Um dia depois das reações de representantes do Congresso e do Judiciário, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também condenou nesta quarta-feira (27) a declaração do ministro da Economia Paulo Guedes sobre a possível edição de um novo AI-5 no país em caso de radicalização de protestos de rua. Em rede social, o parlamentar afirmou que uma declaração a qual remonte ao retorno do AI-5 é "inadmissível", destacando que "o caminho para a prática da democracia é o respeito ao país".
O Ato Institucional número 5 foi editado em 1968, no período mais duro da ditadura militar (1964-1985), resultando no fechamento do Congresso Nacional e renovando poderes conferidos ao presidente para cassar mandatos e suspender direitos políticos.
Na segunda-feira (25), em Washington, nos Estados Unidos, Guedes afirmou que não é possível se assustar com a ideia de alguém pedir o AI-5 diante de uma possível radicalização dos protestos de rua no Brasil. A fala do ministro da Economia provocou reação de setores do Congresso e do Judiciário logo no dia seguinte, incluindo manifestações de repúdio do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Alcolumbre não havia comentado a declaração de Guedes — nem por meio de nota nem ao fazer um pronunciamento a jornalistas sobre prisão em segunda instância, no qual não possibilitou perguntas.
Na terça (26), durante palestra, Guedes voltou ao tema, classificou manifestações de rua como "uma bagunça, uma convulsão social" e pediu uma "democracia responsável" no país. O ministro disse que as pessoas podem sair às ruas para reclamar seus direitos, desde que isso seja feito de forma pacífica. Caso contrário, afirmou, podem assustar investidores.
— Eu acho que devemos praticar uma democracia responsável. Sabe como jogar o jogo da democracia? Espere a próxima eleição. Não precisa quebrar a cidade. Acho que isso assusta os investidores, acho que não ajuda nem a oposição, é estúpido — disse.
— Estamos transformando o Estado brasileiro. É um trabalho difícil. O que vocês estão ouvindo "é uma bagunça, convulsão social", não prestem atenção. Há uma democracia vibrante, a democracia brasileira nunca foi tão forte, poderosa, vibrante, não há escândalo de corrupção, os crimes caíram — completou.
A declaração de Guedes fez referência à convulsão social e institucional em países da América Latina e a uma possível radicalização também no Brasil, motivada principalmente por declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, após ser solto, pediu "a presença do povo nas ruas".
O ministro afirmou na segunda-feira que declarações sobre a edição de um novo AI-5 no Brasil, como a feita por um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), são uma reação ao que chamou de convocações feitas pela esquerda.
— Chamar o povo para a rua é de uma irresponsabilidade. Chamar o povo para a rua para dizer que tem o poder, para tomar. Tomar como? Aí o filho do presidente fala em AI-5, aí todo mundo assusta, fala o que que é? (...) Aí bate mais no outro. É isso o jogo? É isso o que a gente quer? Eu acho uma insanidade chamar o povo para a rua para fazer bagunça. Acho uma insanidade — disse Guedes.