O mais novo capítulo do governo Bolsonaro inclui a recriação do Ministério das Comunicações e a chegada ao governo de um personagem com certa habilidade no jogo político. Nesta quinta-feira, o presidente da República tornou pública a nomeação do deputado federal Fábio Faria (PSD), que tem excelente trânsito no Congresso, e também possui entre os predicados o fato de ser casado com uma das filhas do empresário, apresentador e dono do SBT, Silvio Santos.
A movimentação de Bolsonaro não é à toa. O presidente está cada vez mais à vontade para protagonizar negociações políticas a fim de garantir apoio no Congresso Nacional. E por que ele faz isso?
Como a coluna já informou, a queda de popularidade do governo Jair Bolsonaro, em especial após a crise instaurada pelo novo coronavírus, poderia implicar em movimentos mais intensos pelo seu afastamento na Câmara e no Senado. Político experiente e nada outsider, Bolsonaro optou então por escancarar o caminho do toma lá dá cá. Semanas atrás, oficializou a entrada do grupo político "centrão" na base aliada do governo, oferecendo desde o comando de bancos estatais até a chefia de um fundo bilionário vinculado à educação. A intenção aqui é ampliar a base de apoio e garantir fidelidade dos parlamentares ao presidente.
Vale lembrar: na campanha eleitoral, o general Augusto Heleno - um dos ministros mais próximos ao presidente - chegou a cantar no microfone 'Se gritar pega centrão, não fica um', sinalizando que vê as palavras "ladrão" e "centrão" como sinônimos.
Como ressaltou a colunista Daniela Lima, da rede CNN, a nomeação do deputado não deixa de ser uma jogada de forte "componente político". Isso porque a nomeação se refere à entrega ao centrão de um ministério de posição estratégica, junto ao núcleo duro de governo.
É importante não desmerecer o fato de que, como genro de Silvio Santos, Fábio também facilitou a aproximação do SBT com o governo federal. O presidente é visto com alguma frequência em atrações populares da emissora, como o programa do Ratinho. Além disso, a chegada de Fábio Fária atende a uma demanda identificada por assessores próximos ao núcleo presidencial. Os aliados entendem que é preciso melhorar a comunicação institucional do governo. Daí a recriação do ministério, extinto durante o governo de Michel Temer, e agora ressuscitado por Bolsonaro.
A nova configuração do Ministério das Comunicações inclui a estrutura que até ontem estava nas mãos de Fábio Wajngarten (Secretaria de Comunicação Social da Presidência). Wajngarten foi nomeado, em edição extra do Diário Oficial, secretário-executivo da nova pasta, subordinado a Fábio Faria.