Desde domingo (17), uma entrevista concedida pelo empresário Paulo Marinho à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, ampliou o desgaste sobre o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O ex-aliado afirmou que um delegado da Polícia Federal (PF) alertou Flávio sobre o inquérito envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz, que apura o esquema de "rachadinha" no gabinete do hoje senador na Assembleia Legislativa do Rio.
O Ministério Público Federal (MPF) e a PF abriram investigações sobre o vazamento, supostamente ocorrido entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial de 2018, e que se somou às denúncias do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na PF no Rio.
Relembre, abaixo, o que se sabe até o momento sobre o suposto vazamento.
Domingo, 17 de maio
Marinho, que é suplente de Flávio no Senado, concedeu uma entrevista a Mônica Bergamo, da Folha, afirmando que um delegado da PF havia avisado o senador sobre a Operação Furna da Onça. O alerta teria ocorrido entre o primeiro e o segundo turno da última eleição.
O delegado também teria recomendado ao senador que demitisse Queiroz de seu gabinete e sua filha, Nathalia, do gabinete de Bolsonaro, então deputado federal. Segundo Marinho, o policial, que se disse apoiador de Bolsonaro, ainda disse que a investigação estava sendo represada para não interferir no resultado eleitoral.
Flávio reagiu, negando as acusações de Marinho e acusando o empresário de querer sua vaga no Senado.
No mesmo dia, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu que a PF colhesse o depoimento de Marinho no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura se Bolsonaro tentou interferir na corporação. E a PF anunciou que investigaria o relato.
A jornalista Thais Oyama, da Revista Veja, informou que o delegado responsável pelo vazamento não é Alexandre Ramagem. Diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, Ramagem foi nomeado por Bolsonaro para o comando da PF. A indicação, porém, foi barrada pelo STF.
Segunda-feira, 18 de maio
O MPF abriu investigação sobre o caso, conduzida pelo Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial. O procurador da República que coordena o núcleo, Eduardo Benones, também pediu o desarquivamento de um inquérito de 2018 que apurava o vazamento de informações privilegiadas por parte da PF.
O suposto vazamento ainda virou alvo de apuração da PF no inquérito já aberto com base nas denúncias de Moro.
Terça-feira, 19 de maio
A Folha revelou que o PSL nacional, a pedido de Flávio, contratou, em fevereiro de 2019, o escritório de advocacia de Victor Granado Alves, ex-assessor envolvido no esquema de rachadinhas na Assembleia do Rio e no suposto vazamento de informações da PF. O contrato, no valor de R$ 500 mil, teve validade de 13 meses e foi pago com dinheiro do fundo partidário. À época, Flávio e o pai eram filiados ao PSL.
Granado foi citado por Marinho como um dos assessores que teria recebido o alerta de um delegado da PF sobre o inquérito. O advogado confirmou que esteve com Flávio e Marinho entre o primeiro e o segundo turno, mas afirmou que, pelo sigilo profissional, não poderia comentar o que foi discutido.
Flávio contestou a matéria, afirmando que não repassou recursos públicos ao escritório de Granado. De acordo com ele, os valores foram pagos pelo diretório nacional do PSL. Já o partido disse que a contratação se deu a pedido do senador. Bolsonaro, em entrevista a um jornalista de Pernambuco, declarou que Marinho teria de provar as acusações sobre o suposto vazamento da investigação da PF.
Em outra frente, o diretor-executivo da PF, Carlos Henrique Oliveira de Souza, prestou novo depoimento afirmando que Ramagem já tratava da troca na chefia da corporação no Rio antes de ter sido nomeado por Bolsonaro para o comando da PF. Perguntado sobre o suposto vazamento da Operação Furna da Onça, disse que não se lembra quando o relatório sobre movimentações financeiras suspeitas de Queiroz chegou às investigações conduzidas pela PF.
Quarta-feira, 20 de maio
Na madrugada, o vice-presidente do PSL, deputado federal Júnior Bozzella (SP), afirmou, em nota, que o partido cobrará de Flávio a devolução dos R$ 500 mil de recursos públicos pagos ao escritório de advocacia de seu ex-assessor. O PSL alega que houve desvio de finalidade no emprego do dinheiro.
Já Marinho prestou depoimento de mais de cinco horas sobre as denúncias de vazamento de informações no período eleitoral de 2018. O empresário deixou a PF do Rio sem comentar o teor do seu relato, afirmando que o inquérito está sob sigilo. Mais tarde, em uma rede social, escreveu que "por mais de cinco horas, trouxe detalhados elementos que vão auxiliar a investigação, indo ao encontro do que o @SF_Moro (Sergio Moro) trouxe à tona. Por ordem da autoridade policial, não posso revelar o teor do meu testemunho".
Quinta-feira, 21 de maio
A Folha notificiou que a defesa de Queiroz foi informada, em agosto de 2019, sobre um inquérito mantido em sigilo na PF que o mencionava. Foi neste mês que Bolsonaro decidiu demitir o então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saad, dando início à crise com Moro.
Segundo a Folha, Flávio e Queiroz não eram alvo da investigação, mas teriam sido mencionados em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre movimentações suspeitas.
Já o jornal O Globo informou que o inquérito eleitoral que investiga se Flávio cometeu lavagem de dinheiro e falsidade ideológica em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral não será arquivado. Era o que pretendia a PF, que concluiu o inquérito em março sem encontrar os elementos da prática de "rachadinha" em seu gabinete, conforme apurou o Ministério Público do Rio.
O MP-RJ discordou do relatório da PF e decidiu dar sequência à investigação. Pelo que se sabe, esse é o único caso em que um dos filhos de Bolsonaro é investigado pela PF do Rio.