Na manhã deste domingo (26), durante o Gaúcha Hoje, o colega Antonio Carlos Macedo levantou um debate interessante que rendeu mais 20 minutos de conversa. Falávamos sobre o rompimento entre Moro e Bolsonaro e as repercussões da crise provocada pelo que o ex-ministro alega ter sido uma tentativa de interferência política do presidente nas investigações da Polícia Federal. Existem indícios muitos claros que colocam o presidente no centro de um escândalo que sacode o governo, cuja as proporções ainda são imprevisíveis.
A provocação do Macedo é a seguinte: por que, apesar de todas as evidências, tem gente que ignora fatos para proteger cegamente o presidente, como se palavra de um ministro não valesse nada e as trocas de mensagens entre eles não existissem. Respondi ao Macedo que existem duas explicações possíveis. Uma delas é o traço populista deste governo - o que, é bom deixar muito claro, não é exclusividade deste, mas algo presente na história do país. O lulismo é um exemplo recente. Mais para trás na história, o "pai dos pobres" Getúlio Vargas alimentou esse sentimento como nenhum outro presidente. A novidade agora é o populismo de extrema direita. Esse fenômeno se serve da popularidade de um político, o coloca acima dos poderes e das instituições, como se fosse alguém um ser ungido por Deus para uma missão. Ele não erra, nunca falha.
"Eu sou a Constituição", disse que o presidente recentemente. Nada simboliza mais esse sentimento do que a frase de Bolsonaro. Junte a isso a percepção de uma parte da população que ainda acredita que os fins justificam os meios. Ou seja, o presidente pode ter errado, mas ele combate os inimigos do país e está no caminho certo de fazer do Brasil uma nação desenvolvida e próspera. Só essa combinação ajuda a explicar a defesa apaixonada de um presidente que tem muito a explicar.
Se haverá ou não processo de impeachment, ainda é um pouco cedo para dizer. Depende de uma séria de fatores. Moro tem mais coisa a mostrar que implique o presidente? Quais serão as conclusões do inquérito da Polícia Federal que aponta o 02, Carlos Bolsonaro, como mentor de uma guerrilha digital usada para difamar opositores e aliados? Como ficará a apoio político do presidente no Congresso? Ironia do destino, qualquer processo de impeachment, para tramitar, precisa do aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, justamente quem mais foi atacado por Bolsonaro nas últimas semanas.