A prisão de Fabrício Queiroz coloca o presidente Jair Bolsonaro em situação delicada no cipoal jurídico ao qual vem sendo submetido nos últimos meses. Cercado por investigações que miram familiares, apoiadores ou a si próprio, Bolsonaro enxergou na detenção do amigo de décadas uma afronta pessoal e está disposto a reagir. Todavia, auxiliares e pessoas do entorno familiar admitem que se trata do episódio de maior risco ao presidente, inclusive à sua permanência no cargo.
Atualmente, Bolsonaro é alvo primordial ou está na órbita de ao menos 12 investigações. Além da apuração do suposto esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, motivo da prisão de Queiroz, há Supremo Tribunal Federal (STF) os inquéritos das fake news, dos protestos antidemocráticos e o que apura eventual interferência política na Polícia Federal (PF).
Outras oito ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) visam a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. Nos últimos dias, houve avanços intimidadores nas três esferas.
No TSE, um processo aparentemente banal e que todos julgavam destinado ao arquivo ganhou novos contornos com a chegada do ministro Alexandre de Moraes à Corte, mês passado. Moraes pediu vista no julgamento de duas ações que acusam a chapa de envolvimento com ataques de hacker a uma página do Facebook chamada Mulheres Unidas Contra Bolsonaro. O placar está em 3 a 2 a contra o presidente e faltam votar Moraes e o presidente do TSE, Luis Roberto Barroso.
Entre os demais processos, há quatro considerados mais graves, envolvendo disparos em massa de mensagem via WhatsApp. Eles ainda não têm data para serem analisados e podem ser abastecidos com informações da quebra de sigilo bancários de empresários simpáticos ao governo. Os dados foram obtidos no inquérito das fake news que tramita no STF, justamente sob a relatoria de Moraes.
Um dos alvos preferenciais de bolsonaristas, o ministro determinou na segunda-feira (15) a prisão da extremista Sara Winter e também quebrou o sigilo bancário de 11 parlamentares aliados ao presidente. As medidas se deram no inquérito dos atos antidemocráticos, instaurado após Bolsonaro participar de um protesto que clamava por intervenção militar diante do quartel-general do Exército em Brasília.
Revoltado com a investida contra seus apoiadores, o presidente ensaiou uma reação, afirmando, na quarta-feira (17), que “está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”. Acabou surpreendido às 6h da manhã desta quinta-feira (18) com a prisão de Queiroz.
Todos os elementos do episódio elevam o grau de risco para Bolsonaro. Queiroz foi preso em um imóvel do advogado Frederick Wassef, onde estaria escondido há um ano. Íntimo da família presidencial, Wassef é figura assídua nos palácios da Alvorada e do Planalto, alimentando a desconfiança que não agia em segredo ao abrigar Queiroz.
Embora o caso tramite em primeira instância, investigadores afirmam que há “fortes indícios de lavagem de dinheiro” por parte de Flávio Bolsonaro e já não há mais no STF disposição para frear as apurações. No ano passado, o ministro Dias Toffoli chegou a suspender o inquérito, mas os sucessivos ataques do presidente à Corte eliminaram qualquer possibilidade de um novo anteparo.
Outro fator a assustar o Planalto é o mandado de prisão ter sido estendido à esposa de Queiroz, Márcia Aguiar. Ela e a filha do ex-PM Nathália Queiroz também foram nomeadas como assessoras da família e são investigados no esquema de rachadinha. O presidente os filhos temem que, preso e vendo a família à mercê da Justiça, Queiroz aceite um acordo de delação premiada.
Há ainda o receio de uma eventual acusação de obstrução de Justiça, caso surjam contornos mais nítidos de que Bolsonaro ou algum dos filhos tenham pedido a Wassef que mantivesse Queiroz escondido todo esse tempo no sítio de Atibaia.