O presidente Jair Bolsonaro escolheu o delegado federal Alexandre Ramagem, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para o cargo de chefia da Polícia Federal. Segundo aliados do presidente e integrantes da PF, até a noite desta sexta-feira (24), era certo que ele assumiria a chefia da corporação.
Ramagem assume o lugar de Maurício Valeixo, demitido por Bolsonaro nesta sexta. A exoneração de Valeixo motivou o pedido de demissão de Sergio Moro, agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública.
Ele foi delegado no Rio de Janeiro, trabalhou em inquéritos da Lava-Jato e, mais importante que isso (do ponto de vista político), coordenou a segurança do então candidato Jair Bolsonaro à Presidência da República, em 2018. Ramagem só foi escolhido como chefe da segurança após o atentado sofrido pelo presidenciável.
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é um dos seus principais fiadores e esteve diretamente à frente da decisão que o levou ao comando da agência de inteligência em junho passado.
O aval do "filho 02" foi conquistado durante a crise política que levou à saída do ex-ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto Santos Cruz. Ramagem atuava como assessor especial da pasta e se manteve fiel à família.
Santos Cruz caiu após ataques da ala ideológica do governo e do chamado gabinete do ódio comandado por Carlos Bolsonaro.
Ramagem tem apenas 15 anos de PF. Ele rompeu uma tradição ao ser indicado para a Abin, cargo que era tradicionalmente ocupado por militares – desde que a agência ainda se chamava Serviço Nacional de Informações (SNI). Ele tem confiança do general da reserva Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e um dos padrinhos da candidatura de Bolsonaro à Presidência.
A troca na chefia da PF desagrada a maioria dos delegados federais consultados por GaúchaZH. Não pelo nome de Ramagem, que é bem aceito dentro da corporação, mas pelo fato de a PF estar submetida aos caprichos da política, mais uma vez.
A reportagem ouviu o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva. Ele ressalta que há anos a categoria tenta que o Congresso aprove um projeto que desvincula a chefia da PF dos humores da política. Algo similar ao que acontece com o Ministério Público, no qual a escolha se dá a partir de listas votadas pela categoria — Bolsonaro não respeitou essa tradição ao nomear Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República. Não consegue.
— Teremos hoje o anúncio do quarto chefe da PF em três anos. Não há continuidade possível no trabalho, com essa instabilidade – resume Paiva.
Já a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), que representa 15 mil servidores, pontua que “uma situação de tensão em relação a Valeixo se arrastava desde 2019, com o anúncio de sua possível saída. Ainda assim, Valeixo, um profissional sério e dedicado à Polícia Federal, manteve seu compromisso com os policiais federais até sua exoneração”.
A direção da entidade preconiza que a PF mantenha autonomia e independência nas investigações.
— A Fenapef sempre defendeu que a Polícia Federal é uma polícia de Estado e não de governo e, por isso, acredita e defende que jamais a instituição deve ser atingida por interferências políticas. O presidente da República tem o direito de fazer alterações em sua equipe, mas isso não significa — e garantimos que não irá ocorrer — qualquer tipo de interferência nas investigações criminais da Polícia Federal — afirma o presidente da Fenapef, Luís Antônio Boudens.