A razão maior da demissão de Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal está em investigações que podem chegar ao núcleo da família presidencial. É o que asseguram delegados federais ouvidos por GauchaZH.
Um dos inquéritos criminais, determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), envolve a disseminação de fake news por parte da rede de apoio bolsonarista. A ordem do ministro Alexandre de Moraes é para incluir nessa investigação o estímulo ao fechamento do Supremo e do Congresso, em atos organizados por apoiadores de Jair Bolsonaro dia 31 e no último domingo (19), em todo o país.
A presença de Bolsonaro num desses atos pode ser a porta para impulsionar um pedido de impeachment. O Presidente, desgostoso com essa hipótese, viu a PF acatar o pedido de investigação do STF. Há suspeita de que as fake news desemboquem nos seus filhos. Pelo menos um deles, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, tem um funcionário investigado por disseminar boatos ofensivos ao Supremo e ao Congresso. O corte de Valeixo está embutido nesse contexto.
Isso foi confirmado pelo próprio ministro Sergio Moro, ao anunciar a sua demissão, minutos atrás.
— O Presidente tinha preocupação com esses inquéritos que tramitam no STF.
Bolsonaro também teria se queixado ao ministro Sergio Moro de que falta aos federais agilidade em abrir inquéritos contra supostos desvios de verbas para combater a covid-19 em governos de seus adversários políticos, os governadores João Doria (PSDB, de São Paulo) e Wilson Witzel (PSC, do Rio).
O que talvez Bolsonaro não desse como certo é que Sergio Moro ficasse ao lado do subordinado, se demitindo também. O ministro disse que não teria problema em tirar Valeixo, desde que houvesse um motivo plausível, que não lhe foi apresentado pelo Presidente.
— Houve violação de uma promessa que me foi feita, a carta branca. E não havia uma causa para isso. Haveria também intenção de trocar superintendentes, entre eles o do Rio de Janeiro, sem me apresentarem uma causa. Há uma interferência política na PF, o que gera abalo na credibilidade, no compromisso maior que temos de ter com a lei — reclamou Moro.
O ministro demissionário disse que ainda tentou emplacar Disney Rossetti, diretor-executivo da PF – indicado pelo ministro da Cidadania, o gaúcho Onyx Lorenzoni - , mas não obteve resposta.
O Palácio do Planalto ainda não anunciou o nome do substituto de Valeixo. Entre os nomes cotados estão os delegados Alexandre Ramagem, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e Anderson Torres, atual secretário da Segurança Pública do Distrito Federal.