Ao final do primeiro ano de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, não é difícil para o governo destacar iniciativas em áreas em que o caráter técnico foi dominante.
A maior reforma da Previdência da história foi aprovada, os juros baixaram e houve mudanças em agropecuária, infraestrutura e segurança. Já em áreas em que a ideologia predominou, como educação, ambiente e cultura, foi menos assertivo e ficou marcado por polêmicas ao longo de 2019.
No dia 24, Bolsonaro transmitiu sua mensagem de Natal, com breve balanço das ações de seu mandato. Apostou na receita vitoriosa da última campanha, com mensagem direcionada a seu público cativo. Recheou os minutos em que ficou nas telas e nos alto-falantes do país com destaques a ações dos ministérios, à pauta de costumes e a ataques a adversários.
Durante o ano, manteve bandeiras de campanha e conseguiu emplacar a liberalização na posse de armas, a flexibilização da política ambiental e a ampliação do discurso conservador. Por outro lado, precisou recuar em pontos considerados estratégicos entre os seus apoiadores.
Um deles, a mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém foi para a geladeira após críticas do setor econômico, preocupado em desagradar o mundo árabe, destino importante das exportações do país. Um mea-culpa referente a críticas desferidas contra a China também possibilitou a ampliação dos negócios com o maior parceiro comercial do Brasil.
Não raro, Bolsonaro testa a força de suas declarações, lançando intenções, como a criação de uma garantia de lei e ordem (GLO) exclusiva para o campo, e modulando o discurso conforme a reação da opinião pública.
Pressionado pelo caso do laranjal do PSL – partido pelo qual se elegeu – e por denúncias contra seu filho mais velho – o senador Flavio Bolsonaro (ex-PSL-RJ) é acusado de ter recolhido parte de salários de assessores –, passou a evitar dar entrevistas em eventos no Planalto. Adotou a prática de fazer breves declarações em frente ao Palácio da Alvorada, sempre acompanhado por admiradores, que vibram após ataques à imprensa e a adversários políticos.
No Congresso, ataque à “velha política” e falta de articulação
Ao longo de 2019, a relação entre Planalto e Congresso teve poucos momentos de tranquilidade. O ataque à “velha política” foi entendido como um disparo contra os parlamentares. A composição dos ministérios, negociados com bancadas temáticas em vez de partidos, pouco ajudou a melhorar a relação.
Bolsonaro chegou a ser criticado por aliados, ao centrar seu apoio à pauta de costumes e deixar de defender a cartilha econômica apresentada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
A insistência em emplacar o filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), como embaixador brasileiro nos EUA, além de manter na equipe pessoas com forte influência do guru da família, Olavo de Carvalho, ajudou a afetar seu capital político no parlamento.
Maior bancada aliada na Câmara, o PSL acabou dividido após queda de braço entre Bolsonaro e o cacique da sigla, Luciano Bivar. Com isso, o presidente passou a defender a criação de novo partido, o Aliança pelo Brasil, que ainda não tem registro no Tribunal Superior Eleitoral.
Nesse cenário, cresceu a figura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apontado como o principal fiador da reforma da Previdência, auxiliado por uma quebra de discurso do Planalto, que liberou recursos para emendas e cargos em nome de sua principal aposta econômica.