O presidente Jair Bolsonaro defendeu o nome de Alexandre Ramagem, amigo de seu filho Carlos Bolsonaro, para o comando da Polícia Federal (PF) neste domingo (26). "E daí?", respondeu após ser questionado em uma rede social sobre a proximidade familiar com o escolhido.
O presidente também disse que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro mentiu ao afirmar que houve tentativa de interferência política na atuação da PF.
Após a demissão de Maurício Valeixo da direção-geral da PF e a consequente saída de Sergio Moro do governo, Bolsonaro escolheu o diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem, para chefiar a polícia.
O nome foi defendido pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Em foto postada nas redes sociais, Ramagem aparece em uma festa ao lado do filho do presidente, que é alvo de apuração da PF.
No Facebook, Bolsonaro foi questionado sobre o fato de Ramagem ser amigo de seus filhos.
"E daí? Antes de conhecer meus filhos, eu conheci o Ramagem. Por isso deve ser vetado? Devo escolher alguém amigo de quem?", respondeu.
Outro usuário da rede social postou na página de Bolsonaro a reportagem da Folha de S.Paulo publicada neste sábado (25) sobre a Polícia Federal ter identificado Carlos como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news. Em resposta, o presidente criticou o jornal. "Acreditando na Folha de S.Paulo. Só quando criminalizarem a liberdade de expressão você vai aprender", escreveu ele.
Dentro da Polícia Federal, não há dúvidas de que Bolsonaro quis exonerar Valeixo, homem da confiança de Moro, porque tinha ciência de que a corporação havia chegado a seu filho.
Os comentários do presidente foram feitos na postagem em que ele diz que não trocou nenhum superintendente da PF e que as indicações foram feitas pelo próprio ministro Moro ou pelo diretor-geral.
"Lamentavelmente o ex-ministro mentiu sobre interferência na Polícia Federal", escreveu Bolsonaro.
O inquérito que agora envolve Carlos foi aberto em março do ano passado pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, com o objetivo de apurar o uso de notícias falsas para ameaçar e caluniar ministros do tribunal.
O filho do presidente é investigado sob a suspeita de ser um dos líderes de grupo que monta notícias falsas e age para intimidar e ameaçar autoridades públicas na internet. A Polícia Federal também investiga a participação de seu irmão Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal.
A partir de depoimentos e indícios já coletados, a PF agora busca um conjunto de provas que sustente um indiciamento ao fim da investigação. Procurado pela Folha por escrito e por telefone, o chefe de gabinete de Carlos não respondeu aos contatos.
Após a publicação da reportagem, Carlos compartilhou, na noite deste sábado (25), o texto em uma rede social acompanhado da seguinte mensagem:
"Esquema criminoso de... NOTÍCIAS FALSAS. O nome em si já é uma piada completa! Corrupção, tráfico, lavagem, licitações? Não! E notaram que nunca falam que notícias seriam essas? É muito mais fácil apontar manipulação feita pela grande mídia. Matéria lixo!".
O vereador ainda acrescentou: "Não é necessário esquema de notícia pra falar o que penso sobre Drácula, amante, botafogo, nervosinho, aproveitadores, sabotadores, ou sobre quem quer que seja! Há quem faça isso, e são aqueles que mais acusam. Sabemos quem é amiguinho dos jornalistas que direcionam ataques!".
Carlos e Ramagem ficaram ainda mais próximos nos primeiros meses do governo, quando o delegado que cuidou da segurança de Jair Bolsonaro na campanha de 2018 teve cargo de assessor especial no Palácio do Planalto. Carlos é apontado como o mentor do chamado "gabinete do ódio", instalado no Planalto para detratar adversários políticos.
De acordo com aliados de Moro, ao mesmo tempo em que a PF avançava sobre o inquérito das fake news, Bolsonaro aumentava a pressão para trocar Valeixo. A exoneração de Valeixo do cargo de diretor-geral da corporação levou Moro a pedir demissão. Ele acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na polícia.