Além da cloroquina e da hidroxicloroquina, o presidente Jair Bolsonaro já defendeu outro medicamento. No período em que esteve no parlamento, o então deputado conseguiu aprovar um projeto pela liberação da fosfoetanolamina, composto conhecido como pílula do câncer e sem comprovação científica de sua eficácia, em 2016.
Na época, essa medida foi classificada como "populista" pelo oncologista Nelson Teich, nomeado nesta quinta-feira (16) novo ministro da Saúde. O antigo ocupante do cargo, Luiz Henrique Mandetta, também era contra o uso do medicamento sem estudos científicos. Mesmo sancionado, o uso da medicação foi suspenso por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em entrevista ao site Medscape, especializado em notícias médicas e com publicação em cinco idiomas, Teich disse, em maio de 2016, que a autorização para venda da fosfoetanolamina sintética, objetivo do projeto de Bolsonaro e de um grupo de parlamentares, "é uma decisão política e populista que quebra um processo estruturado de avaliação de medicamentos. Uma coisa, porém, precisa ficar clara: você, como médico, está lá para orientar o paciente. Se ele quer fazer uso da substância é um direito dele. O que me preocupa é que somos um país pobre, no qual a saúde não é uma prioridade governamental. Usar algo que não tem comprovação científica é uma escolha individual. O que não acho justo é onerar o sistema público de saúde querendo que o governo distribua a substância. Se o paciente quiser ele tem direito de usar, mas deve pagar por ela com recursos próprios”.
Também deputado em março de 2016, Mandetta foi o responsável por discursar na Câmara contra o projeto de Bolsonaro:
"A maneira como se encaminha esse tema é extremamente perigosa de se fazer ciência. Estamos reduzindo este debate a quem é a favor de curar o câncer e a quem é contra. Já se apropriam da quebra da patente para fazer o preço na coisa pública, mas se esquecem de que a ciência é feita de pesquisa, de que os resultados têm que ser submetidos à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Não se pode liberar uma substância sem saber o seu efeito colateral. Não se pode liberar uma substância sem saber qual é a dosagem para uma criança, para uma pessoa idosa, para uma mulher. Não se pode liberar uma substância sem saber para qual tipo de câncer ela eventualmente estaria indicada", segundo os registros da Câmara, antecipando os embates entre política e ciência que marcaram a relação do ex-ministro e do presidente nas últimas semanas.
Quando o STF decidiu por proibir o uso do composto, a Associação Médica Brasileira apontou que a pílula prometia a cura de diversos tipos de câncer, mas só havia indicativos em casos de pele obtidos em camundongos, considerados ineficientes para a liberação do medicamento.