsonaro como uma espécie de salvo conduto, para mostrar comprometimento com esta temática. No entanto, segundo ele, o governo ia na direção contrária, inclusive contradizendo o que fora prometido na campanha eleitoral.
— Há, de fato, uma contradição entre o que foi prometido e o que está sendo feito. Eu saí por vários motivos, mas isso era algo que me causava desconforto. Até porque, dentro desses partidos chamados de "centrão", têm políticos bons. Mas também tem aqueles com histórico de condenações ou acusações. É muito complicado - acrescentou.