O chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça, foi nomeado ministro da Justiça e da Segurança Pública pelo presidente da República Jair Bolsonaro. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (28). O mesmo decreto confirmou Alexandre Ramagem no cargo de diretor-geral da Polícia Federal, o que já vinha sendo especulado há alguns dias.
Mendonça foi convidado por Bolsonaro nesta segunda-feira (27) para assumir o cargo. O presidente havia afirmado a deputados e assessores que indicaria o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, que é ligado aos seus filhos. Entretanto, recuou da indicação.
Segundo Bolsonaro, o novo titular do cargo deve ter um perfil de diálogo com outros poderes.
— (Será alguém com) capacidade de dialogar com outros Poderes, que tenha boa entrada no Supremo, no TCU (Tribunal de Contas da União), no Congresso — afirmou.
Nascido em Santos, André Luiz de Almeida Mendonça tem 48 anos e, além de advogado, é pastor da Igreja Presbiteriana. Ele trabalha na AGU desde 2000 e foi assessor especial da Controladoria Geral da União entre 2016 e 2018. Em 2008, no governo Lula, foi nomeado pelo então advogado-geral, Dias Toffoli, diretor do Departamento de Patrimônio Público e Probidade Administrativa. É formado na Universidade de Brasília (UnB) e tem mestrado na Universidade de Salamanca, na Espanha.
Ele substitui o ex-juiz Sergio Moro, que se demitiu do cargo na última sexta-feira (24) após a demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Moro afirmou que Bolsonaro queria interferir no trabalho da PF, o que motivou um pedido de investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre as suas denúncias. O inquérito teve a abertura determinada pelo ministro Celso de Mello nesta segunda-feira (27).
Ramagem assume PF
Antes diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o delegado Alexandre Ramagem é visto como um profissional sério, íntegro e competente por parte da corporação. O que pesa contra ele é o clima criado pelas acusações feitas por Moro após a demissão de Valeixo.
Moro afirmou que o motivo para Bolsonaro fazer a troca no comando da PF é o interesse em ter à frente da corporação alguém que lhe repasse informações de investigações em andamento, especialmente que envolvam filhos do presidente. Delegados e agentes da PF consultados por GaúchaZH avaliam que Ramagem é técnico e tem histórico operacional. Na própria Abin, área usualmente ocupada por militares, ele era visto como um bom gestor.
Outro detalhe que coloca em xeque a independência de Ramagem é sua ligação com a família Bolsonaro. Ele coordenou a segurança do então candidato durante a campanha de 2018 e, depois, tornou-se chefe da segurança. Após seu nome ser apontado como preferido para assumir o controle da PF, uma foto sua ao lado de Carlos Bolsonaro e de outros amigos em uma festa passou a circular nas redes sociais. Carlos é alvo de investigação da PF e apontado como um dos articuladores do esquema criminoso de fake news.
Questionado sobre a amizade do filho com Ramagem, o presidente respondeu da seguinte forma no Facebook:
"E daí? Antes de conhecer meus filhos, eu conheci o Ramagem. Por isso deve ser vetado? Devo escolher alguém amigo de quem?", questionou Bolsonaro, no domingo (26).